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Mães ativas

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Mães ativas
Divulgação

Jovens mães de diversas partes do país dividem seus sonhos e projetos de vida num espaço localizado em Araçoiaba da Serra, em São Paulo. O espaço, voltado para o acolhimento de mães adolescentes em situação de risco social e seus filhos, é mantido pela Associação Lua Nova, cuja missão é resgatar a auto-estima, a cidadania, o espaço social e o direito à maternidade das jovens mães. O centro de acolhimento oferece abrigo temporário, atendimento psicoterápico, assistência à saúde, reforço escolar, cursos profissionalizantes e atividades de geração de renda.

Antes de abrir o espaço para atender jovens mães em situação de risco, a psicóloga Raquel Barros, presidente da Lua Nova, participou do Projeto Quixote, no qual se aproximou da realidade com a qual desejava atuar. “Eles faziam um trabalho de aconselhamento de meninas, e aí vi a demanda imensa desse público no estado”, conta.

Hoje, com o apoio de diversas instituições nacionais, internacionais e do governo, a Associação Lua Nova acolhe 25 residentes, além de 47 meninas que trabalham com as atividades de geração de renda e na própria equipe da entidade. As idades variam, podem ir de 13 a 26 anos. Em geral, elas chegam em situação de moradia de rua, prostituição, abuso sexual e uso de drogas. Participam de reuniões semanais sobre maternidade, drogas e cidadania, entre outros assuntos, e núcleos de geração de renda, como a produção de bonecas artesanais. Quando saem do projeto, após oito meses, em média, as meninas estão envolvidas em alguma atividade de geração de renda e continuam sob acompanhamento da equipe, segundo Raquel Barros.

“Nosso trabalho se baseia na co-gestão participativa. Elas mesmas administram o espaço e participam da triagem de novas integrantes. Por isso preferimos dizer que não são assistidas pela instituição, mas são parceiras dela”, explica Raquel. O mesmo processo se dá na elaboração do projeto de vida de cada jovem. “Na triagem – feita por uma psicóloga, uma assistente social e duas residentes – perguntamos o que elas podem dar à entidade em troca do acolhimento. De início, muitas dizem que não servem para nada, mas aos poucos questionamos o que podem fazer, e elas acabam descobrindo suas capacidades”.

As meninas são incentivadas a ajudar, seja na parte administrativa (cabe às residentes a responsabilidade pela manutenção e pelas tarefas da casa), na montagem de uma proposta de geração de renda ou no processo de elaboração de projeto de vida de outras meninas.

Projeto de vida

A equipe procura mapear sonhos, projetos, competências e recursos de cada jovem e analisa as suas reais possibilidades de superação da exclusão social. “Elas chegam com alguma idéia de ganhar dinheiro, ter uma profissão. A idéia na Lua Nova é ir detalhando esses sonhos e apoiá-las no seu planejamento de reinserção social”, afirma Raquel.

A percepção da maternidade, encarada inicialmente como um problema para as adolescentes, é utilizada para ajudar na elaboração dos projetos. “Muitas meninas foram rejeitadas pela família e, em geral, os filhos não foram queridos – mais da metade foi gerada em situação de violência. Mas o filho acaba sendo a única proposta de vida que têm, o único estímulo para construir uma meta. Por isso buscamos valorizar a maternidade”. Além de passar a importância de cuidados práticos e de higiene com os filhos, a equipe da Lua Nova procura mostrar o prazer da maternidade e mudar a relação entre mães e filhos.

A própria experiência de vida delas também é utilizada como potencial. As meninas que participam do grupo de teatro usam sua experiência com drogas e gravidez precoce para fazer um trabalho de prevenção nas escolas.

Construção

O espírito de co-participação e autonomia e de busca de caminhos alternativos de superação da exclusão rendeu à Associação Lua Nova o primeiro lugar da edição deste ano do Prêmio Empreendedor Social Ashoka-McKinsey. A entidade venceu com um projeto pelo qual as meninas-mães são capacitadas para construir suas casas a partir da fabricação de tijolos ecológicos. O plano propõe a venda dos tijolos fabricados pelas meninas e também o serviço de assistência (prestado por elas) na construção das casas populares. Além da Ashoka, o projeto conta com a parceria da Habitat para a Humanidade, da Universidade de Sorocaba, da Ação Moradia, da Caritas e da Unesco, entre outras organizações.

Uma casa já está pronta. A próxima meta é fazer um mutirão para a construção de mais oito casas até o final deste ano. Para 2006, a proposta é criar um fundo de crédito para que as meninas da Lua Nova e outras mulheres da comunidade possam comprar as casas. Esta iniciativa pretende diminuir o tempo no abrigo. “Tendo o seu próprio espaço, elas podem se organizar melhor interiormente e planejar melhor suas vidas”, diz Raquel.

Mariana Loiola

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