Autor original: Marcelo Medeiros
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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No começo de 2002, Roger Inácio, então com 13 anos, ouviu falar que sua escola, em Belo Horizonte (MG), começaria a oferecer aulas de informática. Como gostava de computadores, conseguiu uma vaga por causa de sua amizade com um professor. Ao chegar na sala, decepcionou-se. “Pensei que era só para usar a internet, mas, quando vi, era aula de foto, e sobre mídia”, lembra. Ainda assim, permaneceu até o fim. Acabou gostando do que ouviu, e até hoje colhe os frutos da experiência, que durou três meses.
Inácio, hoje com 17 anos, foi um dos participantes do projeto Latanet, da organização não-governamental Oficina de Imagens. A idéia do projeto é aliar diferentes tecnologias – da fotografia em pinhole à internet – para que jovens moradores de áreas pobres de grandes cidades possam trocar experiências e imagens. A partir disso, podem discutir a forma como a mídia tradicional os trata e ainda se beneficiar no aprendizado de diferentes matérias escolares. A fotografia de pinhole é feita com um fotograma dentro de uma lata de metal na qual se faz um ou mais furos, que cumprem a função do diafragma de uma máquina fotográfica comum. Todo o processo está explicado na página do projeto (ver link ao lado).
“Assim conseguimos explicar física óptica, a química do filme e da revelação e a história do renascentismo”, afirma Bernardo Brant, um dos coordenadores do projeto. Como a fotografia de pinhole se baseou nas técnicas de câmara escura desenvolvidas na época do Renascentismo, fica mais fácil para os instrutores das oficinas do Latanet demonstrarem, de forma simples, de que forma a imagem atua como representação fiel da realidade. “É algo presente até hoje na forma como a mídia produz suas notícias, principalmente as relacionadas a bairros pobres. A imagem negativa parece ser a única existente”, reclama.
Para o professor Alberto Cunha, que leciona em uma escola municipal no Jardim América, na zona oeste belorizontina, o método ajuda bastante nas aulas que dá para o Ensino Médio. Desde 2004 ele participa do projeto, ministrando oficinas de pinhole duas vezes por semana. “Apesar de ser uma matéria optativa, fora do horário de aula, as salas enchem. É algo que desperta curiosidade sobre diversos assuntos e ainda oferece perspectiva de emprego”, relata.
A perspectiva de emprego se dá na medida em que os jovens aprendem a utilizar a internet e os computadores para se comunicarem entre si. Tiradas as fotos – na maioria das vezes na própria comunidade ou na escola –, os alunos aprendem a revelá-las. Em seguida, discutem o conteúdo das imagens, comparam com as fotos dos jornais e trocam idéias com pessoas de outras escolas. Tudo via internet.
O próprio Roger Inácio é um exemplo de aluno que conseguiu emprego por causa do programa. A Oficina de Imagens, ao ver seu empenho e interesse, contratou-o para ser “oficineiro” em escolas públicas. Apesar do emprego, o adolescente diz que ganhou mais ao discutir o papel e o trabalho dos meios de comunicação. “A prática me ajudou a aprender em todos os sentidos”, diz.
História
O Latanet começou, ainda como projeto-piloto, em 1997. Naquele ano, 40 jovens de Vigário Geral, comunidade da zona norte carioca, e Alto Vera Cruz, na zona leste de Belo Horizonte, começaram a participar de aulas de fotografia e de oficinas de comunicação. Aos poucos, com a internet, o contato entre os dois grupos aumentou e as discussões sobre mídia foram ampliadas. “Aquele foi um trabalho de sistematização de experiências de fotografia e comunicação que deu certo”, diz Brant.
Em 2000, o Instituto Ayrton Senna passou a apoiar a idéia. Cinqüenta jovens da capital mineira começaram a participar do projeto. A novidade, então, foi a mudança do público-alvo. Em vez de apenas moradores de áreas de baixa renda, foram chamados alunos de colégios de classe média. Foi quando os alunos passaram a aprender também os conceitos de física, química e história.
Em 2002, foi firmada uma parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência (Unicef) e com a prefeitura de Belo Horizonte. Professores começaram a ser capacitados para ministrar oficinas nas escolas municipais em que trabalhavam. Inicialmente, duas instituições de ensino tiveram, no total, 16 professores capacitados. No ano seguinte, o número de escolas atendidas passou para 32, com 50 professores e dez técnicos passando por treinamento. Atualmente são 150 profissionais de ensino participando das capacitações.
De acordo com Bernardo Brant, este ano, outras ONGs, de fora de Minas Gerais, começarão a trabalhar a mesma metodologia, aumentando assim a rede de trocas de mensagens e de análise de mídia.
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