Autor original: Viviane Gomes
Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor
A organização não-governamental pernambucana Gestos - Soropositividade, Comunicação e Gênero lançou recentemente o livro “Diante do Novo - Educação entre pares discutindo direitos sexuais e reprodutivos”. A publicação sistematiza oito anos do projeto Jovens Formadores de Opinião, que consistiu na formação de grupos de adolescentes e jovens para a realização de atividades de prevenção e educação em DST/HIV/aids.
A obra é dividida em três partes. “Na primeira, a gente fala sobre conteúdos, conceitos e categorias de análise que nortearam o nosso trabalho. A seguinte é metodológica, ou seja, mostramos como fizemos para trabalhar com saúde, direitos sexuais e reprodutivos, política e arte-educação com os jovens. A parte final é construída com a fala dos jovens sobre a sua experiência como educadores. Ali, eles e elas contam sobre as vitórias e os sofrimentos que viveram durante o trabalho”, conta Silvia Dantas, coordenadora geral da Gestos.
O projeto começou apenas com a questão da informação. Silvia explica que depois passou à sensibilização de maneira lúdica, introduzindo o teatro para emitir informações sobre HIV/aids. "Essa fase foi até 1999, quando concentramos esforços na atuação política. Foi então que começamos a trabalhar como as desigualdades sociais interferem na questão do HIV". Silvia conta que foi justamente nessa etapa que a Gestos percebeu que precisava de algo mais do que repassadores de opinião. Era preciso ter jovens para multiplicar, formar e construir suas opiniões juntamente com outros jovens.
A partir daí, a atuação dos jovens deixou de ser assistemática. “Eles iriam passar por um processo de formação mais aprofundado e começaram a cumprir estágio em ONGs, nas associações comunitárias, nos movimentos”, diz Silvia. Os grupos eram formados por 25 pessoas, em média, que ficavam com a Gestos por um ano, sendo seis meses de formação e o restante de atividades práticas.
A metodologia mudou para incorporar os jovens sujeitos políticos, participantes do seu próprio processo educativo. “Então a gente começou a envolvê-los na elaboração do planejamento das atividades que o grupo ia desenvolver. E sugerimos que eles pensassem o que queriam fazer, como queriam fazer, como queriam multiplicar o conhecimento para outros jovens e até onde queriam aprender, diz Silvia.”
Politização
Nesta fase, a entidade começou a incentivar o envolvimento dos jovens com os movimentos sociais, para mostrar a relação entre as desigualdades sociais e a epidemia de HIV/aids. Silvia conta que os encontros passaram a levantar questões sobre como a sociedade se constrói desigualmente do ponto de vista de gênero, das classes sociais, de raça e etnia e da orientação sexual. “Começamos a introduzir essas questões porque o que difere a aids das outras doenças é que ela mexe com relações sociais desiguais”, afirma Silvia.
O processo de politização dos jovens e de publicação do livro abriu espaços para reflexões sobre o conceito de comportamento de risco. Para Silvia, quando se utiliza essa expressão – comportamento de risco –, atribui-se à pessoa a responsabilidade sobre a contaminação por HIV. Na verdade, muita gente é contaminada por HIV e não tem responsabilidade sobre isso, como é o caso de mulheres que são estupradas, por exemplo”, esclarece.
Para Silvia, o livro sistematiza tantas experiências desenvolvidas pela organização que se tornou referência para as pessoas que trabalham ou querem atuar na entidade. “Quem trabalha aqui tem de conhecer esse livro, porque todo nosso trabalho está lá”, observa. Segundo ela, a obra também é útil como uma forma de troca de experiências com outras organizações, pois contém a metodologia e o desenvolvimento do trabalho e está à disposição de outros grupos.
Para adquirir a publicação, basta fazer contato com a Gestos pelo telefone (81) 3421-7670 ou pelo correio eletrônico gestos@gestospe.org.br.
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