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Novos ares para a atuação juvenil

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Novos ares para a atuação juvenil
Divulgação

Tendo o nome da leve brisa -que, no Ceará, é sentida constantemente - a ONG Aracati, sediada no estado de São Paulo, busca fazer com que pelo menos parte dos 34 milhões de jovens brasileiros se unam, troquem experiências e lutem por um país melhor. A organização iniciou suas atividades em 2001, querendo contribuir para a construção de uma cultura de participação social entre os jovens no Brasil.

Apesar da imagem negativa que a televisão e a propaganda passam dos jovens, retratando-os na maioria das vezes apenas como consumidores alienados ou, na outra ponta, criminosos violentos, a ONG acredita no potencial transformador dos jovens brasileiros.

Para dar visibilidade às coisas boas que os jovens vêm produzindo no país atualmente, a Aracati, em parceria com a Fundação Kellogg lança no primeiro semestre de 2006 livro e documentário sobre oito iniciativas sociais protagonizadas por jovens em diferentes regiões brasileiras. Os trabalhos foram escolhidos através de seleção realizada nos meses de setembro e outubro de 2004, quando a Aracati recebeu 132 projetos através do site “mobilização juvenil” [link disponível na área de Links Relacionados]. Os oito se destacaram por representarem bem a diversidade de formas de atuação juvenil nos dias de hoje.

“As pessoas comparam os jovens de hoje com os dos anos 60 e 70 e dizem que eles são menos engajados e são alienados, mas a verdade é que a forma de atuação mudou. Esses oito projetos ilustram bem as diferentes formas e tipos de participação social juvenil que existem hoje no Brasil. Atualmente, o jovem está encontrando outros caminhos para atuar na sociedade, que não estejam necessariamente ligados a movimentos estudantis como nos anos 60 e 70”, conta Antonio Lino, co-fundador e diretor executivo da Aracati.

Após a seleção dos projetos e as visitas para conhecer e filmar cada ação, a Aracati promoveu, de 26 a 31 de março deste ano, um encontro entre 32 jovens representantes dos oito projetos em Brasília (DF). A proposta era ser um espaço de integração e troca de experiências entre os jovens, mas também contribuiu para a discussão sobre as políticas públicas voltadas para a juventude.

Sete milhões de jovens dispostos a mudar o Brasil?

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Cidadania indica que cerca de 7 milhões de jovens brasileiros estão mudando ou dispostos a mudar a realidade brasileira de desigualdade e injustiça social. O estudo - “Perfil da Juventude Brasileira” - revela que apenas 2% dos jovens entre 15 e 24 anos estão envolvidos com ações sociais, mas 20% querem fazer algo, só não sabem como.

“O problema da falta de participação social no Brasil não se restringe aos jovens, não é uma questão de faixa-etária. Assim como o restante da população o jovem não é incentivado a participar, pois isso pode significar mudanças. É dentro desse contexto em que a participação do jovem é vista com certa resistência, uma vez que pode representar um ponto de ruptura com algumas práticas culturais e sociais”, comenta Lino.

O livro e o documentário, produzidos pela jornalista Neide Duarte, ilustram bem as dificuldades que os jovens enfrentam até mesmo dentro de casa quando começam a agir diferente. São contadas histórias como o de um menino do projeto E-jovem – de combate à homofobia nas escolas - que enfrenta o preconceito do próprio pai, que se recusa a falar com o filho gay.

Outro estudo sobre a juventude brasileira mostra que o jovem brasileiro participa pouco (28% fazem parte de algum grupo, na maioria religioso), mas se preocupa com o futuro do país e espera que os governos promovam sua inclusão social. É a pesquisa Juventude Brasileira e Democracia – participação, esferas e políticas públicas, coordenada pelo Ibase, que aponta como principais reivindicações dos jovens uma escola de melhor qualidade, melhor qualificação profissional, mais espaços de cultura e lazer próximos ao local de moradia. Já as pessoas mais pobres (44% dos jovens da classe C) se preocupam também com questões como segurança e corrupção política.

Assim como para a grande parte da população brasileira, as mazelas que afetam os jovens são muitas e difíceis de serem superadas. Contudo, é equivocado encarar o jovem apenas como problema ou beneficiário, pensamento comum em muitas iniciativas sociais. A Aracati acha imprescindível reconhecer e aprender com as novas ações dos jovens e estimular o debate sobre a importância da participação social não só dos jovens, mas de todos os brasileiros.

“Muitos projetos sociais enxergam o jovem apenas como problema e não como sujeitos e, assim, reproduzem uma lógica paternalista que não contribui para as transformações sociais”, resume Lino.

Educar para participar 

Escola e família também exercem um papel fundamental para a formação de jovens participativos e antenados com a realidade em que vivem. Consciente da importância da educação para formar jovens cidadãos, a equipe da Aracati desenvolve projetos como o Gincana da Cidadania. De 2001 a 2002, a iniciativa levou para 23 escolas de Santos iniciativas de formação de jovens para atuarem em projetos sociais locais. Com apoio do Instituto Ayrton Senna, do Instituto C&A, do Instituto Pão de Açúcar e da Fundação Artemesia, a Gincana levou mais de 300 jovens a elaboraram e implantaram projetos sociais articulados com seus pais, educadores, jornalistas, representantes do poder público e cerca de 80 organizações locais. O projeto foi reconhecido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como uma das quatro melhores práticas de voluntariado juvenil de América Latina e Caribe.

“Jovens em ação” é outro projeto educativo realizado pela Aracati. Foi desenvolvido em 2004, em parceria com a organização internacional Ashoka, e tinha como missão estimular e apoiar 50 jovens a elaborar e implementar um projeto social nas cidades de São Paulo, Diadema, Araçoiaba da Serra e Atibaia.

Além dessas ações, a Aracati prestou consultoria ao projeto Aliança com o Adolescente (iniciativa do Instituto Ayrton Senna e da Fundação Kellogg), que visava à elaboração e implementação de planos de mobilização social em 28 municípios dos estados de Pernambuco e Ceará.

Resultado da fusão de duas outras organizações - o Instituto Marco 3 e o Instituto Pró-ação - a Aracati mostra assim que os jovens de hoje em dia não são menos engajados que os das décadas de 60 e 70 e que o tempo, na verdade, trouxe novos ares para a forma de atuação social dos jovens.

Joana Moscatelli

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