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Cidade de Deus - e do desenvolvimento

Autor original: Mariana Hansen

Seção original: Novidades do Terceiro Setor






Cidade de Deus - e do desenvolvimento
Vista aérea da Cidade de Deus

Localizada na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), a comunidade da Cidade de Deus, famosa devido ao filme com mesmo nome, irá abrigar a primeira agência de desenvolvimento local em uma área carente da cidade. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) acaba de destinar R$ 430 mil para a implantação da agência. O objetivo principal é consolidar uma rede de instituições locais articuladas capaz de promover continuamente um conjunto de programas e políticas públicas voltadas para o desenvolvimento social, econômico, cultural e ambiental do bairro.

Carlos Oliveira, presidente do Comitê Comunitário da Cidade de Deus, rede de instituições da comunidade, conta que a idéia do projeto surgiu a partir de uma pesquisa sobre a situação das crianças e dos adolescentes do bairro. Concluiu-se que não se poderia trabalha a questão da infância separadamente. “Os problemas da comunidade não se restringiam a isso e era preciso trabalhar questões como emprego e renda também”, explica.

Em 2004, com o apoio técnico e estrutural do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), o projeto foi escolhido para ser uma das oito iniciativas apoiadas pela Secretaria Nacional de Ação e Comércio Solidário (Senasc) e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Carlos conta que “a proposta é que ele represente a experiência urbana em projetos na área de trabalho e renda e economia solidária”.

O técnico da Finep responsável pelo projeto, André Ferro, ressalta que este é o primeiro projeto de desenvolvimento local em área urbana apoiado pelo órgão. “A Finep, além de acompanhar, irá também aprender com esse projeto, analisando seus pontos positivos assim como as dificuldades enfrentadas”, conta.

Segundo Itamar Silva, um dos coordenadores do Ibase e responsável pela execução do projeto, “Cidade de Deus será um laboratório, que, dando certo, tem a possibilidade de ser levada para outras áreas populares do Rio”. Para ele o diferencial da iniciativa é pensar o desenvolvimento local não só com as potencialidades, mas também com os desafios e com os problemas desses espaços urbanos, especialmente no Rio.

Segundo Carlos Oliveira, a agência buscará melhorar a qualificação profissional dos moradores do bairro, pois mesmo com o crescimento das ofertas de trabalho na região existe uma carência de profissionais qualificados. Atualmente já estão sendo desenvolvidos cursos de capacitação na área de construção civil, enfermagem e para atendimento em consultório odontológico. Carlos espera que a iniciativa funcione ainda como um meio de pressionar os governos municipal e estadual para melhorar as condições de educação formal na região.

Além disso, baseados na experiência do Banco Palmas, em Palmeiras (CE), pretende-se estimular o comercio solidário na comunidade. Ou seja, apoiar o consumo e a produção existente dentro da própria comunidade. “É preciso saber o que está sendo produzido dentro da própria comunidade e apoiar essas iniciativas para que o consumo gere renda e trabalho na própria comunidade”, explica Carlos.

A iniciativa também pretende atuar como uma facilitadora de projetos e ações sociais, além de fomentar a economia solidária dentro da comunidade. Itamar Silva ressalta a articulação dos diversos grupos comunitários como um grande salto, pois seu fortalecimento dará suporte à sustentabilidade do projeto.

“Em um momento em que há uma longa discussão sobre o enfraquecimento da mobilização popular, a agência vem na contramão desse discurso, mostrando que eles estão se articulando para agir de forma mais ampla. Mostra um amadurecimento da organização popular, o crescimento de um direito à cidade, que não aceita os limites dados pela especulação imobiliária, pelo preconceito da elite, pela inconsistência da ação pública. Eles querem muito mais”, analisa Itamar. Para Ferro, este é um grupo forte e amadurecido, que está consciente das suas responsabilidades e com vontade de acertar.

Por enquanto, a agência está em fase de seleção de equipe e, de acordo com Carlos Oliveira, a intenção é dar prioridade aos profissionais da própria comunidade. “Em março, no máximo, a agência estará funcionando plenamente”, prevê.

Mariana Hansen, com a colaboração de Joana Moscatelli

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