Autor original: Mariana Hansen
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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Segundo dados de 2005 do Sistema de Vigilância Nutricional, operado pela Secretaria Municipal de Saúde de São João de Meriti, mais de 10% das crianças, entre zero e sete anos apresentam problemas de saúde decorrentes da má alimentação. O próprio Mutirão apresenta um quadro mais alarmante: das 2.862 crianças atendidas, 463 estão desnutridas. Médica do projeto, a Dra. Roseli Monteiro explica que “a maior parte da população é de baixa renda, com famílias numerosas, lideradas por mulheres. É uma população desamparada, com índices de desnutrição acima da média nacional, onde menos de 5% das crianças têm acesso à educação”.
O coordenador do projeto, Diestefano Sant’Anna, conta que o Alimentação é Cultura surgiu a partir do desenrolar do Mutirão. “Há dois anos percebemos que não bastava somente pesar, era preciso mostrar outras formas de enfrentamento da situação. Até os agentes precisavam oferecer algo a mais”, explica. O projeto pretende desenvolver ações de segurança alimentar e nutricional, dando destaque à educação em saúde. Ele quer incentivar as boas práticas alimentares e, desta forma, prevenir a desnutrição materno-infantil, além da obesidade na população adulta.
Para alcançar os objetivos, estão previstas ações educativas, oficinas e cursos, onde serão trabalhados os conceitos de alimentação, dando instrumentos para o alcance de uma alimentação saudável em todas as fases da vida. Também serão trabalhadas experiências práticas de processamento, preparo e aproveitamento dos alimentos, desenvolvidas em uma cozinha pedagógica.
A criação de uma horta urbana comunitária é outro objetivo do projeto que - assim como a cozinha pedagógica - pretende ainda gerar renda para as famílias atendidas. E somado a todas as novas atividades continua o trabalho do Mutirão em parceria com a Pastoral.
Dentro do município, as atividades estarão distribuídas em 50 núcleos de pesagem, agrupados em seis pólos – Praça da Bandeira, Jardim Metrópoles, São Mateus, Éden, Parque Araruama e Centro. A comunidade participa dos trabalhos da entidade voluntariamente e as famílias já cadastras pelo Mutirão serão convidadas a participar das oficinas e cursos. Cristiane de Souza, líder comunitária do pólo Praça da Bandeira, destaca na iniciativa a oportunidade de conhecer melhor e descobrir como utilizar o potencial dos alimentos. “Ele [o projeto] facilita o entendimento da importância da alimentação. E as pessoas levam isso para suas casas, para sua vida pessoal”, relata.
Mobilização social: outro fruto colhido
Junto com a população local, a iniciativa quer apresentar ao poder público propostas de políticas de combate à fome e à desnutrição infantil. Roseli Monteiro acredita que o projeto renovará a abordagem e a organização em torno da luta contra a desnutrição. “O Mutirão colocou o debate sobre a alimentação na agenda pública, mobilizou a sociedade. Eles [a população] viram que podem intervir independente do poder público e melhorar suas condições de vida”, comenta. A formação de lideranças nas áreas de vigilância nutricional e de saúde é o ponto de apoio para essa organização comunitária.
Ao gerar a mobilização da comunidade, o programa trouxe à tona a realidade e as carências da população de São João de Meriti. Organizadas, essas famílias cobram do poder público ações mais efetivas que melhorem suas condições de vida. “A situação das famílias sem renda, sem segurança, interfere na questão da nutrição e da alimentação, e ainda, por tabela, na saúde”, aponta Diestefano Sant’Anna. O projeto vem oferecer - além de seu objetivo básico - um espaço para debate e reivindicação de direitos, assim como uma oportunidade de conhecimento e aprimoramento que produzam mudanças culturais. “A família pode ser pobre, mas pode ser bem alimentada, basta saber como aproveitar os alimentos. O acesso ao conhecimento pode gerar mudanças”, observa Sant’Anna.
A expectativa é de que o Alimentação é Cultura sirva de modelo para um futuro sistema público de combate à desnutrição na Baixada Fluminense. “Queremos demonstrar ao poder público que alguma coisa pode ser feita e gerar resultados para garantir um futuro melhor. Mostrar que pode haver mudanças através de políticas públicas de alimentação”, conclui Roseli Monteiro.
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