Autor original: Mariana Loiola
Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor
“O reconhecimento realmente democrático dos direitos à cidade passa por uma nova apropriação do espaço urbano. A cidade, antes de mais nada, é uma só.” (trecho de Favela: Alegria e Dor na Cidade)
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Resultado de dois anos de pesquisas feitas pelo Observatório de Favelas, o livro “Favela: Alegria e Dor na Cidade” lança um novo olhar sobre as favelas, resgatando aspectos de sua identidade cultural. Neste livro, lançado no último dia 15 de dezembro, os autores Jaílson de Souza e Silva e Jorge Luiz Barbosa, coordenadores do Observatório, buscam apresentar uma visão integrada do processo de formação das favelas cariocas e de suas representações.
“Pesquisamos obras dos últimos 20 anos sobre favelas. Desde livros sobre educação, violência, política de segurança até as que falam sobre comunidades específicas. Nossa intenção foi articular esses temas e, assim, dar uma idéia mais geral sobre o que acontece nas favelas, como os moradores pensam essa realidade e mostrar caminhos para políticas públicas”, diz Jaílson.
Além da diversidade de temas, a obra traz um conjunto rico e plural de linguagens: dados e fatos históricos, estatísticas, letras de músicas, charges, fotos, mapas, ilustrações e poesias, para mostrar que a moradia nos morros sempre fez parte da constituição da cidade. A coleta desse material envolveu toda a equipe de pesquisadores do Observatório.
Produzido pela (X) Brasil em parceria com a editora Senac Rio e com o apoio da Fundação Ford, a obra tem o prefácio assinado por Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, e fotos de João Roberto Ripper, um dos mais conhecidos nomes da fotografia social.
As favelas cariocas, lembram os autores, fazem parte da cidade há mais de um século (desde a época dos cortiços, no século XIX). Assim, “Favela, alegria e dor na cidade” faz um apanhado desde o período pós-escravatura e de início da reforma urbana do prefeito Pereira Passos até os dias atuais. É traçado um histórico das favelas do Rio de Janeiro e a sua expansão, apontando as representações que essas comunidades sempre tiveram, tanto por seus moradores como pela sociedade em geral. A favela é percebida, por exemplo, como um espaço de ausências e carências (urbanas, sociais, legais, morais etc.). “A favela é vista como não-cidade e o morador da favela como não-cidadão”, diz Jaílson.
Também compõe o livro um anexo com trechos do seminário “Os futuros possíveis das favelas e da cidade do Rio de Janeiro”, realizado em 2003 pelo Observatório e pelo Centro de Estudos sobre Segurança e Cidadania (Cesec), ligado à Universidade Candido Mendes. Esta parte inclui falas do rapper MV Bill, do economista José Márcio Camargo, do líder comunitário Itamar Silva e do ex-coordenador do programa Favela Bairro Sergio Magalhães.
Voltado para um público amplo, o livro traz ainda várias informações úteis, como indicadores sociais sobre a distribuição geográfica e populacional das favelas e um índice bibliográfico com as obras sobre favelas existentes nas bibliotecas do RJ, desde o início do século XX. Reflexões teóricas, análises do contexto atual e críticas à mídia complementam a obra.
'Favelofobia'
Um dos principais objetivos de “Favela: Alegria e Dor na Cidade” é combater estigmas e minimizar o que os autores chamam de “favelafobia”, ou seja, uma rejeição - alimentada constantemente pelos meios de comunicação - que a sociedade apresenta em relação às favelas.
“A favelofobia é o medo das favelas, por ser considerado um espaço violento, e atração ao mesmo tempo. De um lado, temos a idéia de remoção de favelas, como se estas prejudicassem o meio ambiente. De outro, temos a atração pela mulata, o sambista, o funk, o hip hop e outras figuras e manifestações culturais típicas dessas comunidades. Essa relação ambígua entre a sociedade e as favelas precisa ser superada. Deve haver uma aproximação e não repulsa ou ‘exotização’. É necessário entender a favela como diferença”, enfatiza Jorge.
O último capítulo propõe uma agenda de políticas públicas para a cidade, sem excluir a favela. "São propostas para melhorar a condição de vida nas favelas mas pensando na sociedade como um todo”, diz Jorge. Em vez de serem vistas e discutidas como problemas, as favelas devem ser encaradas como parte fundamental da sociedade, segundo os autores. “Só a partir disso é possível enfrentar os graves problemas da cidade, inclusive os de segurança pública”, defende Jaílson.
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