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Em busca de justiça social e ambiental

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Em busca de justiça social e ambiental


Com o objetivo de promover a reflexão, a mobilização e a transformação do modelo de desenvolvimento econômico e social do Brasil, foi lançado no dia 29 de agosto, em São Paulo (SP), o Programa de Formação de Líderes Sindicais como Educadores Ambientais.

A idéia surgiu há cerca de um ano a partir do diálogo entre a Central Única de Trabalhadores (CUT) e o Projeto Brasil Sustentável Democrático (BSD), do qual a ONG Fase participa. Durante o encontro, começou a se pensar em um projeto que transformasse líderes sindicais em pessoas conscientes da importância da justiça e da sustentabilidade ambiental.

A formação em educação ambiental visa aproximar o debate do meio ambiente com as lutas populares, associando a questão ambiental com os temas da geração de trabalho e renda . A intenção é aproveitar características como “engajamento”, “incoformismo” e “independência política” desses líderes sindicais para as lutas ambientais.

“O programa busca fornecer elementos que permitam aos trabalhadores assumirem o papel de educadores ambientais. É um projeto piloto que pretende se expandir nos próximos anos e alcançar cada vez mais pessoas ligadas às lutas dos trabalhadores.” – explica Tânia Pacheco, consultora do Projeto Brasil Sustentável Democrático (BSD).

O objetivo é formar trabalhadores tanto do campo quanto da cidade capazes de defender uma sociedade que saiba usar seus recursos naturais de forma sustentável. Tânia Pacheco defende a construção de “uma nova visão de mundo, na qual dignidade humana e qualidade de vida estejam associadas à idéia de justiça ambiental.”

O projeto piloto do programa, que conta também com a participação da Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), realizará cinco oficinas de capacitação e uma avaliação final. Além disso, serão promovidos seminários, apresentações de vídeos e programas de rádios.

“Não há democracia sem justiça ambiental.”

A primeira fase do Programa, composto de dois módulos, começa nos dias 10 e 11 de outubro em cinco estados do Brasil: Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, Pará. O primeiro módulo busca relacionar as lutas políticas dessas lideranças sindicais com a luta pelo manejo sustentável dos recursos naturais.

“Não há democracia e justiça social sem justiça ambiental”,  afirma Tânia Pacheco. "A luta por uma sociedade que saiba preservar o meio ambiente não deve ficar restrita a entidades e organizações especializadas na área. Essa é uma luta que envolve muitos aspectos sociais e econômicos e está estreitamente ligada a busca por melhores condições de vida e de trabalho".

Os principais problemas de degradação ambiental ocorrem nos locais de trabalho. Trabalhadores lidam dia a dia com eles. A intenção do programa é buscar a construção de um novo projeto de desenvolvimento econômico e social que atente para a relação entre qualidade de vida, dignidade humana e defesa do meio ambiente.

Já o segundo módulo do programa pretende transformar essas lideranças em educadores ambientais capazes de promover a conscientização de seus companheiros de trabalho e formar novos agentes transformadores e mobilizadores.

A segunda fase será realizada à distância, através de chats e listas de discussão, e busca aprofundar as questões trabalhadas na etapa anterior. Esse trabalho seguirá uma metodologia dividida em um ciclo básico e outro de especialização. O ciclo básico, com duração de seis meses, abordará os seguintes temas: democracia, cidadania e educação para a sustentabilidade na prática política brasileira; modelos de desenvolvimento e sustentabilidade; qualidade de vida e dignidade; justiça ambiental e cidadania; construindo um mundo novo.

Após esse ciclo, os participantes poderão se especializar em diferentes temas. Serão oferecidos cinco programas de aprofundamento a serem escolhidos de acordo com a realidade e problemas específicos de cada sindicato. Os temas podem ser um dos que foram trabalhados durante o ciclo básico ou um dos seguintes temas: Agricultura e sustentabilidade; Águas; Amazônia; Biodiversidade; Comércio e Meio Ambiente; Mangues e Zonas Costeiras; Manejo florestal; Sustentabilidade Urbana; entre outros. Esses estudos serão acompanhados por professores e especialistas que poderão tirar dúvidas e auxiliar no andamento dos trabalhos utilizando listas eletrônicas, por exemplo.

Na fase final do programa, serão realizados seminários que avaliarão os resultados obtidos além de definir novas formas de atuação.

Justiça Ambiental e Dignidade Humana.

Um livro relatando a experiência da iniciativa será publicado, bem como duas cartilhas com os temas “Justiça Ambiental” e “Dignidade humana”. A primeira irá tratar da origem do conceito de justiça ambiental, dos casos práticos de injustiça ambiental além da relação entre o termo e direitos humanos, econômicos, sociais e culturais.

A injustiça social está estreitamente ligada à degradação ambiental. Na cidade, o impacto dessa degradação atinge principalmente comunidades e famílias pobres que moram em lugares onde são realizadas atividades industriais poluentes e predatórias. Já no campo, a degradação ambiental atinge os pequenos produtores e trabalhadores de forma direta ameaçando sua subsistência. O crescimento das monoculturas, a concentração de terras, a derrubada de florestas, o uso indiscriminado de agrotóxicos e de sementes transgênicas são alguns dos vários problemas que enfrenta o trabalhador rural.

Já a cartilha “Dignidade humana” busca sensibilizar e mobilizar os trabalhadores para a cidadania ativa e para luta contra as injustiças ambientais e sociais. A idéia é trabalhar temas como cultura, ética e política bem como contribuir para o questionamento dos atuais padrões de comportamento e consumo.

Em três anos, o Programa de Formação de Líderes Sindicais como Educadores Ambientais pretende alcançar todos os 27 estados do país.

Joana Moscatelli.

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