Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Projeto voltado para comunidades da Amazônia, a Associação Vaga Lume recebeu, no dia 15 de dezembro, o Prêmio ODM Brasil, concedido pelo Governo Federal, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade. Com o prêmio, a Associação Vaga Lume - que busca contribuir para o desenvolvimento cultural e educacional de comunidades de difícil acesso na região - foi reconhecida como uma das iniciativas que ajudam o Brasil a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).
A história da Vaga Lume, no entanto, começou quando três amigas, profissionais de diferentes áreas, resolveram conhecer a Amazônia. Atraídas pela curiosidade em relação à região e pela vontade de contribuir de alguma forma com comunidades mais isoladas, Laís, Sylvia e Maria Teresa levaram um ano para pesquisar, discutir e decidir sobre a principal atividade do projeto a ser desenvolvido: a implantação de bibliotecas comunitárias. “Sabíamos que a nossa passagem pela Amazônia seria breve, mas queríamos deixar um patrimônio lá”, conta a administradora de empresas Laís Fleury.
O projeto foi batizado de Expedição Vaga Lume e, em 2001, foi criada a associação (sediada em São Paulo) para facilitar a busca de apoios e parcerias e viabilizar a iniciativa. Hoje existem bibliotecas implantadas em 101 comunidades rurais em 20 municípios, dos nove estados que compõem a Amazônia Legal Brasileira. Em parceria com Secretarias Municipais de Educação e outros parceiros locais, são definidas comunidades sede para atuação e comunidades satélites.
Organização comunitária
Além de promover o acesso à leitura, as bibliotecas estimulam a organização comunitária, segundo as diretoras do projeto. “Geralmente cada comunidade faz reuniões para discutir um estatuto e eleger quem vai se responsabilizar pela biblioteca”, explica Laís. São realizados também cursos de formação de professores em mediação de leitura e sessões de cinema para projetar para as comunidades imagens filmadas durante a expedição. “A idéia é que as comunidades possam se ver e valorizar a sua cultura”, diz Laís.
O acervo das bibliotecas é construído por meio de doações, mas segue alguns critérios, segundo a historiadora Sylvia Guimarães. “Damos prioridade à qualidade dos livros, à diversidade dos temas e às primeiras leituras (livros infantis)”, diz.
Os mais receptivos ao projeto, segundo Sylvia, são as crianças e os jovens. Alguns se mobilizam para entrevistar as pessoas mais idosas, resgatar a sua cultura local e produzir livros sobre a própria comunidade para disponibilizar na biblioteca e trocar com outras comunidades do projeto.
O potencial de organização comunitária ajuda a disseminar o projeto, mas varia muito de um lugar para o outro, de acordo com Sylvia. “Alter do Chão e o Assentamento João Batista, em Castanhal, ambos no Pará, são exemplos de comunidades bem organizadas. Já nas comunidades de beira de estrada, onde geralmente não existe uma prática de discussão, as bibliotecas estão mais abandonadas. Mas essa diversidade também faz parte da proposta do trabalho”, afirma.
Sylvia conta que a Expedição tem a sorte de encontrar lideranças naturais na comunidade: “Algumas pessoas organizam mini-expedições locais, generosamente levam os livros num barco e fazem rodas de história e outras atividades em comunidades vizinhas”.
Para compartilhar a sua experiência e divulgar a cultura da Amazônia, a Associação Vaga Lume promove, através da Rede Vaga Lume, a troca de conhecimento entre a população das comunidades beneficiadas pela expedição e escolas paulistanas. A intenção do intercâmbio cultural é contribuir para o conhecimento mútuo entre as realidades urbana e amazônica.
Os resultados da Expedição Vaga Lume foram medidos recentemente por um instituto de avaliação externa. “A avaliação, feita em seis municípios, constatou que, a partir da passagem pelo projeto, as crianças passaram a ler bastante”, diz Sylvia. Ao mesmo tempo, foram identificados os maiores desafios para a Vaga Lume: a necessidade de monitoramento mais constante e a expansão das bibliotecas. “Queremos renovar os livros, que estão sendo muito usados. Estamos nos organizando para isso. A Amazônia é uma região muito carente de livros e bibliotecas. Algumas pessoas nunca viram livros, além dos didáticos e da Bíblia”, relata.
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