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Hip hop com sotaque pernambucano

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Hip hop com sotaque pernambucano
Divulgação

Desde meados da década de 80, o hip hop já tinha seus adeptos na cidade de Recife, capital de Pernambuco, mas só a partir de 2002 é que passa a ser visto como um movimento político, social e cultural na cidade. Neste contexto, em 2004, nasce a Associação Metropolitana de Hip Hop em Pernambuco, fruto do primeiro seminário de formação política do movimento de hip hop do estado.

 Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o hip hop não se restringe a um estilo de música. É um movimento sociocultural que, segundo um dos coordenadores da Associação, Sérgio Ricardo, agrega quatro elementos artísticos: o mc(mestre de cerimônia), o dj (disc jóquei), o graffiti e a dança de rua ou break. Aliado a esses elementos artísticos, o hip hop possui um forte componente político e social, resultado da revolta e da indignação em relação à realidade da periferia das grandes cidades.

Em 1982, já surgiam as primeiras manifestações do break nas grandes cidades do Brasil. Contudo, só nos últimos anos, as primeiras organizações e entidades, a exemplo da Associação Metropolitana de Hip Hop em Pernambuco, começam a aparecer. Pedro Henrique de Medeiros Balensifer, um dos coordenadores da Associação, explica como foi o contexto de criação da entidade: “Em 2002, um grupo de militantes do hip hop e do movimento estudantil da Universidade Federal de Pernambuco decidem unir forças para provocar mudanças estruturais na concepção de hip hop. A principal mudança foi o levantamento do debate do hip hop enquanto movimento cultural, social e político e não apenas artístico".

Logo após, foi realizado o I Seminário de Formação Política do Movimento Hip Hop de Pernambuco. Na sua plenária final, a principal proposta aprovada foi a fundação de uma entidade que consolidasse a unidade política do hip hop pernambucano com a congregação dos diversos grupos de rap, break, graffiti e DJs da região. "Essa entidade hoje chama-se: Associação Metropolitana de Hip Hop de Pernambuco”, completa. 

A ONG surge com o objetivo de representar o movimento hip hop de Recife bem como estimular a mobilização da juventude local. Para Balensifer, o hip hop pode ser um instrumento de transformação social, além de servir para elevar o nível de consciência da juventude pobre. “O hip hop, no modelo que defendemos e praticamos, faz a juventude pensar e entender que a política é o elemento que determina a forma de vivermos em uma sociedade”, esclarece. 

Sérgio Ricardo explica que os grupos que fazem parte da Associação têm vida própria no hip hop, e a associação é apenas um ponto de referência. “São, em média, 30 grupos ligados diretamente à associação e 10 diretores que respondem pela entidade. A entidade funciona como uma espécie de sindicato, uma nave-mãe, na qual cada protagonista fala por si. A associação é o reflexo da atuação dos grupos em sua localidade”, diz. 

São realizados encontros e eventos culturais e discussões sobre temas como políticas públicas, resistência cultural, violência, gênero, meio ambiente, mercado fonográfico auto-sustentável, governo, entre outros. Além disso, a Associação estimula a qualificação profissional, através de oficinas de arte- educação.

Assim como em outros lugares onde está presente, o movimento hip hop vem trazendo mudanças na periferia de Recife (PE). Balensifer ressalta que a auto-estima dos jovens aumentou a partir do momento em que passaram a praticar o hip hop. Sérgio Ricardo também percebeu que muitos jovens se distanciaram das drogas, da violência e criaram meios alternativos de geração de renda através da arte do hip hop. Ele conta que muitos já estão dando aulas de dança de rua, discotecagem e graffiti e outros estão voltando a estudar.

“A cidadania no hip hop, hoje, quer dizer: aumento da auto-estima dos jovens das camadas populares, envolvimento com a produção de cultura, internalização individual de uma identidade coletiva, como a que o hip hop proporciona, e conseqüentemente combate à ociosidade e efetivação da inclusão social”, afirma Balensifer.

A Associação atua em parceria com outros movimentos e organizações, além do próprio poder público. Em parceria com a prefeitura de Recife, a Associação criou o Pólo Hip Hop. O objetivo é fortalecer os grupos, bandas e pessoas que direta ou indiretamente contribuem efetivamente com o movimento. Segundo Sérgio Ricardo, o pólo estimula o protagonismo artístico juvenil, a geração de renda e a conscientização política. São realizadas edições mensais com apresentações de rap, break e graffiti. Além disso, são realizadas oficinas e debates sobre temas de interesse da juventude hip hop.

Além de utilizar as ferramentas que balizam o hip hop, Balensifer acha importante a articulação com outros movimentos sociais que promovam a cidadania. "Mantemos relação com o movimento estudantil universitário e com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Realizamos oficinas de hip hop e apresentações artísticas nos encontros desses movimentos. Foi assim, nas 'calouradas' universitárias, no encontro dos sem-terrinhas, na Semana Nacional de Cultura e Reforma Agrária. Além disso, com o MST, ainda participamos de cursos de formação política”, conta.

A participação em fóruns e encontros políticos também é grande. A Associação marcou presença nas discussões relacionadas ao hip hop no Fórum Social Nordestino e no Fórum Social Mundial. Neste ano, a Associação irá sediar em setembro o Encontro Nordestino de Hip Hop. A intenção é fomentar o intercâmbio cultural e a formação política do hip hop no Nordeste.

A sede da Associação fica na Academia de Desenvolvimento Social, em Recife, Pernambuco.

Essa matéria foi alterada na segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Joana Moscatelli

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