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A nova bomba atômica

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Artigos de opinião






A nova bomba atômica
Fotomontagem: Fernanda Webler
Carlos Tautz*

Uma nova bomba atômica. Assim a Via Campesina qualifica as sementes Terminator (Exterminadoras, porque são estéreis e não reproduzem), comparando-as ao pior artefato que a mente humana foi capaz de conceber em toda a história.

As Exterminadoras são uma espécie de transgênico supervitaminado, uma nova tecnologia que as transnacionais querem vender ao planeta inteiro e que se transformaram em um dos principais pontos de discórdia na oitava conferência dos países-membros da Convenção da Diversidade Biológica, a COP-8, que se realiza até 31 de março em Pinhais, na Grande Curitiba.

As Exterminadoras têm realmente um poder explosivo. Na visão dos camponeses, elas prenderiam seus usuários a patentes leoninas, eternas, das quais os agricultores dificilmente conseguem escapar, na medida em que precisam ser adquiridas todos os anos, porque não se replicam.

Em verdade, Terminators sequer podem ser qualificadas de sementes, se considerarmos que sementes se prestam à reprodução - justamente aquilo que as Terminators/Exterminadoras foram preparadas para não fazer. Elas atendem somente aos planos e às necessidades de lucros crescentes de empresas com escalas econômica e tecnológica global. Essas empresas precisam vender sempre mais para sustentarem a sua espiral de crescimento eterno que desafia os limites da natureza.

Não há dúvidas de que essas corporações globais farão o que for possível e até o inimaginável para alcançar esses limites, mesmo que precisem romper com uma tradição milenar de agricultores(as) – que desde sempre guardam e trocam sementes entre si, coletivizando o conhecimento agronômico, numa atividade que não se adeqüa a esse suposto papel "moderno" da biotecnologia.

Como, por exemplo, tentar legitimar o uso dessas "sementes" em acordos internacionais como a Convenção da Diversidade Biológica, uma lei internacional que tenta recuperar a variedade de espécies que vem sendo eliminada da Terra pelo avanço de um paradigma de civilização depredadora e concentradora da possibilidade de vida. É indo assim, no campo do adversário, que empresas como a Delta&Pine, criadora da Terminator, planeja alcançar suas metas.

Ontem, o Brasil afirmou oficialmente que proporá a manutenção da moratória sobre o Terminator e todos os demais Gurts, tecnologias de uso restrito (um eufemismo pseudotecnológico para patentes), conforme decisão de uma COP anterior, a de número 5, realizada no Quênia em 2000.

A posição brasileira é importante para deter os Gurts, Terminators, Exterminadoras ou qualquer que seja o nome dado a essas tecnoporcarias da globalização corporativa. Mas o país precisa de apoio e pressão, internas e externas, para sustentar essa posição tão corajosa quanto supreendente para um governo que por três vezes liberou, inconstitucionalmente, a soja transgênica da Monsanto para consumo inseguro de seus cidadãos.

*Carlos Tautz é jornalista e pesquisador do Ibase (www.ibase.br), em cujo site este artigo foi originalmente publicado.





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