Autor original: Maria Eduarda Mattar
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![]() Foto: F.L.Piton / A CIDADE | ![]() |
1. OBJETIVOS
Esta pesquisa tem como ponto de partida um inventário detalhado de violências que ocorrem no cotidiano da escola, enfatizando como este fenômeno se dá nas interações sociais, nos estabelecimentos de ensino. Dá-se ênfase a um enfoque vivencial e simbólico, que por sua vez abarca tanto experiências dos atores como vítimas, agentes e testemunhas, como o imaginário sobre as várias violências vividas e praticadas. Assim se continua um quadro de pesquisas da UNESCO sobre a temática iniciado com o livro Violências nas Escolas (Abramovay e Rua, 2002). Sublinha-se o cotidiano escolar, e como neste se entrelaçam processos de construção da violência. Privilegiam-se as percepções de alunos, professores, diretores e demais integrantes da equipe técnica e funcionários dos estabelecimentos de ensino.
Na pesquisa faz-se o registro de atos e situações que envolvem violências, infrações/delitos em escolas públicas de cinco capitais brasileiras e no Distrito Federal e a análise das percepções desses sujeitos em relação à violência, ao clima escolar, às relações sociais, ao sistema de punição das escolas, às medidas para enfrentar as violências, bem como sugestões sobre como se antecipar e lidar com o fenômeno.
2. ABRANGÊNCIA
O levantamento de dados foi realizado em 2003 em cinco capitais brasileiras – Belém, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre – e no Distrito Federal. Estas localidades foram selecionadas de modo a se compor uma amostra que permitisse a representação de todas as regiões. Vale ressaltar que a pesquisa qualitativa abrangeu as 6 capitais e a quantitativa foi restrita a 5 delas (Belém, Salvador, São Paulo, Porto Alegre e Distrito Federal). Dessa forma, os números apresentados nas tabelas dos capítulos que se seguem não incluem o Rio de Janeiro, onde se optou por fazer apenas a pesquisa qualitativa. Embora a ausência de uma amostra representativa e de dados quantitativos não autorize as generalizações para esta capital, os dados qualitativos oferecem uma abordagem expressiva sobre as violências que interferem nas escolas, bem como nas comunidades que as circundam.
Como o objetivo da pesquisa é analisar a violência escolar, enfocando prioritariamente as experiências e percepções de adolescentes e jovens, o levantamento de dados se concentra em turmas de alunos a partir da 6ª série do ensino fundamental e de todo o ensino médio. Optou-se por se fixar nesse grupo, pois, nessa faixa etária, eles possuem trajetória e vivência na escola, sendo capazes de fornecer uma visão mais orgânica sobre o fenômeno.
Além de alunos, também participaram do levantamento professores, diretores, integrantes da equipe técnica das escolas e policiais/seguranças.
O estudo foi realizado em escolas urbanas, estaduais e municipais, com pelo menos 500 alunos, controlando-se, assim, uma possível relação entre densidade demográfica e a ocorrência de fenômenos como a violência. As dinâmicas e interações sociais nas grandes escolas são mais complexas e variadas.
O levantamento foi realizado somente em escolas públicas, não porque estas sejam mais violentas, mas porque elas apresentam um maior grau de vulnerabilidade, visto que são menos providas de recursos humanos e materiais, com maior índice de abandono, evasão e reprovação, uma maior diversidade cultural da clientela e portanto menos homogêneas do que os estabelecimentos da rede privada. Exemplos disso podem ser encontrados no livro Ensino médio, múltiplas vozes, onde se documenta que as escolas públicas têm situações mais desfavoráveis quanto ao acesso a recursos, aos tipos de espaços disponíveis, além de concentrarem mais indicadores de insatisfação do que as escolas privadas (Abramovay e Castro, 2003). Alguns resultados desse estudo são bastante eloqüentes nesse sentido. Enquanto 50% dos alunos do ensino médio das escolas públicas já foram reprovados alguma vez, 25% já o foram na escola privada. Algo semelhante se observa no que diz respeito à repetência e ao abandono: 43% dos alunos de escolas públicas já repetiram o ano, contra 19% na escola privada. A taxa de abandono aferida na pesquisa é de 19% nas escolas públicas e de 4% nas escolas privadas.
3. AMOSTRAGEM
A população-alvo desta pesquisa são os alunos de ensino fundamental (a partir da 6ª série) e de ensino médio de escolas urbanas, estaduais e municipais da rede pública de ensino do Distrito Federal e das quatro capitais brasileiras citadas anteriormente. Foram selecionadas escolas urbanas estaduais e municipais que possuem, pelo menos, 500 alunos matriculados, incluindo aqueles de turmas de aceleração.
Para a seleção dos alunos foi realizada uma amostra probabilística que permite a realização de inferências não apenas sobre o conjunto de estudantes pesquisados, mas também sobre o universo de alunos dos ensinos fundamental e médio das escolas públicas nas capitais citadas (1.685.411 alunos). Já a amostra de membros do corpo técnico pedagógico tem caráter não probabilístico, de forma que os dados apresentados sobre essa população são referentes apenas àqueles que responderam ao questionário, não sendo permitidas as generalizações para o universo de professores e outros adultos das escolas nas localidades pesquisadas.
* Este é um extrato da pesquisa "Cotidiano das escolas: entre violências", coordenada por Miriam Abramovay. A íntegra pode ser obtida na área de Downloads desta página ou no site da Unesco, www.unesco.org.br.
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