Por uma melhor relação com o meio ambiente

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor

Um dos bairros com índices de violência e desemprego mais altos da periferia de Cuiabá (MT), o Jardim Vitória, abriga em 2006 o projeto “Permacultura: espaço multiuso de envolvimento comunitário e inclusão socioambiental”, do Instituto Centro de Vida (ICV). A comunidade surgiu em 1987. E apesar das conquistas obtidas com a própria mobilização dos moradores, Jardim Vitória ainda enfrenta muitos problemas, como a poluição das margens dos córregos da região e o despejo de lixo doméstico na rede de drenagem pluvial. Além de carecer de uma melhor infra-estrutura urbana, o bairro necessita de programas de desenvolvimento comunitário, áreas de lazer para a população e recuperação de áreas degradadas.

No intuito de atender essa demanda, o ICV começou a trabalhar no bairro em 1999 com o projeto Quintais Produtivos: Alternativa Econômica e Ambiental para Moradores de Bairros Periféricos de Cuiabá. “O projeto mostrou a mais de uma centena de famílias que é possível produzir alimentos orgânicos para consumo, doação ou venda, como forma de complemento de renda”, ressalta o assessor de imprensa do ICV, André Alves.

Inspirado no impacto dos Quintais Produtivos, o projeto Permacultura pretende inserir em Jardim Vitória uma proposta educativa de transformação socioambiental. A intenção é que as pessoas absorvam as informações e elaborem suas próprias opiniões, sendo capazes de promover mudanças de hábitos e propor novos caminhos para melhorar a qualidade de vida local.

Conceito criado no começo dos anos 70 pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, permacultura é uma síntese das práticas agrícolas tradicionais com as idéias modernas e inovadoras. A idéia é promover o desenvolvimento integrado da agricultura de forma viável e segura para o produtor familiar, além de prever a integração harmoniosa entre as pessoas e o ambiente. O conceito integra todos os aspectos da sobrevivência e da existência de comunidades humanas. Erlon Bispo, coordenador do projeto, explica que permacultura é uma metodologia que busca aproveitar da melhor forma os recursos do ambiente, geralmente relacionada à agricultura e ao manejo de florestas, mas que também pode ser transportada para a área social.

“Com esse projeto, queremos abrir a dimensão do conceito de permacultura para o campo das relações humanas. Ao mesmo tempo em que uma mãe trabalha numa cooperativa ou assiste a uma aula, seus filhos podem ter acesso a atividades lúdicas e educativas, por exemplo. ”

Para proporcionar um espaço de discussão e comunicação, realizar cursos básicos de computação e uso de Internet além de atividades educativas específicas sobre o software de alfabetização, será implantado no local um telecentro. O ICV prevê ainda a construção de um parque infantil e uma quadra de areia para esportes, bem como a realização de palestras educativas e atividades culturais.

Com essas palestras, além de oficinas e espaços de discussão e troca de experiência, o projeto pretende contribuir para a geração de renda, a profissionalização e a ampliação de atividades de lazer e cultura no Jardim Vitória. André Alves defende a importância da iniciativa para a comunidade, explicando que o bairro, por ser um dos mais pobres da região, "carece de trabalhos que contribuam para melhorar a auto-estima dos moradores, como capacitação profissional e atividades culturais e de lazer”.

A idéia é que toda a comunidade possa usufruir das ações do projeto, seja através dos cursos de informática e alfabetização, do trabalho em cooperativas ou ainda pelas atividades de lazer e cultura, como a exibição de filmes e peças teatrais ou palestras educativas. Também serão formadas duas cooperativas com 25 integrantes cada. A primeira será de produtores de composto orgânico e alimentos livres de agrotóxicos (em hortas de verduras e legumes e mudas nativas e medicinais), por meio da coleta seletiva da matéria-prima. A outra será de costureiras, em articulação com instituições parceiras.

Também serão realizados cursos que promovam o empreendedorismo e o coorporativismo. Entre os temas a serem abordados estão: educação ambiental, capacitação técnico-gerencial, segurança no trabalho e acidentes domésticos.

A iniciativa, que conta com a parceria da Prefeitura Municipal de Cuiabá, do Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep-MT) e da organização não-governamental Moradia e Cidadania, foi selecionada pelo Programa Petrobras Fome Zero e receberá R$ 500 mil para ampliar sua atuação. Ao todo, espera-se que 915 pessoas e 50 famílias sejam atendidas diretamente.

Joana Moscatelli