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No foco da luta contra a aids

Autor original: Mariana Hansen

Seção original: Novidades do Terceiro Setor






No foco da luta contra a aids
Divulgação

Lançada mundialmente no dia 25 de outubro - e no Brasil no último dia 22 -, a campanha “Unidos com as crianças e os adolescentes. Unidos vamos vencer a Aids!”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pretende chamar a atenção da comunidade internacional para como a infância tem sido afetada pelo HIV/aids. Para o especialista do Unicef sobre o tema no Brasil, Mário Volpi, a campanha é importante, pois coloca as crianças em foco, e isso é novo. “As campanhas de combate à aids sempre tiveram um foco muito grande nos adultos, já que eles têm um poder de organização e mobilização maior do que as crianças e adolescentes”, explica.

A campanha mundial se concentra em quatro Ps: prevenção da transmissão vertical, ou seja, da mãe para o bebê, durante a gestação, parto ou amamentação; proporcionar tratamento pediátrico; prevenção de novas infecções, especialmente entre jovens e adolescentes, e proteger, dar atenção e prestar cuidados aos meninos e meninas afetados pela doença. Para Volpi, as campanhas só podem ter sucesso ao integrarem esses quatro componentes em suas ações. "Atuar isoladamente não tem sido suficiente”, alerta.

Como em cada país o quadro epidêmico muda, o Brasil tem as suas próprias metas a cumprir. Aqui, estima-se que 600 mil pessoas vivam com o vírus, dentre elas mais de 21 mil jovens com idade até 19 anos. Um pouco mais de 156 mil pessoas recebem o tratamento anti-retroviral (ARV) na rede pública de saúde gratuitamente. Segundo o Programa Nacional de DST e Aids, sete mil crianças infectadas pelo HIV, com até 12 anos, têm acesso à terapia ARV no país. A transmissão vertical ainda é responsável por 88% das infecções pelo HIV entre crianças e adolescentes de até 13 anos e ainda responde por 7% do total de casos da doença no país.

Partindo deste quadro, um dos principais objetivos da campanha brasileira é, até 2008, chegar a níveis perto de zero na transmissão vertical do HIV. Esta forma de contaminação pode ser quase totalmente anulada se a mãe tiver acesso aos testes de HIV e aos serviços de saúde necessários. Para atingir a meta, o Unicef, o Programa Nacional de DST e Aids e o Unaids irão capacitar profissionais de saúde e distribuir 50 mil testes rápidos de HIV. Regiões com menor acesso aos serviços de pré-natal e aos testes terão prioridade.

O segundo objetivo da campanha é estabelecer um programa nacional de prevenção para sete milhões de adolescentes até o final do próximo ano. Nas escolas de ensino médio, meninos e meninas vão receber informações sobre as formas de prevenção à doença. Segundo Mário Volpi, “até agora a abordagem das campanhas brasileiras foi mais indireta, mas sentimos a necessidade de agregar um elemento novo, avançando nos conteúdos das campanhas nas escolas públicas. A idéia é que o próprio adolescente possa, a partir desse questionário de 12 perguntas, avaliar suas atitudes e saber se necessita fazer um teste de HIV. Atualmente, esse questionário está sendo testado junto a cinco mil crianças e adolescentes dos estados de Pernambuco, Ceará e Pará”.

Ampliar o acesso aos medicamentos anti-retrovirais. Este é o terceiro objetivo, pautado em uma cooperação internacional entre o Unicef, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), o Programa Nacional de DST e Aids e mais seis países em desenvolvimento, que irá assegurar o envio de medicamentos para Bolívia, Cabo Verde, Guiné Bissau, Paraguai, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. O Programa Nacional garantirá o envio dos remédios, incluindo fórmulas pediátricas, enquanto o Unicef garante o transporte para os seis países, parceiros na Cooperação Sul-Sul.

E é justamente a Cooperação Sul-Sul que envolve a quarta meta da campanha brasileira e o quinto “P”, de parceria. Ela visa a aperfeiçoar os serviços de testagem rápida e tratamento nos países parceiros. Serão formados profissionais de saúde especializados e enviados kits de testagem rápida do HIV. Também estão previstas ações de mobilização social e de prevenção, visando, em particular, à proteção de crianças e adolescentes. Segundo Volpi essa é uma iniciativa que pretende mostrar que começando a deter a epidemia mais cedo é muito mais fácil lidar com ela. "A idéia dessa cooperação é que haja um intercâmbio técnico e de conhecimento entre países pobres. A segunda meta é garantir testes gratuitos para todas as gestantes e ampliar o conhecimento do estado sorológico das pessoas”, diz.

A epidemia da aids priva crianças e adolescentes do mundo todo de educação, de cuidados na área de saúde e da possibilidade de desfrutar de um futuro com plena saúde. Volpi afirma que para os jovens é muito mais complicado lidar com o vírus e o preconceito. Por isso, precisam, além do tratamento médico, apoio psicológico e profissional. Ele ressalta ainda a importância de se entender que a aids não é mais uma doença mortal, mas crônica. Desta forma, melhorar a qualidade do suporte social e psicológico é fundamental para essa geração de crianças portadoras do vírus, para que saibam conviver com ele.

Mariana Hansen, com a colaboração de Joana Moscatelli

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