Mulheres em rede

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

Ativistas na área de gênero e tecnologia do Programa de Apoio a Redes de Mulheres da Associação para o Progresso das Comunicações (APC) acabam de lançar uma versão em espanhol do GenderIT.org – um portal sobre políticas públicas de tecnologia da informação e comunicação (TICs) para mulheres. O portal GenderIT.org foi lançado em inglês em 2005 e agora inaugura sua versão atualizada em espanhol, incluindo também artigos e documentos em português.

Com este lançamento, o GenderIT.org passa a ser uma das poucas referências dedicadas às questões das mulheres e as TICs nas línguas espanhola e portuguesa. Voltado para América Latina, Caribe, África lusófona e Espanha, o novo portal também divulga informações referentes a outros países, de acordo com Graciela Selaimen, editora do GenderIT.org em espanhol/português. “As notícias podem ser de qualquer lugar do mundo, desde que estejam traduzidas nessas línguas”, informa.

O portal GenderIT.org oferece informação e recursos sobre políticas de TICs tanto para principiantes como para tomadores de decisão. Na seção “Conversaciones feministas” se abre um fórum no qual podem ser lidas as últimas novidades sobre o que ocorre no mundo das políticas de TICs e os desafios que essas tecnologias implicam ao movimento de mulheres e seus direitos. Também são encontrados ali documentos e estudos de casos, entrevistas com ativistas na área de gênero e TICs, calendário de eventos e um interessante glossário para facilitar o entendimento do jargão próprio no âmbito das TICs.

A proposta do projeto é mostrar que as TICs são, sim, um tema importante para a questão de gênero e precisam ser mais incorporadas tanto pelas políticas públicas quanto pelo movimento de mulheres. “As mulheres não devem ser apenas foco das políticas públicas; devem também participar da formulação de políticas e acompanhá-las”, diz Graciela.

Visibilidade e combate ao crime

As tecnologias de informação e comunicação podem constituir uma ferramenta importante em áreas prioritárias para o movimento de mulheres, como o combate à violência de gênero. “Existe pouco material escrito sobre experiências práticas de como a tecnologia pode estimular o combate à violência de gênero", lembra Graciela. "Queremos estimular a produção de conteúdo sobre esse tema e dar visibilidade a esse material”.

Para as mulheres indígenas e rurais, segundo ela, a questão da visibilidade é particularmente importante, pois as TICs lhes dão voz e permitem transformar sua realidade. “Nesses povos, a discriminação de gênero é muito maior do que nos grandes centros. Para essas mulheres, o acesso às TICs é muito mais difícil. Quando conseguem, isso tem um grande impacto nas vidas delas”, diz.

Além de destacar a necessidade de incluir a perspectiva de gênero em políticas de TICs e de promover o ativismo de gênero na construção de políticas públicas, o GenderIT.org mostra também que se pode agir contra os usos perniciosos dessas tecnologias, como acontece no caso do tráfico de mulheres. O uso das TICs possibilita a criação de redes internacionais de combate ao crime e a disponibilização de bancos de dados e informações que podem ser úteis até mesmo para a polícia.

“A internet é uma ferramenta poderosa na mão de criminosos, como no caso da pornografia infantil, mas o contrário também pode ser feito. A mesma tecnologia que ameaça os direitos das mulheres pode servir de defesa e alerta para elas e de combate ao crime, por meio da denúncia e da conscientização. E isso, para as mulheres, é muito importante, pois é um esforço do movimento feminista”, afirma Graciela.

O portal está aberto a colaborações, destaca a editora: “A idéia é dar visibilidade às pessoas que estejam pensando nesses temas. Esperamos que elas participem, opinem e contem suas experiências por meio de artigos”.

Mariana Loiola