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Participação além da escola

Autor original: Mariana Loiola

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Participação além da escola


Desde 2001, o projeto Escola Participativa envolve comunidades de municípios paranaenses na redução da violência e na difusão da cultura de paz. Desenvolvido pelo Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha), por meio de cursos de capacitação com conteúdos de cidadania e direitos sociais, o projeto oferece a lideranças comunitárias e agentes sociais um espaço para reflexão e articulação de ações. Os cursos são realizados em espaços cedidos por escolas, associações, sindicatos, paróquias e igrejas. A iniciativa conta com a parceria de diversos órgãos públicos, como o Ministério da Justiça, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná e secretarias municipais de Educação.

O Escola Participativa era voltado inicialmente para a sensibilização de guardas, policiais civis e militares de Curitiba. “No primeiro ano, capacitamos todo o efetivo da guarda municipal”, conta Yeda Nichetti, coordenadora do projeto, que posteriormente foi ampliado para novas regiões e municípios e passou a atender outros grupos. Hoje, a iniciativa envolve também estudantes, professores, gestores escolares e membros de associações locais. Mais de 4 mil pessoas já participaram dos cursos de capacitação. Para 2006 e 2007 estão previstas 80 turmas em todo o estado.

Redescoberta e plano

O curso é dividido em quatro módulos e dura, ao todo, 12 meses. Os dois primeiros módulos são teóricos e abordam temas amplos como ética, direitos e deveres, violência, mediação de conflitos, preconceito, democracia, políticas públicas e orçamento público, entre outros. A auto-estima individual e da comunidade é o tema que provoca maior impacto nos alunos, segundo a coordenadora Yeda Nichetti. Através das aulas teóricas, os alunos percebem que a baixa auto-estima é uma das principais causas da violência. “Os primeiros módulos do curso estimulam um processo de redescoberta nas pessoas, que se sentem mais fortalecidas”, diz.

Os últimos módulos são voltados para a elaboração de um plano de ação coletiva. Orientados por um educador do Iddeha, os participantes elegem prioridades de ação para a melhoria da qualidade de vida da comunidade em que vivem. Em seguida, preparam e executam um plano que contribua para o desenvolvimento e a solução de problemas locais. A revitalização de associações de bairro, a promoção de cursos de formação profissional, a realização de atividades para crianças em situação de risco e a elaboração de orçamentos públicos são algumas das atividades já realizadas pelas comunidades paranaenses com o suporte da Escola Participativa.

O único requisito para participar do curso é ter mais de 16 anos, de acordo com Nichetti. “A maioria dos alunos é formada por lideranças. Mas nem todos são. Alguns começam a sentir que sua participação é importante quando conhecem melhor a realidade em que vivem”, diz.

Em ação

Iraci dos Santos se prepara para colocar em prática o plano de ação elaborado durante o curso junto à comunidade em que vive, em São José dos Pinhais. O plano prevê campanhas de conscientização para a recuperação dos rios Maciel e Pequeno. “Nossa intenção é mobilizar nossa comunidade para não jogar lixo nos rios e recuperar essa área de região manancial, que hoje não tem nem rede de esgoto. Vamos buscar parcerias para a distribuição de panfletos informativos e promover palestras”, diz.

Iraci, que preside uma associação de moradores da região, estava há muitos anos atenta ao problema. Com a ajuda dos orientadores do Iddeha, teve a chance de elaborar um plano de ação para solucionar os problemas da sua comunidade. No entanto nem todos os participantes do Escola Participativa estavam engajados antes do curso. Alguns descobriram seu potencial de liderança e transformação ao longo das aulas. É o caso da dona-de-casa Regina Lacerda. “Eu estava bastante desmotivada, mas vi que, como cidadã, poderia ajudar muito o meu bairro”, conta. Com a experiência que já tinha em artesanato, Regina preparou cursos de tear voltados para a geração de renda de mulheres da comunidade em que vive, no Jardim Tropical, em Curitiba. Duas turmas de mulheres já aprenderam a produzir cachecóis e echarpes de lã; outra turma deve começar neste mês. “No início, essas mulheres não tinham dinheiro nem para custear o material de produção. Hoje estão ganhando o seu dinheirinho sem precisar sair de casa, podendo cuidar dos filhos”, relata.

Mariana Loiola

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