Autor original: Luísa Gockel
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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No Brasil, a cada ano, cerca de 100 mil crianças morrem antes de completar um ano de vida, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dos avanços das últimas décadas e da diminuição drástica da taxa de mortalidade infantil, esse percentual ainda é um dos maiores entre os países da América Latina. Foi pensando na importância do aleitamento materno e da nutrição infantil que a Fundação Orsa criou o Projeto Bandeira, com o objetivo de atender crianças de até 3 anos, vítimas de desnutrição, obesidade e anemia. O projeto foi implementado na cidade de Itapeva, no interior do estado de São Paulo, e posteriormente na Região do Jari, na divisa dos estados do Amapá e do Pará.
O projeto em atividade em Itapeva já atendeu, só neste ano, cerca de 4.500 crianças com algum tipo de distúrbio nutricional. De acordo com a coordenadora do projeto, Simone Colturato, há uma equipe multidisciplinar formada por um pediatra, assistentes sociais, nutricionistas e técnicos de enfermagem. “Trabalhamos junto à comunidade para conscientizarmos as famílias da importância do aleitamento materno e da nutrição”, afirma.
Além do atendimento na própria sede, os profissionais do Projeto Bandeira fazem visitas domiciliares para avaliar as condições sociais, familiares e de higiene do local onde a criança vive. E, se for o caso, saber por que as mães não estão levando seus filhos para o acompanhamento. “Participam do projeto mães de todas as idades, mas há várias adolescentes que não têm muita consciência da importância do aleitamento materno”, explica Simone.
Uma criança que não for alimentada exclusivamente com leite materno nos primeiros dois meses de vida tem até 25 vezes mais probabilidade de morrer de diarréia do que um bebê amamentado, de acordo com dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Por essa e muitas outras razões que o Projeto Bandeira faz do leite materno o seu maior aliado na luta contra a desnutrição. “Temos como pilar do nosso trabalho o incentivo ao aleitamento. Em termos práticos, é possível perceber que mudamos o comportamento da comunidade nesse sentido”, orgulha-se Simone.
Além do acompanhamento periódico e das visitas domiciliares, o projeto também promove o programa Grupo de Mães, apresentando palestras com temas pertinentes para o dia-a-dia da família, como nutrição, higiene e contracepção.
O projeto é incentivado pela Fundação Orsa desde 1996 e deve ser ampliado no ano que vem. Para um atendimento mais abrangente à comunidade de Itapeva e região, a fundação está finalizando as obras de um núcleo de atendimento. “A taxa de mortalidade infantil ainda é muito alta. Temos consciência de que a questão social tem um impacto muito grande no desenvolvimento da criança, por isso a idéia é fazer um trabalho mais intenso com a comunidade”, diz a coordenadora. O núcleo deve fazer trabalhos ligados a educação infantil, convivência familiar e comunitária e enfrentamento da violência, além de ampliar o trabalho na área da saúde.
O Projeto Bandeira na região do Vale do Jari foi implantado em 2000 e realizou até hoje 16.918 atendimentos. Segundo a coordenadora do projeto na região, Tânia da Conceição dos Santos Colares, há uma pequena diferença entre as duas localidades onde é realizado o projeto. “Não trabalhamos com o problema da obesidade. Atendemos essencialmente casos relacionados à desnutrição”, explica.
Tânia conta que em 2000 houve uma grande enchente no município de Laranjal do Jari e a propagação de muitas doenças por causa da falta de saneamento básico. “Vieram várias pessoas da Fundação Orsa de São Paulo, como médicos e nutricionistas, para fazer um levantamento sobre como estava a saúde das crianças. O resultado foi alarmante: 45% estavam desnutridas ou em risco nutricional”, lembra Tânia.
No Vale do Jari, o projeto atende crianças de até seis anos. Elas são recebidas por dois técnicos que depois as encaminham para a equipe multidisciplinar. Como o trabalho realizado em Itapeva, o desenvolvimento da criança é acompanhado por profissionais que também fazem visitas domiciliares. “Se o caso for muito grave, encaminhamos para o hospital”, explica Tânia.
Além do intenso trabalho na área de saúde e de estímulo ao aleitamento materno, são realizadas oficinas para as mães. “Elas são sozinhas, em sua maioria, pois aqui há um grande número de separações. Fazemos oficinas sobre preparo de alimentos de forma nutritiva e também de pintura e bordado”.
Segundo Tânia, o principal objetivo do projeto é incentivar a implementação de políticas públicas de combate à desnutrição. “É notável a diferença que só o acolhimento humanizado das mães e das crianças faz. Elas chegam muito retraídas, mas rapidamente mudam de comportamento”, diz a coordenadora.
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