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Câmera na mão, muitas idéias

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Câmera na mão, muitas idéias
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Prestes a dar início à sua quarta edição, o projeto Cinemaneiro, no Rio de Janeiro, tem ido bem além da sua proposta inicial. Idealizado pela Cooperativa Fora do Eixo Filmes e pela produtora Boteco Cinematográfico e patrocinado pela Linha Amarela S/A, o projeto Cinemaneiro tem como principal objetivo levar, gratuitamente, o estudo da linguagem audiovisual a comunidades que comumente não têm acesso a ela. Jovens a partir de 13 anos de comunidades do entorno da Linha Amarela, participam de oficinas de vídeo digital e realizam suas próprias produções.

“Ao chegarmos na comunidade, buscamos o apoio de uma instituição que represente os moradores e fazemos uma seleção dos jovens que irão participar das oficinas”, conta Viviane Ayres, coordenadora do projeto. Na seleção, avalia-se o interesse dos adolescentes e não se exige que eles estejam na escola. “Nós acreditamos que esse projeto incentiva os alunos a estudarem e voltarem para a escola, como já aconteceu em alguns casos. Cinema é divertido, dá vontade de saber outras coisas e entender o que acontece ao redor. Por isso, a evasão do projeto é muito pouca”, afirma Viviane.

Em 12 aulas teóricas e práticas, que acontecem em espaços cedidos pela comunidade, os alunos aprendem as etapas necessárias para a produção de um filme, desde a elaboração do roteiro até técnicas de filmagem e edição. Cada oficina tem capacidade para 25 alunos.

Ao final do curso, com a supervisão dos instrutores, os alunos produzem um vídeo de curta duração, que é exibido em telões instalados ao ar livre em todas as comunidades onde se realiza o projeto, junto com outros filmes brasileiros de curta metragem. Em cada exibição reúne-se um público de pelo menos 300 pessoas. Para estas sessões, também são convidados artistas da comunidade – sejam eles de teatro, circo, música, artes plásticas etc. - para se apresentarem.

Grande parte dos roteiros se baseia no cotidiano das favelas, onde normalmente vivem os alunos. A violência e o tráfico de drogas muitas vezes aparecem como pano de fundo, mas os estilos escolhidos pelos alunos são bem variados. “Tem história de amor, comédia, aventura, terror, tudo”, diz Viviane.

O número de oficinas e de comunidades atendidas pelo Cinemaneiro aumenta a cada edição. A primeira, realizada em 2002, promoveu quatro oficinas; a terceira edição do Cinemaneiro, realizada em 2004, atendeu a dez favelas em oito oficinas, o que totalizou cerca de 200 alunos. “A gente procura voltar às mesmas comunidades para que o projeto tenha continuidade”, diz a coordenadora do projeto.

Os desdobramentos do Cinemaneiro não param por aí. Na terceira edição, foram selecionados 16 jovens para estágio supervisionado na produção de curtas em película, produzidos pela Cooperativa Fora do Eixo Filmes. Além disso, alguns alunos da Cidade de Deus montaram outra cooperativa, a Boca de Filme.

Em 2004, foi criado o Núcleo de Produção Cinemaneiro (Nuprocine), um espaço dedicado à realização de cursos e workshops sobre cinema. Cem do total de 450 alunos que participaram das oficinas manifestaram interesse em se aprofundar na área e continuam atuantes no Núcleo. O projeto incentiva o intercâmbio entre os jovens do Nuprocine com os de outros projetos culturais, como o Kabum! e o Nós do Morro.

Ícaro Fagundes, de 21 anos, morador da favela da Maré, se dedicou mais à área de produção durante a sua participação na oficina, mas, estando atualmente no Núcleo, tem preferido a direção. Para ele, o maior atrativo do trabalho com cinema é a oportunidade de expor suas idéias. “O filme perpetua nossos sentimentos, até os de revolta mesmo. A gente faz sabendo que as pessoas vão ver e reconhecer isso”, diz.

Com o objetivo de estimular o desenvolvimento dos projetos de produção de filmes no Nuprocine, foi realizado, em novembro, o Concurso Talento Cinemaneiro 2005. Foram analisados 14 projetos de filmes de curta duração de até 10 minutos, para realização em formato digital. Os roteiros selecionados receberão prêmios em dinheiro destinados à execução dos projetos. Além dos jovens estudantes envolvidos na elaboração das propostas, outros se integrarão aos projetos vencedores para a preparação dos curtas. Cerca de 75 jovens serão envolvidos, além do elenco de atores necessário às produções.

Fabiana Farias, de 18 anos, também da Maré, foi uma dos cinco ganhadoras do Concurso e se prepara para produzir o seu curta “Dia”. “Trabalhar com arte é melhor do que trabalhar em escritório fechado. É bom fazer cultura e diversão para as pessoas verem”, diz. Decidida, Fabiana pretende prestar vestibular no ano que vem para o curso de Cinema.

Mariana Loiola

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