Autor original: Joana Moscatelli
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
![]() Divulgação | ![]() |
Direito à comunicação significa muito mais do que apenas liberdade de expressão. Ao falar em comunicação como direito humano devemos pensar em livre acesso aos meios de produção, ou seja: que não só uma pequena parte da sociedade, mas toda ela, seja capaz de produzir e consumir conhecimento de forma crítica e consciente.
E é em uma pequena cidade do interior do Ceará que se desenvolve uma das experiências mais significativas no campo da relação entre comunicação e cidadania no Brasil. Trata-se da Fundação Casa Grande - Memorial Homem Kariri, uma escola de gestão cultural que busca educar crianças e adolescentes do sertão através de programas que envolvem a Memória, Comunicação, Artes e Turismo.
A experiência demonstra o potencial transformador dos meios de comunicação. Desenvolvida em Nova Olinda, situada no Vale do Cariri, Chapada do Araripe, a iniciativa é hoje um exemplo prático de como a comunicação pode contribuir para a melhoria das condições de vida das pessoas promovendo a participação social e cultural de cada indivíduo.
O casal Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde realizavam uma pesquisa musical sobre as lendas do povo Kariri, primeiros habitantes da Chapada do Araripe. A partir dessa experiência, sentiram a necessidade de criar um espaço que resgatasse a memória e cultura desse povo, seus artefatos pré-históricos, os lugares sagrados e as grutas com registros rupestres. Assim, no ano de 1992, nasceu a Fundação Casa Grande.
É preciso conhecer suas história e cultura para que se possa compreender como foi construída a realidade em que se vive. A idéia é o que motiva o Memorial do Homem Kariri a estudar e exibir a cultura da pré-história da região, seus aspectos arqueológicos e antropológicos. A intenção do programa é educar crianças e jovens na área de museologia. “Não podemos formar um cidadão sem seu referencial do passado. A recuperação da história e da memória local deram auto-estima à população de Nova Olinda e à meninada da Casa Grande. As crianças visitam as grutas onde seus antepassados viveram, conhecem as lendas antigas e as ferramentas utilizadas na época”, explica Alemberg.
Se na antiguidade os moradores do local aprendiam a utilizar ferramentas como machadinhas de pedra e tintas, hoje crianças e jovens usam o rádio, a TV e a internet para desenvolverem sua cidadania e expressarem sua visão de mundo. A Escola de Comunicação da Meninada do Sertão é um dos projetos mais conhecidos da Fundação e busca, por meio da comunicação, educar e formar cidadãos. Laboratórios de rádio e TV e editoras oferecem às crianças uma oportunidade para que sejam protagonistas de sua própria história. Através desses meios as crianças têm acesso à informação e podem expressar sua opinião e contribuir para a construção de uma comunidade melhor.
A rádio Casa Grande FM atinge um raio de 25 km ao redor de Nova Olinda e, em 1998, foi reconhecida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) como rádio comunitária. Com programação diária, das 5h às 22h, a rádio é uma oportunidade para crianças e jovens se comunicarem com a comunidade, participarem socialmente do que acontece e expressarem aquilo que pensam. Apesar disso, Alemberg sonha em transformar essa rádio em educativa a fim de que possa ter um maior alcance e chegar a toda região do Cariri (Crato, Juazeiro, Assaré e outras cidades).
A mesma sorte não teve a TV Casa Grande que chegou a funcionar durante cinco meses mas, em 2001, foi fechada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Mesmo assim, o projeto continua produzindo documentários que são apresentados nas sessões de cinema do Teatro Violeta Arraes. Além disso, já produziu vídeos para a TV Globo e o Canal Futura. A proposta da TV Casa Grande é ser comunitária e oferecer uma programação local com alcance na região de Nova Olinda. Mas até hoje, “o governo federal não permite a instalação de TVs comunitárias no Brasil”, diz Alemberg.
Sensibilizar os moradores através da arte é o objetivo do Teatro Violeta Arraes. Cinema, teatro, música e dança são as áreas que o projeto atende. Atualmente, o cine-clube do projeto conta com mais de 500 títulos. A Fundação Casa Grande atraiu visitantes a Nova Olinda e o turismo trouxe benefícios para a população local. Assim, com o objetivo de preparar os familiares dos meninos da Casa Grande nas áreas de hotelaria e pequenos negócios, foi criada a Cooperativa de Pais e Amigos da Casa Grande (Coopagran). A iniciativa promove uma geração de renda complementar, que é aplicada na educação dos jovens. “Antes Nova Olinda era uma cidadezinha esquecida do interior do Ceará. Hoje ela transformou-se em um ícone turístico regional”, comemora o diretor da ONG.
As crianças da Fundação Casa Grande estão constantemente em busca de aprender coisas novas e lideram as atividades dos projetos. Além das 70 crianças de todas as idades, a Casa Grande recebe cerca de 3 mil visitantes curiosos e interessados em aprender, conviver e conhecer a experiência de Nova Olinda.
Transformando – para melhor - a vida dos moradores da cidade, a ONG demonstra ter toda a grandeza que carrega no nome.
Theme by Danetsoft and Danang Probo Sayekti inspired by Maksimer