Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
![]() Carlos Antônio/Rits | ![]() |
“Temos certeza de que vamos fazer com que eles nos ouçam”, declarou, sob muitos aplausos, Sônia Regina Gonçalves, presidente da Associação de Mulheres e Amigos do Morro do Urubu (Amamu), durante o lançamento da Rede de Comunidades Saudáveis do Estado do Rio de Janeiro, ocorrido na terça-feira, 10 de maio, no Teatro João Caetano, na capital fluminense. Eles, a quem Sônia se refere, são os representantes do poder público. Um dos objetivos da Rede de Comunidades Saudáveis, que pretende articular e fortalecer redes sociais de favelas e bairros das periferias, é justamente o aumento da visibilidade de ações positivas de moradores de comunidades populares.
Iniciativa do Centro de Promoção da Saúde (Cedaps) - inspirada no movimento internacional de Comunidades/Cidades Saudáveis, da Organização Mundial de Saúde (OMS) - a rede reúne representantes de mais de 60 comunidades do estado. Pelos dados do Cedaps, o trabalho dos participantes da rede atinge diretamente 115 mil pessoas. A Rede de Comunidades Saudáveis conta ainda com o apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), da Fundação Ford e da Fundação Dreyfus Health.
A idéia da rede surgiu no início deste ano, a partir do reconhecimento do isolamento dessas ações sociais, mas é, também, a culminação de um processo de 12 anos de trabalho do Cedaps, enfatizou Daniel Becker, diretor da entidade, durante o lançamento. Desde 1993, o Cedaps apóia e assessora lideranças, grupos e associações representantes de comunidades populares que, com muita disposição e solidariedade, atuam no sentido de promover saúde nos locais em que vivem.
Saúde, nesse caso, entendida “na sua integralidade, para além das doenças, abrangendo as diversas dimensões humanas e sociais vinculadas à qualidade de vida”, de acordo com a posição final do 1º Fórum Social Mundial da Saúde, realizado em janeiro deste ano. Comunidades saudáveis são, portanto, aquelas onde os moradores buscam melhorar seu ambiente físico, vida social, cultural e econômica e assumem um papel ativo na solução de seus principais problemas, conquistando direitos e bens sociais.
A constituição da Rede de Comunidades Saudáveis é, ao mesmo tempo, o início de um novo processo, pois vai reorganizar o trabalho com as comunidades populares, segundo o diretor do Cedaps. “É uma outra possibilidade de mudança social. Vamos mostrar que essas comunidades têm muito o que ensinar para o asfalto”, declarou.
O Cedaps vai viabilizar trabalhos de capacitação, sistematização das ações já em andamento, construção de bancos de dados, encontros e troca de experiências para potencializar as diversas ações e integrá-las na dimensão da rede. Assim se espera que líderes comunitários tenham mais capacidade de negociar recursos e apoios com órgãos governamentais e privados. A proposta da Rede de Comunidades Saudáveis não é desviar os olhos dos problemas da favela, mas olhá-los com otimismo.
“Dentro das comunidades não existem só coisas ruins, existem muitas coisas boas, mas não somos olhados. Nós estamos aqui para mostrar os trabalhos que são feitos dentro das comunidades”, ressalta Sheila Fortunato, representante da Associação de Mulheres e Amigos da Cachoeirinha. Sheila, que já atuou em um núcleo de prevenção às DST/aids na comunidade em que mora, organiza atualmente encontros para discutir assuntos como violência doméstica e melhorar a auto-estima das mulheres.
Assim como Sheila, outras lideranças que compõem a rede querem mudar o olhar do poder público, da imprensa e da sociedade em geral sobre as comunidades onde vivem e sobre seus moradores, conquistar atenção e respeito em relação ao trabalho que implementam nesses locais, e estimular o desenvolvimento de políticas públicas com a participação comunitária.
“Comunidade não tem só tráfico e violência”, protesta Tânia Alexandre, representante da Associação de Mulheres de Edson Passos. A expectativa em relação à rede é grande: “Esperamos ter contatos com os governos, porque hoje a gente não tem acesso a eles. Queremos conseguir todas as parcerias possíveis para melhorar um pouco mais as condições de vida da nossa comunidade”, torce.
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