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Ecologia e cidadania na Baixada Fluminense

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Ecologia e Cidadania na Baixada Fluminense
Divulgação

Olhar para a periferia do Rio de Janeiro, entender os problemas e buscar soluções são os objetivos do Centro de Ecologia e Cidadania (CEC) do Tinguá, em Nova Iguaçu (RJ). Desde 2000, o Centro, que tem apoio da União Européia, busca estimular o desenvolvimento sustentável da Baixada Fluminense, mais precisamente na região do Tinguá, área rural de Nova Iguaçu. A idéia é resgatar a cidadania dos moradores locais através de capacitação profissional e atividades de educação ambiental.

“Muitas pessoas, tanto de fora como da própria região, desconhecem, mas dois terços de Nova Iguaçu são de floresta. As pessoas associam Nova Iguaçu com pobreza e problemas e não atentam para a existência de uma das mais belas reservas que o Rio possui. Todos deveriam conhecer”, recomenda Cristiano Camerman, coordenador do Centro de Assessoria ao Movimento Popular (Campo), ONG que desenvolve o CEC.

Camerman se refere à Reserva Biológica de Tinguá, localizada a 16 km do município de Nova Iguaçu. Formada por Mata Atlântica, a reserva possui uma grande diversidade de fauna e flora, além de ser rica em recursos hídricos. De acordo com dados do Ibama, a proteção da unidade é muito importante para a conservação dos mananciais responsáveis pelo abastecimento de água de parte do Rio de Janeiro e de quase 80% da Baixada Fluminense.

Localizado em meio à Reserva Biológica de Tinguá, o CEC visa a aliar ecologia com desenvolvimento social. É através do CEC que o Campo desenvolve seus trabalhos na área de educação ambiental. O objetivo principal é promover atividades socioambientais na Baixada Fluminense e preservar a Reserva do Tinguá. Além de projetos de educação ambiental como o Convívio Verde e as Jornadas Ecológicas, o CEC também busca estimular o ecoturismo na região.

Com esse objetivo, o CEC criou o Refúgio EcoTinguá, uma pousada com capacidade para receber até 30 pessoas. De acordo com informações do Campo, até agosto de 2004, cerca de 600 pessoas visitaram o local. Lá, os visitantes podem realizar uma série de atividades como caminhadas em trilhas, observação de plantas e animais silvestres, cavalgadas ecológicas, banhos em piscinas e lagos naturais, práticas de avicultura, piscicultura, horticultura, plantação em viveiro de mudas e eqüinocultura. Através da pousada, o CEC busca também promover a sustentabilidade de seus projetos.

Convívio Verde e Jornadas Ecológicas

Através do projeto Convívio Verde, o CEC busca desenvolver a educação ambiental na região, formando agentes multiplicadores e capacitando professores da rede municipal de ensino. A intenção é inserir a temática do meio ambiente dentro da sala de aula e assim viabilizar atividades em conjunto com a comunidade local.

Até 2002, o projeto ofereceu cursos na área de educação ambiental para 150 professores de escolas municipais de Nova Iguaçu. Além disso, capacitou 12 educadores do Sesc local e ainda 50 agentes comunitários. E, em 2003, 60 escolas do município receberam material didático e atividades ligadas ao meio ambiente. A meta agora é expandir a formação para outros municípios da Baixada Fluminense. De acordo com Camerman, o próximo é Mesquita.

Ainda em 2003, aproximadamente 1.500 alunos também puderam participar das caminhadas guiadas dentro da Reserva do Tinguá, as chamadas Jornadas Ecológicas. A intenção é fazer com que os jovens conheçam a floresta e reconheçam a importância de sua preservação.

Capacitação profissional

Todos os dias, centenas de pessoas são obrigadas a sair da região em busca de emprego, enfrentando péssimas condições de transporte. “Desenvolver a Baixada seria bom não só para a própria região como para todo o Rio de Janeiro. As pessoas deveriam entender isso. Nossa intenção é oferecer alternativas para que as pessoas possam trabalhar e desenvolver atividades na região”, explica Camerman.

Os programas de capacitação profissional buscam oferecer alternativas sustentáveis para que os trabalhadores possam futuramente permanecer na região. O Centro já ofereceu cursos em diversas áreas como: jardinagem e paisagismo, associativismo e cooperativismo, contabilidade básica e noções de matemática financeira, produção de mudas, fruticultura, horticultura, piscicultura. Além disso, o CEC apóia a criação de cooperativas para produção de artesanato, comidas típicas e outras atividades.

Com o objetivo de resgatar a cultura agrícola de Tinguá, o CEC realizou em 2003 um programa piloto que contou com a parceria da ONG Centro de Desenvolvimento Rural e Integrado (Cedri) e da Secretaria Municipal de Educação de Nova Iguaçu (Semed). A Escola Família Agrícola buscou estimular nos jovens da região uma prática agrícola sustentável. Os jovens aprenderam a preparar a terra, a como usar defensivos agrícolas naturais e a fertilizar as sementes.

Em apenas três palavras, Camerman resume o trabalho realizado pelo CEC na Baixada Fluminense: desenvolvimento local comunitário. Para ele, desenvolver a região de maneira sustentável e em parceria com a comunidade local é a solução para melhorar a qualidade de vida dos moradores de municípios como Nova Iguaçu.

“O Brasil todo deveria se interessar pela periferia, locais onde as dificuldades são enormes e que, aos poucos vêm se desenvolvendo. As pessoas começam a ter esperança, e os jovens estão acreditando na potencialidade do desenvolvimento sustentável da região.”

Joana Moscatelli

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