Autor original: Mariana Hansen
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
![]() Trecho do vídeo | ![]() |
Para estimular o empoderamento de mulheres jovens e a eqüidade de gênero, o Instituto Promundo lançou o vídeo educativo “Era uma vez outra Maria” e um manual de técnicas baseados nas experiências de meninas de baixa renda do Brasil e do México. O material faz parte do Programa M que procura gerar reflexões e questionamentos sobre “normas tradicionais de gênero”, em cima de pesquisas desenvolvidas com mulheres com idade entre 15 e 24 anos.
A coordenadora do projeto, Christine Ricardo, explica que o Programa M é baseado no Programa H. Este é voltado para homens jovens e tem como objetivo incentivar a reflexão sobre as regras tradicionais relacionadas à masculinidade e promover comportamentos mais eqüitativos de gênero. “O programa gerou várias mudanças nas atitudes dos homens que participaram. E para completar esse trabalho começamos a focar as mulheres, usando a mesma metodologia de avaliação”, explica Christine.
Em 2004, iniciou-se a pesquisa com jovens do Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE) e do México. Através dos grupos focais, as meninas puderam debater os principais temas de seu universo e dar base para o desenvolvimento do material. “Queríamos avaliar a fala das mulheres. Entender suas atitudes, desafios e experiências”, conta Christine.
”Era uma vez outra Maria” vem no formato de desenho animado e conta a história de uma menina que começa a questionar os padrões que existem e busca alternativas. E esse processo é objetivo de todo o material educativo. Gerar questionamentos sobre os padrões e regras impostos pela sociedade. A sociedade é representada no vídeo por um lápis, muitas vezes tomado por Maria que refaz suas opções.
Até chegar em sua versão final, o vídeo, assim como o manual, passou pela aprovação das jovens. Vanessa Moraes, 20 anos, moradora da Maré, no Rio, conta que mudaram o que achavam não ser exatamente o que acontecia em suas vidas. O nome do vídeo e o corpo da personagem também sofreram alterações, ganhando mais a cara das meninas. “Tinha cenas em que o lápis [a sociedade] dominava demais ela. Mas não é assim que acontece com a gente, a sociedade não domina tanto”, acrescenta Vanessa.
De acordo com Verônica Moura, 21 anos, uma das participantes dos grupos focais na comunidade Santa Marta, no Rio, “tudo o que está na versão final do vídeo é a realidade, principalmente em comunidades como a minha. No final, a Maria dá a volta por cima e isso faz com que a gente reflita sobre as nossas vidas. Hoje sou discípula desse vídeo, ele mudou minha vida toda”.
O manual, que poderá ser usado por professores de saúde e educação em grupos de mulheres, tem como objetivo auxiliar o trabalho desses capacitadores e promover discussões. Em sua introdução, apresenta o conceito de gênero e explica o que são direitos. Depois, dedica-se aos seguintes temas: identidade e relações, corpo e sexualidade, violência, direitos sexuais e reprodutivos, maternidade, drogas, trabalho, participação comunitária e HIV/Aids. Além da edição em português, terá versões em inglês e espanhol, pois se pretende levar o projeto para outros países.
Segundo Christine Ricardo, não existe uma regra para a utilização do material. A intenção era “criar um material fácil de usar, para facilitar as discussões e que qualquer pessoa pudesse aplicar”. A expectativa é de que seja disseminado em oficinas de capacitação para comunidades, ONGs, governos e organismos internacionais, a exemplo do que acontece com o material do Programa H.
No final deste ano, será feita a avaliação de impacto do vídeo e do manual. Mas os frutos do trabalho já podem ser observados nas falas das meninas que participaram do projeto. “Eu aprendi a me amar mais, me respeitar e não aceitar tudo o que me impõem. Hoje em dia, eu sei o que eu quero. Não quero depender de marido, quero ser independente, ter meu trabalho, estudar e ser parceira de meu esposo”, conta Verônica, que acaba de ficar noiva.
Para Vanessa, o programa ampliou sua visão em relação aos seus direitos como mulher e ela busca levar esses questionamentos para sua vida comunitária. Ela conta que a experiência a ajudou a lutar e trabalhar para que atitudes machistas, como a violência contra a mulher, acabem. “Consegui mais autonomia para conversar com os meus colegas [homens] sobre essas atitudes. Consegui meios de chegar neles e questionar aqueles que acham normal a violência contra a mulher”, revela.
Livro e vídeo também estão sendo testados em condomínios de classe média no Rio de Janeiro, por incentivarem o auto-cuidado das adolescentes nas questões relativas à saúde sexual e reprodutiva, o que inclui a prevenção do HJV/aids e da violência de gênero.
Sobre as expectativas, as entrevistadas são positivas. Christine espera que o material “fortaleça as relações e troca de experiências. Promova idéias menos machistas e engaje jovens em vários contextos”.
“Espero que a mulher jovem de hoje possa ter o mundo dela e não viver o mundo dos outros”, reflete Verônica. “A gente quer causar reflexão a respeito do que elas estão vivendo e vão viver. Tem outro caminho e a gente pode proporcioná-lo”, completa Vanessa.
Para saber informações sobre como obter o vídeo e o manual, basta entrar em contato com o Instituto Promundo [ver endereço eletrônico na área de Links Relacionados].
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