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Iser: 35 anos de conhecimento e articulação social

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Iser: 35 anos de conhecimento e articulação social
Fotomontagem

Uma parte significativa da história da organização da sociedade civil no Brasil pode ser contada a partir da trajetória do Instituto de Estudos da Religião (Iser). Integrante de uma geração de ONGs que, desde a ditadura, permanece ativa na luta do movimento popular pela cidadania e pelos direitos humanos no país - e, em especial, no Rio de Janeiro - o Iser está completando 35 anos.

Fundado em 1970 na cidade de Campinas, por teólogos e pesquisadores interessados nas relações entre religiosidade e transformação social, o Iser foi transferido para o Rio em 1979, e hoje atua nas áreas de religião e sociedade, violência e direitos humanos, sociedade civil e meio ambiente.

No Iser, explica a pesquisadora Regina Novaes, faz-se um tipo singular de intervenção social, que combina pesquisa, avaliação de programas sociais e formação/capacitação de pesquisadores, gestores e militantes - “no sentido bem amplo do termo: gente que tem uma causa”, detalha. O objetivo central é a proposição de agendas e a qualificação dos debates públicos, a divulgação ampla do conhecimento produzido e o estímulo ao diálogo entre os diferentes setores e grupos da sociedade. “Neste trabalho, o que se busca é combater os preconceitos, discriminações, violência física e simbólica, por meio do incentivo às interlocuções e pactuações sociais”.

Regina Novaes, que já foi dirigente da instituição e atualmente é consultora de alguns projetos do Iser, lembra as diversas fases em que participou da entidade. “Fomos nos transformando no decorrer dos anos. Já fomos mais numerosos e tivemos bastante experiência de trabalho de base: programas voltados para mulheres, prostitutas, movimentos negros, pessoas com aids, cadeias e presos comuns etc. Alguns destes programas viraram ONGs autônomas e o Iser ficou menor, focalizando mais seus nos objetivos de contribuir para o fortalecimento de interlocuções entre diferentes atores, redes e de outras organizações da sociedade civil”, conta.

A grande vigília pela paz mundial, organizada pelo Iser durante a realização da Conferência Mundial da ONU para o Meio-Ambiente (ECO-92), em 1992, foi um dos marcos da instituição. O evento reuniu, no Aterro do Flamengo, lideranças mundiais e comunidades locais de diversas tradições religiosas. “Na época foi muito impactante diferentes tradições religiosas reunidas no mesmo palco em torno do ideário ecológico. Este evento ilustra bem o jeito de ser da instituição”, lembra Regina.

Um dos documentos mais importantes resultantes da ECO-92, a Agenda 21 se tornou uma bandeira do Iser. Em 1994, o instituto convocou um seminário e passou a coordenar um movimento de pessoas e organizações chamado Comissão Pró-Agenda 21. A partir dessa iniciativa criaram-se programas da Agenda 21 Local, conforme recomendação das Nações Unidas. O Iser também participou da elaboração da Agenda 21 brasileira e, atualmente, integra com outras 80 organizações o Fórum Municipal da Agenda 21.

ONGs e políticas públicas

Uma das principais articulações realizadas pelo Iser foi em torno do Projeto Se Essa Rua Fosse Minha, no Rio de Janeiro, que reuniu o Iser, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) e o Instituto de Ação Cultural (Idac). O projeto congregou múltiplas ações: pesquisa sobre meninos e meninas em situação de rua, um disco com a participação de artistas e ações para transformar os preconceitos e as reações dos meninos e dos moradores da cidade. “Nem tudo deu certo, é óbvio. Mas muita generosidade e muitas boas idéias circularam por ali”, revela Regina. O Se Essa Rua Fosse Minha tornou-se uma ONG independente e segue até hoje com um trabalho junto a jovens.

Outra ONG autônoma que surgiu a partir do trabalho do Iser foi a Iser/Assessoria, que atua com pesquisa e consultorias para movimentos populares pelo Brasil afora. A fundação da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong) também contou com a participação do Iser.

As pesquisas sobre violência urbana e populações jovens em situação de risco no Rio de Janeiro, no início dos anos 90, também levaram à criação de uma ONG. “Daí nasceu o Viva Rio. Assim como as primeiras formulações sobre o tema feitas por Rubem César Fernandes e Luiz Eduardo Soares”. Foi também a partir das pesquisas do Iser que o Viva Rio resolveu engajar-se na luta pelo desarmamento. Hoje, o Iser é um dos principais centros de assessoria e pesquisa do país na área de violência, segurança pública e direitos humanos. Essas pesquisas contribuíram ainda - ao lado de outras instituições nacionais - para a formulação da Política Nacional de Juventude.

“Fomos nós que, pioneiramente, começamos a tratar do tema da segurança pública e cidadania, combatendo a idéia de que segurança é questão para o Estado resolver”, enfatiza Samyra Crespo, atual secretária executiva do Iser.

Para os próximos anos, diz Samyra, a estratégia da instituição aponta em três direções: permanecer apostando nas estratégias de resgate da população jovem das periferias urbanas e das favelas; continuar a oferecer instrumentos e ferramentas que possam fortalecer os atores locais e as ONGs; e apostar nas políticas públicas que favoreçam a inclusão e a democracia.

“Temos uma sociedade civil que ainda precisa ser fortalecida e estabelecer laços mais duradouros com a idéia de que a sociedade é mais importante do que o Estado”, finaliza.

Mariana Loiola

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