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Construindo alternativas

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Construindo alternativas
Divulgação

Até 22 de março, Dia Internacional da Água, o mundo vai discutir no México ações locais para o desafio global da gestão dos recursos hídricos. Enquanto isso, na região sisaleira da Bahia, no Nordeste brasileiro, o Movimento de Organização Comunitária (MOC) realiza, desde outubro de 2005, mais um projeto que busca a melhoria das condições de vida com foco no manejo da água doce disponível na região. O objetivo é aumentar a qualidade da água consumida e estimular uma maior participação das mulheres nas decisões sobre os recursos hídricos.

Através do Programa de Água e Segurança Alimentar, o MOC está formando mulheres construtoras de cisternas para captação de água da chuva em três municípios da região sisaleira. Em Teofilândia, Jucélia Silva, de 22 anos, foi uma das 12 moradoras que participaram do curso, em janeiro. Jucélia lamenta apenas o fato de ter tido de enfrentar um duplo preconceito da comunidade, que não entendia como uma mulher jovem poderia ser pedreira.

“Agora estamos construindo cisternas em outras comunidades. O curso foi muito importante para mim e para a região, já que estava faltando mão-de-obra para a construção de cisternas aqui. Muitos homens saem de nossas comunidades em busca de emprego, por isso a importância de formar mulheres pedreiras. Essa é uma alternativa para as famílias da região que está gerando renda e igualdade de oportunidades para homens e mulheres”.

Maria Auxiliadora, coordenadora do projeto, afirma que a principal dificuldade é romper a barreira que separa o trabalho masculino do feminino, sem falar na resistência das próprias famílias das cisterneiras e da sociedade. Para ela, o impacto da iniciativa tem sido grande, uma vez que as mulheres da região estão começando a perceber que podem ampliar sua renda através de um trabalho que até então era restrito aos homens.

"Muitos não acreditavam, e ainda não acreditam, que elas podem desenvolver esse trabalho, sendo até motivo de piadas. É uma atividade inovadora, mas temos grande esperança de que possa se firmar e que as mulheres passem a ser respeitadas".

A previsão é que as mulheres sejam capazes de construir, ainda em março, 30 cisternas nas comunidades de José Valério e Serrote, financiadas pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), da Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA). Em Retirolândia, de 20 a 27 de março, mais 12 mulheres serão instruídas como pedreiras na comunidade de Baixa do Couro. E no segundo semestre será a vez do município de Lamarão.

O projeto é financiado pela organização internacional Catholic Relief Services (CRS) e realizado em parceria com as Comissões Executivas Municipais sobre água e com o Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais de Teofilândia. As comissões, formadas por sindicatos, igrejas e sociedade civil, são responsáveis pela seleção das comunidades atendidas. De acordo com Auxiliadora, os municípios de Teofilândia e Retirolândia foram escolhidos para o primeiro ano do projeto por já possuírem um movimento forte de mulheres. Mas ela avisa que, ao todo, o projeto atenderá dez cidades do Nordeste.

Geração de trabalho e renda

O curso, cuja duração é de uma semana, pretende também estimular a implementação de políticas públicas de geração de trabalho e renda para mulheres. Por cada cisterna construída, a pedreira ou o pedreiro podem ganhar R$ 165 do P1MC. Criado em julho de 2003, o P1MC pretende incentivar o convívio com o semi-árido de forma positiva. Para Auxiliadora, a intenção é melhorar a qualidade da água consumida e fazer com que os moradores saibam lidar com as potencialidades da região. Segundo dados do site da ASA, o programa busca capacitar famílias para a construção de cisternas, garantindo uma “convivência adequada e digna com a região”.

Apesar de parecer um recurso abundante no mundo, apenas 0,7% da água doce disponível no planeta está acessível ao uso humano. E, como toda a riqueza, é distribuída de forma desigual e explorada como mais uma mercadoria que gera lucro, não como um direito indispensável à vida. Iniciativas como essa apontam para a possibilidade de lidar com a questão da gestão da água de forma simples, porém eficaz.

Joana Moscatelli

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