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Baú de um tesouro diferente

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Baú de um tesouro diferente
Divulgação

Um baú tem ajudado a resgatar os sonhos e a infância de milhares de crianças na Bahia, mostrando para elas um tesouro diferente: a leitura. Promovido pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com a Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte do Estado da Bahia (Setras) e prefeituras municipais, o projeto Baú de Leitura leva, desde 1999, o prazer da leitura para crianças da região sisaleira do estado.

O Baú de Leitura nasceu dentro do trabalho do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), do governo federal. A intenção era promover nas escolas municipais o acesso a livros, juntamente com atividades lúdicas, para ajudar a manter as crianças longe do trabalho. “É um instrumento para estimular as crianças a ficarem na escola”, diz Vera Carneiro, coordenadora do Programa de Educação do Campo do MOC. A experiência piloto foi desenvolvida em três municípios, com um trabalho de sensibilização e capacitação de educadores participantes do Peti.

O projeto consiste na circulação de um baú feito de sisal, símbolo da região, repleto de livros de histórias infanto-juvenis e materiais didáticos de apoio para o trabalho de educadores. Cada baú tem 45 livros. A leitura dos livros possibilita que professores e crianças desenvolvam a reflexão e o aprofundamento dos temas orientadores, que são: identidade cultural e local; relação com a natureza e o meio ambiente; e relações entre família e sociedade. Monitores, professores e alunos fortalecem, através da leitura, a própria identidade, conhecem melhor a história da região e do mundo em que vivem. “O trabalho é desenvolvido de acordo com a realidade local”, afirma Vera Carneiro.

Os baús são itinerantes e divididos por categoria, passando um período numa determina localidade, depois sendo trocados por outro, com livros diferentes. A iniciativa, que começou com 30 baús, já conta com mais de 700 na Bahia. O MOC tem multiplicado a metodologia para entidades de outros municípios da Bahia e também do estado do Sergipe, onde circulam 60 baús. Cerca de 20 mil crianças estão envolvidas neste processo, em mais de 50 municípios, e os resultados são concretos: demonstram maior interesse pela leitura, melhor capacidade de expressão oral e escrita.

Outro mundo

Vera conta que, muitas crianças, quando chegaram, eram pouco expressivas, ficavam de cabeça baixa e hoje falam bastante, participam das aulas. Eram crianças que estavam acostumadas a trabalhar o dia inteiro na roça com os pais, e hoje podem brincar e sonhar com um futuro melhor. “É como abrir para elas uma janela para um outro mundo”, acredita.

No projeto, as crianças encontraram outras formas de se relacionar com o mundo e desenvolvem a criatividade de diversas maneiras: dramatizações, pintura, desenho, poesia, música. Em muitas comunidades, elas criaram bandas de música, jornais, grupos de teatro e programas de rádio. “Elas têm a oportunidade de descobrir o que de melhor existe dentro delas e suas potencialidades”.

O Baú de Leitura está sendo reconhecido como referência de experiência comunitária. O projeto está entre as 20 melhores práticas em gestão local do prêmio da Caixa Econômica Federal. Deve ser lançado ainda, até o final de novembro, um livro sobre a experiência, produzido pelo MOC em conjunto com outras entidades envolvidas no projeto.

Além disso, o projeto caminha para se transformar em uma proposta de política pública, uma vez que a experiência hoje se desenvolve em parceria com a Setras (que disponibiliza os monitores e os coordenadores) e as prefeituras - que adquirem os livros e baús. O MOC e o Unicef, que antes eram responsáveis por tudo, passaram a assumir apenas a responsabilidade pela capacitação e pelo monitoramento pedagógico das ações dos monitores. O Baú de Leitura também conseguiu apoio no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). “A nossa intenção é sistematizar a experiência, ampliá-la e transformá-la em política pública. Para isso, estamos buscando também o apoio do Ministério da Educação”, afirma Vera.

Mariana Loiola

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