Autor original: Italo Nogueira
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
O Observatório de Favelas, do Rio de Janeiro (RJ), lançou no dia 8 de agosto a Escola Popular de Comunicação Crítica, cujo objetivo é democratizar o acesso às técnicas e teorias da comunicação. As aulas, que começam no dia 29, abordarão as linguagens de rádio, televisão e jornal, a reflexão crítica sobre os meios de comunicação, e mostrarão como as favelas e outros espaços populares são representados na grande mídia. Ao total, serão 45 alunos, vindos da Maré, Parada do Lucas, Manguinhos, Complexo do Alemão, Jacarezinho, Mangueira e Vigário Geral -todas áreas de baixa renda do Rio.
A escola pretende ter vida longa, não só pelas aulas, mas principalmente a partir dos multiplicadores que pretende criar. A intenção da escola é formar comunicadores populares capazes de estimular um novo mercado de comunicação que gere um discurso diferente sobre as favelas e dar suporte técnico necessário para a produção de notícias e programas de entretenimento.
A iniciativa tem apoio de instituições de diversos campos da comunicação. A escola teve financiamento do Ministério da Educação e tem parceria com o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), canal Futura, Associação Brasileira de Produtores Independentes, Afro Reggae, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). A lista de parceiros é grande, mas seu tamanho auxilia o alcance do objetivo da nova instituição: dar formação teórica e manter uma rede de relações com profissionais para que a produção da escola atinja o maior número de pessoas possível.
Espera-se que os comunicadores formados na escola elaborem um discurso que venha de dentro de espaços populares, criando uma nova representação, diferente da que é vista atualmente na mídia. “A favela e outros espaços populares têm sido marcados pelo discurso da ausência, onde falta serviço, falta segurança. Queremos criar uma nova forma de representação para mudar a imagem da favela dentro e fora dela, e que aumente a auto-estima dos moradores destes locais”, explica Jailson de Souza e Silva, coordenador geral do Observatório de Favelas e professor do Departamento de Educação da UFF.
Os alunos terão cinco aulas por semana, sendo quatro na sede do Observatório de Favelas e um no campus da Praia Vermelha da UFRJ. Serão três módulos, em que todos participarão das discussões teóricas sobre comunicação, os meios que atuam nesta área, a linguagem e a representação dos espaços populares na mídia, além de aulas práticas sobre televisão, rádio, jornal e fotografia.
Atuação mais abrangente
Jailson de Souza comenta que em algumas favelas há projetos que atuam na promoção de direitos, no combate à pobreza e à exclusão, mas têm sua ação muito focada, citando como exemplo o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), do qual foi um dos fundadores. “São iniciativas importantes, mas não conseguem ter uma abrangência tão significativa. A comunicação tem este poder de atingir mais pessoas”, explica.
Para aumentar ainda mais o alcance do projeto, os alunos da Escola Crítica formarão, nas escolas municipais de suas comunidades, um núcleo de comunicação. A meta é construir meios de comunicação comunitários que ponham em prática o que foi aprendido durante todo o ano na nova instituição de ensino. “Não queremos que os alunos saiam dali apenas com uma formação, mas que atuem como multiplicadores em suas comunidades”, afirma Jailson.
Para isso, o Observatório de Favelas fez parcerias com outras organizações para que enviassem seus alunos para a escola. Ao voltarem, eles poderiam desenvolver um projeto de comunicação comunitária que envolvesse a população local como faz o Afro Reggae em Vigário Geral.
Novo canal de interlocução
O coordenador do Observatório de Favelas explica que o objetivo não é substituir a formação universitária em comunicação ou se tornar adversário dos profissionais de mídia. A idéia é criar um novo mercado de comunicação popular – via rádio, televisão ou jornal -, além de mais um canal de interlocução entre a imprensa e as comunidades, procurando apresentar novas formas de mostrar estes espaços, diferentes das que estão sendo utilizadas atualmente. “Queremos também oferecer acesso aos espaços populares. Hoje quem fala sobre as favelas nos jornais é a polícia e, poucas vezes, a associação de moradores”, analisa.
A escola também acabará aproximando a universidade dos moradores das comunidades envolvidas, relação ainda pouco desenvolvida. Desta forma, pretende-se despertar o interesse na continuação dos estudos sobre comunicação, estimulando a entrada na universidade. Jailson de Souza comenta que falta aproximação da academia com as comunidades. “A universidade muitas vezes tem um posicionamento autista: voltada para si mesmo ou para o Estado. E quando se aproxima das comunidades, às vezes o fazem de forma muito autoritária: se apresentam como detentoras do saber, expondo-os de cima para baixo. A idéia é popularizar a universidade e, principalmente, passar do discurso para a prática”, sentencia. A partir da escola, mais um passo foi dado para a aproximação.
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