Autor original: Joana Moscatelli
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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Usar a internet como um instrumento de pesquisa e como meio de divulgação de informações sobre a saúde e a sexualidade dos jovens brasileiros. Esse foi o objetivo do projeto Jovens na Rede, desenvolvido por professores da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, em parceria com a organização não-governamental Ipas, que promove ações na área de direitos sexuais e reprodutivos.
O projeto foi implementado no Rio de Janeiro nos anos de 2003 e 2004 e teve duração de 17 meses. Durante esse período, foram entrevistados estudantes de cinco escolas públicas na faixa de 12 a 18 anos. Os alunos pesquisados foram selecionados de acordo com critérios de gênero, idade e etnia.
A intenção do estudo era utilizar a web como uma ferramenta metodológica de pesquisa em lugares que não possuíam muita infra-estrutura tecnológica. As escolas receberam computadores, para que os alunos pudessem responder usando a internet as perguntas do estudo sobre suas vidas e sua saúde. Na medida em que os alunos terminavam de responder, tinham a possibilidade de aprender sobre temas de saúde através da internet.
Segundo a coordenadora do projeto nos EUA, Ellen Mitchell, além de ser um meio mais barato, a internet permite uma flexibilidade e uma segurança para os pesquisados que nenhuma outra ferramenta de pesquisa oferece. O projeto foi uma oportunidade de explorar temas sexuais e de saúde reprodutiva complexos utilizando um meio que os jovens dominam. “A internet é vista como um espaço de liberdade e sinceridade para os jovens, um lugar mais seguro, onde eles podem expressar suas dúvidas, opiniões, interesses valores e esperanças sem precisar se identificar”, afirma Mitchell.
O estudo defende que saber ouvir e entender as perspectivas dos jovens é um ponto de partida para enfrentar os dilemas que eles enfrentam atualmente. O projeto pretende servir de subsídio e encorajamento aos ministérios da Educação e da Saúde, assim como aos pais e às organizações não-governamentais do país, para o fornecimento de respostas eficazes em termos de diretrizes, orientação e programas de prevenção e intervenção para atender às necessidades da juventude.
No Rio, o projeto enfrentou várias dificuldades, como problemas de infra-estrutura e burocracia das escolas públicas estaduais e federais. Greves e más condições dos prédios onde funcionam as escolas foram alguns dos problemas típicos do ensino público brasileiro que o projeto teve que superar. Outro grande problema foi a evasão escolar. Segundo Mitchell, pelo menos 30% dos pesquisados tiveram que abandonar o estudo por não freqüentarem mais a escola, pelos motivos mais variados.
Demanda por mais informações na área
A pesquisa constatou que existe uma grande demanda dos adolescentes por informação sobre sexualidade – 97% dos alunos querem saber mais –, uma vez que fazem parte de sua realidade problemas relacionados a esse tema. Segundo o estudo, 45% dos adolescentes têm colegas que fizeram aborto e 70% conhecem alguém da mesma idade que esteja grávida. São números que comprovam a necessidade de uma política educacional sobre sexualidade voltada para os jovens brasileiros.
O estudo revela que os estudantes ainda encontram obstáculos ao acesso a serviços e informações importantes relacionados à saúde. Eles mostram confusão a respeito da legislação nacional sobre o aborto, contracepção de emergência e muitas nuances da sociedade relacionadas à saúde sexual e reprodutiva. Além disso, os jovens relatam que existem políticas locais da cidade do Rio que criam barreiras para o acesso a métodos preventivos. A distribuição de camisinhas na cidade do Rio de Janeiro só é permitida através dos postos de saúde, o que dificulta o acesso aos métodos contraceptivos. Além disso, a contracepção de emergência não é distribuída gratuitamente pelo município.
O projeto foi finalizado em 2004 e está em fase de disseminação de resultados e reflexão. Segundo Ellen, há um interesse da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro e da Unesco no acesso à metodologia utilizada e aos resultados obtidos no estudo.
Principais problemas dos jovens nas escolas
O estudo mostrou que os jovens cariocas possuem uma maior conscientização dos perigos do HIV e da gravidez precoce, quando comparados com jovens em outros países. No entanto, a presença de gangues, intimidação sexual e discriminação continuam a ser os principais problemas enfrentados pelos adolescentes na escola. Esse fato reflete uma necessidade de um esforço maior para melhorar o ambiente escolar de minorias sexuais e de jovens que não atendem aos critérios rígidos de beleza.
Além disso, os jovens precisam enfrentar outras questões, como a violência urbana e a exposição às drogas. De acordo com eles, a violência diária afeta suas vidas, influenciando e até determinando o que eles fazem e quando eles saem.
Outra grande preocupação dos adolescentes é a qualidade da educação e a falta de perspectivas no mercado de trabalho. Para eles, a falta de melhores condições educacionais é um fator determinante para o seu envolvimento com drogas, crimes, sexo comercial e gravidez não desejada.
Impacto da pesquisa sobre o conhecimento dos jovens sobre saúde e sexualidade
Muitos participantes relatam que após o estudo adquiriram maior autoconhecimento, além de terem desenvolvido o pensamento crítico e habilidades de comunicação e informática. A maioria dos alunos (59%) disse ter aprendido algo sobre formas diferentes de evitar e lidar com a gravidez não-desejada e sobre a utilização da internet como forma de obter informações sobre saúde e sexualidade. Segundo eles, a participação no programa os tornou mais conscientes dos riscos envolvidos na relação sexual sem proteção.
Participaram do estudo a Escola Técnica Estadual República, de ensino médio, e a Escola Estadual de Ensino Fundamental República, ambas da rede Faetec; o Colégio de Aplicação da UFRJ e duas Escolas de Informática e Cidadania, mantidas pelo Comitê para Democratização da Informática (CDI) e que atende alunos das escolas públicas estaduais. Além do Rio, Nairóbi, no Quênia, também implantou o projeto em suas escolas da área urbana.
Atualmente, está disponível na internet um portal com informações sobre saúde e sexualidade dos adolescentes desenvolvido pelo projeto. O nome é Jovens na Rede, e o endereço está na área de Links Relacionados desta página.
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