Autor original: Mariana Hansen
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Um quarto de século promovendo e facilitando a interconexão entre grupos de mulheres em todo Brasil. É o que comemora a Rede Mulher de Educação (RME), uma rede de serviços em educação popular feminista, criada em 1980, no contexto da luta pela redemocratização dos países latino-americanos. "Não se pode falar em democracia, sem inserir a questão da equidade de gênero e étnico-racial. Essas desigualdades é que vão limitar as oportunidades e o poder das pessoas na sociedade", explica Vera Vieira, coordenadora executiva. A idéia do trabalho em rede, a fim de agilizar os processos de articulação e formação de mulheres em todo país, foi pioneiro quando a RME foi fundada. Segundo Vera, "hoje, todo mundo fala da importância de trabalhar em rede, mas não naquela época".
A Rede está estruturada no tear e na trama. Segundo o site da RME é por meio do tear que se tece a trama, mas é na trama que o tear encontra a sua razão de ser. Vera Vieira explica melhor: "A Rede Mulher é uma ONG, que funciona como o tear, com sede em São Paulo; a trama é o conjunto, a rede de 23 sócias-educadoras espalhadas por oito estados brasileiros, ligadas a grupos focais – ou pontos focais - com os quais são priorizadas as ações, nas áreas rurais e urbanas".
A RME tem atuado em atividades de formação, pesquisa, comunicação e articulação. A intenção é promover o fortalecimento e o desenvolvimento de competências técnicas e políticas de pessoas, grupos e organizações. O foco principal de todas as ações da Rede são as questões do gênero e da liderança. A metodologia é baseada na participação crítica e criativa de cada pessoa no processo de transformação social; na análise da inter-relação entre o cotidiano, o local e o global como espaço de luta política, além da promoção da auto-estima. As ações são feitas junto a mulheres e homens, de grupos e instituições mistas, comprometidos com relações humanas sem nenhum tipo de subordinação e/ou dominação. Todos esses pontos têm o objetivo de fortalecer a capacidade de enfrentamento das desigualdades de gênero, a superação do sexismo nas organizações e a valorização das diferentes contribuições femininas à sociedade.
Atualmente, os três eixos de trabalho são a formação, a educomunicação e o empoderamento. No primeiro, é feita sistematização e desenvolvimento de metodologias; formação continuada de formadores e formadoras, de lideranças transformadoras rurais e urbanas; serviços de assessoria; intercâmbio e, finalmente, produção de materiais educativos.
No eixo de educomunicação são desenvolvidos: trabalho em rede, serviços de interconexão, leitura crítica dos meios de comunicação, o Informativo Cunhary, a RME na web e estímulo à apropriação das novas tecnologias para se trabalhar questões de gênero. No último eixo, trabalha-se o empoderamento institucional de organizações de mulheres, metodologias de gênero e planejamento, análise de gênero no ciclo de projetos e o desenvolvimento de redes institucionais, além da articulação interinstitucional.
Os Pontos Focais da rede tecida pela RME já existem em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Bahia, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Trata-se de entidades com as quais a RME prioriza suas ações de capacitação, intercâmbio e realização de projetos e atividades conjuntas. São uma força de articulação, oferecendo apoio de infra-estrutura local e, especialmente, têm a capacidade de multiplicar os conteúdos e resultados das capacitações recebidas.
A proposta da Rede inclui também o exercício de uma visão crítica da realidade com base no cotidiano, atuando com mulheres urbanas e rurais, grupos de assessoria e pesquisa, ONGs e movimentos sociais. Outra meta é implementar uma rede de apoio à auto-organização das mulheres para que suas ações apontem para a transformação, e desenvolver projetos educativos para facilitar a articulação delas em torno de relações mulher/homem na sociedade. Para chegar a esse objetivo, a RME oferece cursos – com conteúdos e metodologias adaptadas conforme o perfil e a demanda dos grupos requisitantes, oficinas e, assessorias e consultorias para grupos, entidades e empresas sempre sob a ótica das relações sociais de gênero.
Segundo Vera Vieira, investir nas mulheres significa promover a igualdade com justiça social, por meio da valorização e da participação delas. E as nações que promovem os direitos das mulheres têm menores taxas de pobreza, crescimento econômico mais rápido e menos corrupção do que os países em que as mulheres são tratadas com maior desigualdade.
Na trama de bons exemplos da Rede Mulher de Educação, não faltam casos de sucesso. Em uma avaliação da atuação da Rede e dos progressos na situação da mulher, a coordenadora diz que a "RME é parte do conjunto de organizações do universo feminista que conseguiram pautar o tema no mundo e alterar a condição da mulher na sociedade". Que mais mulheres caiam na rede.
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