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Apelo contra a negligência fatal

Autor original: Joana Moscatelli

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Apelo contra a negligência fatal
WHO/TDR/Crump

A cada dia, 35 mil pessoas morrem vítimas de doenças como leishmaniose, malária, doença do sono e doença de chagas. São enfermidades que atingem principalmente populações pobres de países em desenvolvimento e que não atraem o interesse das grandes empresas farmacêuticas. De acordo com dados da organização Médicos Sem Fronteira (MSF), 90% dos recursos destinados a pesquisas farmacológicas são voltados para problemas que atingem 10% da população mundial.

Buscando reivindicar um maior comprometimento dos governos mundiais na formulação de políticas públicas de combate às chamadas doenças negligenciadas, a Fundação Drugs for Neglected Diseases Initiative (DNDI), em parceria com outras organizações civis, recolhe assinaturas em todo o mundo para uma petição pública internacional. O documento será entregue aos governos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento e organismos internacionais como o G8 (grupo formado pelos países mais ricos do mundo).

O lançamento coletivo da campanha aconteceu simultaneamente, no dia 8 de junho, nas cidades de Londres (Inglaterra), Kuala Lampur (Malásia), Rio de Janeiro (Brasil), Paris (França), Nova Déli (Índia), Toronto (Canadá), Nairóbi (Quênia) e Genebra (Suíça). O objetivo é estimular o investimento público em remédios, vacinas e diagnósticos de doenças negligenciadas.

Segundo informações da DNDI, ao mesmo tempo em que medicamentos sofisticados são desenvolvidos para uma grande variedade de doenças, outras têm sido progressivamente marginalizadas. Pessoas continuam sendo vítimas de doenças negligenciadas e permanecem sendo tratadas com remédios ultrapassados, ineficientes e, muitas vezes, tóxicos.

Michel Lotrowska, coordenador do DNDI, afirma que deve haver uma mudança na forma de financiamento das pesquisas, que atualmente são promovidas, em sua maioria, por empresas mais interessadas nos lucros do que na troca de informações e técnicas que ajudem a controlar essas enfermidades.

O esforço global para cuidar das doenças negligenciadas permanece desigual e com financiamento bem abaixo do necessário, dependendo, em grande parte, de doações de caridade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda precisa dar a devida prioridade ao assunto.

Para Lotrowska, o descaso da OMS é um retrato do que os líderes mundiais pensam a respeito do assunto. É fundamental sensibilizar os governos para que priorizem as pesquisas sobre doenças negligenciadas. Além de financiamento, são necessárias leis que incentivem as pesquisas, liberalizando a questão das patentes e de marcos regulatórios que acelerem a produção de medicamentos essenciais.

O apelo por pesquisa e desenvolvimento enfatiza que, a despeito da ciência e do conhecimento, a liderança pública é indispensável para catalisar a geração de medicamentos, vacinas e diagnósticos seguros, efetivos e financeiramente acessíveis para todos.

O apelo pretende recolher assinaturas e ampliar o apoio de cientistas, pesquisadores, personalidades e do público em geral para pressionar os governos a tomarem ações concretas no combate ao problema. Entre os já signatários da petição figuram 17 vencedores do Prêmio Nobel. A campanha fará também captação de recursos para financiar pesquisas de medicamentos para doenças negligenciadas.

A petição pode ser assinada nos sites www.dndi.org.br e www.researchappeal.com. O documento será apresentado em maio de 2006, na Assembléia Mundial da Saúde, que acontece todos os anos, em Genebra, Suíça.


Joana Moscatelli

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