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Olhares e experiências da mulher brasileira

Autor original: Mariana Hansen

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor






Olhares e experiências da mulher brasileira
Foto: J.R. Ripper

Em 1995, a cidade de Pequim, na China, abrigou a IV Conferência das Nações Unidas para as Mulheres, onde foi estabelecida uma plataforma de ação para melhorar as condições das mulheres em todo o mundo. Uma década depois, o projeto “Olhares Femininos, Mulheres Brasileiras”, organizado pela [X] Brasil, faz um balanço dessa plataforma e discute os próximos dez anos em âmbito nacional. Definida como um projeto multimídia de comunicação de massa, a iniciativa conta com exposição fotográfica, ciclo de debates, mostra de filmes e o lançamento de duas publicações – “Olhares femininos, mulheres brasileiras” e “De mãos dadas: oito experiências de sucesso”.

As publicações podem ser consideradas o carro-chefe do projeto. “Olhares femininos, mulheres brasileiras” é uma coletânea de textos, muitos em tom de reportagem, assinados por mulheres que trabalham com as questões de gênero no país. “Cada ensaio foi escolhido para desenvolver um tema da agenda nacional. Havia uma preocupação em traçar essa agenda, com temas atuais”, revela Marta Porto, diretora da [X] Brasil. A coletânea está dividida em três eixos temáticos principais: o universo íntimo feminino; as desigualdades de gênero e sociais; e direitos humanos e acesso à Justiça.

No primeiro eixo, são abordados assuntos como excesso de cuidados com o corpo, erotismo, sexualidade, fidelidade vinculada ao direito à saúde reprodutiva e HIV/aids. Em um segundo momento, o livro traz o problema das desigualdades de gênero e de classes, com questões tradicionais, entre elas o acesso ao mercado de trabalho. A publicação conta ainda com um ensaio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre o futuro das meninas, as violências mais típicas do universo feminino (abuso sexual, prostituição infantil e tráfico de meninas) e o crescimento dos empregos domésticos. No último eixo, observam-se temas como a violência doméstica, o desafio das mulheres camponesas no acesso à terra e a representação das mulheres no espaço púbico.

Trabalho de formiguinha

“De mãos dadas: oito experiências de sucesso” resgata projetos de norte a sul do Brasil – voltados para mulheres e desenvolvidos por elas – que trabalham pontos da Plataforma de Pequim e contribuem para os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Cerca de 40 projetos foram indicados, mas apenas oito entraram, somados a um capítulo especial sobre cinco organizações que fizeram e fazem a história do feminismo no país.

Cada uma das experiências tem sua introdução feita por uma visão masculina. Nomes como Drauzio Varella, Gilberto Dimenstein, Alcione Araújo e Agop Kayayan agregaram “um olhar a mais, amarrando outras questões com sua experiência. Queríamos dar o outro lado também. Por isso escolhemos [para cada apresentação] pessoas que tivessem um ‘link’ com o projeto, estivessem ligadas àquele universo”, explica Andréia Peres, jornalista responsável pela publicação.

Andréia destaca o fato de o trabalho dar um rosto e um nome às estatísticas e pesquisas apresentadas, que não entram na realidade das pessoas e nem nos seus significados. “É um retrato humano do Brasil”, observa.

De acordo com Andréia, a partir das histórias relatadas, “você percebe que tem gente construindo um trabalho paralelo e com resultados. O livro traz esse Brasil construído por inúmeros anônimos que não se conformaram com a realidade em que vivem e não ficaram de braços cruzados”. Como resultado, espera que o projeto dê visibilidade ao que está sendo feito para que se avance nas questões sociais. “Espero que sirva para dar visibilidade ao trabalho de formiguinha dessas mulheres e que ajude a multiplicar essas experiências”, arremata.

Como vai você, mulher brasileira?

De 10 a 12 de maio, junto com o lançamento das duas publicações, será realizado também o seminário “Como vai você, mulher brasileira?”. Durante três dias, haverá palestras e debates sobre os progressos e as dificuldades das condições das mulheres brasileiras em torno dos temas abordados no livro “Olhares femininos, mulheres brasileiras”. Alguns filmes também serão exibidos para motivar as discussões. Entre eles estão: “Uma história Severina” de Débora Diniz e Eliane Brum; “Meninas”, de Sandra Werneck; e “Anjos do Sol”, de Rudi Lagemann.

O objetivo do projeto é discutir o tema não apenas de forma acadêmica, mas também revelar o que as mulheres estão fazendo de bom. "Não é mostrar o quanto elas precisam lutar, mas mostrar em que estágio de contribuição e luta estão”, explica Marta.

O evento contará ainda com a exposição “Mulheres brasileiras rumo às Metas do Milênio”, reunindo uma coletânea de fotos de J. R. Ripper e do acervo das organizações, além de obras de arte popular brasileira, documentos, filmes e objetos. A exposição é organizada em oito módulos, baseados nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

O último dia do seminário será voltado para os jovens, discutindo os próximos dez anos e as Metas do Milênio. “Queremos funcionar como uma antena parabólica dos jovens, por isso o último dia é voltado para eles. Saber o que essa geração tem a dizer sobre as questões da mulher e pensar os próximos dez anos a partir dessa fala”, explica Marta Porto.

A programação completa do evento e o formulário para inscrições estão disponíveis em www.xbrasil.net/mulheres, onde também podem ser adquiridas as duas publicações.


Mariana Hansen

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