Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
Em uma definição resumida, tecnologias sociais são soluções criadas para resolver determinada demanda ou dificuldade, causando, com seu uso, uma transformação social. São a tradução prática da capacidade de improviso e adaptação dos brasileiros. Essas soluções - técnicas, metodologias etc. - geralmente têm baixo custo de implantação, fácil aplicação e capacidade de elevar o nível de ocupação e renda das populações mais pobres. É comum surgirem em pequenas comunidades e serem usadas em escala reduzida - apenas para solucionar a dificuldade que provocou seu surgimento - apesar de poderem ser bem utilizadas em outros contextos ou locais. É justamente por causa da percepção deste potencial que acaba de surgir a Rede de Tecnologia Social (RTS).
Integrada por órgãos do governo e instituições não-governamentais, a RTS surgiu a partir da articulação de seis das atuais mantenedoras da rede: Fundação Banco do Brasil (FBB), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Instituto Ethos, Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Petrobras e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Entidades que queiram se associar à RTS podem fazê-lo através do site da iniciativa [o endereço está disponível em Links Relacionados, na coluna ao lado].
A intenção da nova rede é articular e integrar instituições a fim de promover o desenvolvimento sustentável com a difusão e a reaplicação, em escala, de tecnologias sociais. "O objetivo é reaplicar as tecnologias sociais, fazendo chegar à ponta as tecnologias que geram trabalho e renda e provocam a melhoria da qualidade de vida da população", explica Rodrigo Rolemberg, secretário de Inclusão Social do MCT. Segundo ele, existe uma série de experiências de desenvolvimento e aplicação de tecnologias sociais que, por não serem aplicadas em escala, acabam não executando todo seu potencial. "Disseminando essas tecnologias, podemos promover uma verdadeira revolução silenciosa no país", acredita.
O doutor em economia e professor Ladislau Dowbor tem opinião semelhante. Ele vem dando apoio técnico à RTS, com participação nas discussões e elaboração de pré-projetos. Para Dowbor, "as diversas instituições que acompanham estas iniciativas mostram que, pelo Brasil afora, há grupos de pessoas que pararam de esperar milagres de cima, seja privados ou públicos, arregaçaram as mangas e buscaram formas inovadoras de gestão econômica e social. Como ordem de grandeza, temos mais de 10 mil experiências deste tipo cadastradas no país. As pessoas tendem a ver apenas a grande empresa, ou a grande política. Mas o pequeno, quando multiplicado, vira grande".
A RTS é composta por um grupo de 13 instituições gestoras responsáveis pelo investimento, aplicação das tecnologias, busca de parceiros e divulgação. Além das entidades mantenedoras já citadas acima, existem mais duas: a Caixa Econômica Federal e o Ministério do Desenvolvimento Social. Cada uma dessas instituições, para se tornar uma mantenedora, doou R$ 2 milhões. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, a rede já captou R$ 20 milhões, sendo R$ 14 milhões para aplicação neste ano. O dinheiro servirá para garantir que as tecnologias sociais sejam reaplicadas, ou seja, difundidas e implementadas em diferentes contextos e oportunidades.
Existem também instituições integrantes da RTS com a função de fazer a articulação de redes sociais. Essa responsabilidade fica a cargo majoritariamente das ONGs envolvidas. São elas: Associação Brasileira de ONGs (Abong), Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA), Instituto Ethos, Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras e Grupo de Trabalho Amazônico (GTA).
Uma das principais metas da Rede de Tecnologia Social é ver as tecnologias sociais apoiadas transformando-se - ou ao menos influenciando - em políticas públicas. Ou seja: transformar as boas idéias em práticas oficiais. "É importante fortalecer as políticas públicas já existentes, valorizando a efetividade das tecnologias sociais para a inclusão social. Temos que difundi-las".
Para uma primeira fase do projeto, foram selecionadas algumas tecnologias sociais, que receberão recursos já neste ano. Barraginhas, Mandallas e Descaroçadores de Algodão (tecnologias adaptadas ao semi-árido). Na região Amazônica, os recursos serão aplicados em projetos de agroextrativismo e fruticultura. Nos bolsões de pobreza das grandes cidades, incubadoras de empreendimentos solidários e catadores de materiais recicláveis terão prioridade. "Ficou definido que serão privilegiados projetos das regiões Norte e Nordeste e as periferias dos centros urbanos", explica Rolemberg.
O sistema Barraginhas consiste na captação de águas superficiais da chuva por intermédio da construção de barraginhas contentoras de enxurradas. O processo combate a avanço da degradação do solo, evitando a desertificação. O Sistema Mandalla de produção Permacultural evita o desperdício de água e aumenta o aproveitamento das potencialidades agrícolas locais, com o uso de canteiros concêntricos construídos em torno de um tanque circular. As incubadoras de empreendimentos solidários são projetos desenvolvidos com o apoio de universidades públicas e privadas para a constituição de cooperativas formadas por moradores de comunidades carentes.
É com iniciativas como essas que - reaplicando-as ou provocando o surgimento de novas - pretende-se chegar ao objetivo principal da rede: promover o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida da população de baixa renda. E, como enfatiza Dowbor, "o desenvolvimento não é algo que se espera, é algo que se faz. E cabe a nós, da rede, assegurar o apoio para que os que querem desenvolver ou já desenvolvem iniciativas encontrem um ambiente favorável: apoio tecnológico, financiamento, informações comerciais, divulgação e assim por diante".
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