Autor original: Joana Moscatelli
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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Inspirada na primeira experiência de TV de rua da América Latina – a TV Viva –, nasceu em 1990 a BemTV. A idéia surgiu durante uma oficina de vídeo no Encontro Nacional de Comunicação (Enecom) realizado em São Luís, no Maranhão. Ao ouvirem falar da TV Viva, iniciativa do Centro Cultural Luis Freire, de Pernambuco, dois alunos da Universidade Federal Fluminense (UFF) se encantaram com a idéia e resolveram trazê-la para a cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.
Assim como a extinta TV Viva de Recife (PE), a BemTV, que em 1992 se transformou em uma organização não-governamental, produz seus vídeos com a participação das comunidades onde atua e os exibe em locais públicos, como associações de moradores, escolas e praças. No começo, a principal preocupação era usar o vídeo em prol da mobilização social, o que explica o trabalho com o Movimento Pela Posse de Terra de Niterói. Márcia Côrrea e Castro, coordenadora da Bem TV, conta que inicialmente eram filmadas passeatas, assembléias e qualquer outro tipo de ação do movimento. Os vídeos eram exibidos em comunidades pobres dos municípios.
“Tenho que ser sincera. No início, as pessoas não se interessavam muito pelos vídeos, só quem gostava eram as pessoas do próprio movimento. Percebemos, então, que precisávamos ouvir mais as pessoas que moravam nas comunidades de baixa renda e não apenas agir de acordo com aquilo que pensávamos. Passamos a trabalhar com as demandas reais das comunidades e, com o tempo, a atuar com os jovens, que sempre foram o público mais interessado no nosso trabalho”.
Atualmente, o principal projeto da BemTV é o Olho Vivo, que oferece oficinas de mídia e incentiva a formação de grupos de jovens comunicadores. No caso das oficinas de jornal, as aulas abordam texto, reportagem, programação visual e fotografia. Nas de internet, os jovens aprendem a criar páginas Web e participam de encontros que debatem a importância da inclusão digital. Nessas oficinas, são incentivados a participar de forma mais ativa na comunidade onde vivem e a lutar por melhores condições de vida.
A primeira comunidade atendida foi a do Morro do Preventório, onde 60 adolescentes usaram a fotografia para conhecer mais o passado e o presente da região. Em 2004, a iniciativa deu origem ao Jornal Comunitário do Morro do Preventório, com uma tiragem de 3 mil exemplares. Além do Preventório, o Olho Vivo está presente também na comunidade da Grota do Surucu e na de Jurujuba, onde também foram produzidos jornais comunitários. Essa produção pode ser vista no portal Niterói Comunidades [cujo endereço está disponível na área de Links desta página, à direita].
Até hoje, passaram pelo projeto cerca de 180 jovens, participando de oficinas de fotografia, vídeo, webdesign e jornal impresso. Para Márcia Castro, o principal impacto da iniciativa é na forma como a comunidade enxerga o jovem: “A comunidade passou a valorizar o papel do jovem e a considerar e até solicitar suas opiniões e contribuições para temas que preocupam a comunidade. Esse é um reconhecimento da mobilização dos jovens, que passaram a se unir em prol de seus interesses, refletindo no lugar onde vivem”.
Outro projeto da Bem TV é o Nós da Fita, primeiro grupo de jovens comunicadores que utilizam o vídeo para tratar das questões da comunidade do Morro do Preventório. É composto por cerca de dez jovens na faixa de 13 a 20 anos que buscam discutir, através dos vídeos, temas como cidadania, juventude, lixo e eleições.
A preocupação com a escola pública
Além do trabalho nas comunidades, a BemTV promove diversas atividades dentro das escolas públicas do município. Uma delas foi o projeto Um Olhar sobre a Aids, que tinha como objetivo diminuir os índices de gravidez precoce e contaminação de DST/aids entre os jovens de Niterói.
Atualmente, jovens da comunidade do Preventório estão levando para alunos e professores da rede pública de ensino a discussão sobre o papel da escola pública nos dias de hoje. É o projeto Vendo a Escola, Revendo a Educação. “É a primeira vez que levamos para a escola o próprio tema da escola pública", diz Márcia. "Isso é muito importante, pois até agora só foram trabalhados temas como DST, drogas e sexualidade, mas nunca se discutiu a qualidade do ensino público, por exemplo, que é um tema tão presente na vida desses alunos e professores”. Mas a novidade encontrou um ambiente fechado ao diálogo e disposto a permanecer imutável por medo ou alienação. “A escola é um espaço muito fechado e precisa se abrir ao diálogo, à avaliação e à melhoria de seus métodos e práticas”, aconselha.
Para Márcia Castro, a escola pública tem um papel primordial na formação de jovens críticos e conscientes, o que na realidade acaba não acontecendo. "Os problemas que vivemos hoje no Brasil", afirma, "só serão resolvidos com políticas públicas que passam necessariamente pela escola pública".
Na próxima semana, a BemTV vai propor um novo projeto para ensinar professores a usarem em sala de aula os recursos do vídeo, do rádio e da internet. A idéia é utilizar essas ferramentas para auxiliar no processo educativo de crianças e adolescentes. Segundo Márcia, a comunicação é um meio de tornar o processo pedagógico mais atraente e mais eficiente. “O que pretendemos com esse projeto e com todos os outros da BemTV é justamente usar a comunicação como um meio para formar jovens mais críticos e solidários, capazes de transformar aquilo que está errado dentro da nossa sociedade”.
Para ela, a comunicação é uma ferramenta eficaz, com um forte componente estruturante, que obriga a pessoa a parar para pensar e construir um discurso próprio. O resultado, conclui, é a assimilação da informação, a construção do conhecimento e uma consciência mais crítica da realidade.
Matéria atualizada em 2 de maio de 2006.
Erramos
Ao contrário do que afirmamos no texto, a TV Viva não está extinta. Pelo contrário, continua em plena atividade. Pedimos desculpas ao Centro de Cultura Luiz Freire, aos leitores e às leitoras.
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