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Parte da nossa história

Autor original: Luísa Gockel

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Parte da nossa história
Divulgação

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) está completando 25 anos. Para comemorar o jubileu, uma exposição no Museu da República, no Rio de Janeiro (RJ), traz fotos e textos que relembram a trajetória da organização e do país na luta pelos direitos políticos e sociais dos cidadãos. A mostra “A luta pela democracia faz parte da nossa história” marca as comemorações do aniversário de uma das principais organizações do país.

Fundado por Herbert de Souza – o Betinho -, Carlos Afonso e Marcos Arruda, o Ibase foi pensado como uma organização não-temática que realizasse um acompanhamento crítico das políticas públicas e lutasse pela democratização da informação, levando até a maioria da população - a base. O Brasil - que na época da fundação do Ibase, 1981, já tinha iniciado o seu processo de redemocratização - ainda guardava muitas marcas dos anos de repressão política. “O Ibase foi pensado no exílio por três militantes de esquerda e representou uma mudança profunda e estratégica no processo de conquista da democracia”, diz o diretor geral do Ibase, Cândido Grzybowski.

A ONG nasceu neste contexto, falando sobre cidadania para uma população que ainda guardava fortes lembranças dos anos de chumbo. No início, a entidade também foi recebida com desconfiança pelas outras ONGs brasileiras, já que insistia na importância da utilização das tecnologias da informação como arma na luta pela cidadania. Mesmo assim, o crescimento do Ibase se deu rapidamente graças à característica de vanguarda da organização, que esteve à frente de importantes movimentos políticos ao longo da sua história.

Segundo Grzybowski, a história da organização é muito marcada pelo processo brasileiro de construção da democracia. “O Ibase começa antes da Constituição de 1988, mas segue um processo de afirmação dos princípios éticos e da cidadania”, conta. A entidade foi protagonista de movimentos que marcaram a história do país como a Campanha Nacional pela Reforma Agrária, no final da década de 1980, o Movimento pela Ética na Política, que culminou no impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, e a campanha da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, em 1993, que vem mobilizando o país desde então, especialmente na época do Natal.

Todos esses momentos estão presentes na exposição itinerante, que circulará por escolas e estações de Metrô do Rio de Janeiro. De acordo com Dulce Pandolfi, diretora do Ibase e organizadora da mostra, o primeiro painel – Repressão e Protesto – expõe a luta pela democracia. Como o instituto começou a ser pensado no exterior, com os seus organizadores no exílio, a exposição começa mostrando o golpe de 1964 e a instauração da ditadura. “Mostramos também a organização dos movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Paralelo a isso, temos painéis, cartazes e fotos sobre ações do Ibase ao longo desses 25 anos”, explica Pandolfi.

Olhando para ao passado, Grzybowski avalia que em alguns episódios a organização foi fundamental. Em outros, nem tanto. “Algumas coisas deram muito certo, como o engajamento da instituição na campanha pela reforma agrária, na situação de meninos e meninas que moram nas ruas e contra a fome. Mas a organização também se empenhou por causas que na deram em nada, como a campanha por uma república parlamentar, na época do plebiscito”, lembra.

Para Grzybowski, o Ibase manteve a sua essência de ser um instituto para a base. Mas essa característica encontra hoje alguns desafios diferentes do que os da época da sua fundação. “Antes, a base era pensada num contexto muito nacional e hoje temos de pensar no global. Mas a idéia continua sendo a de construir uma democracia da base para o topo”, avalia.

Novas estratégias

Não é só o passado que está sendo lembrado no aniversário. Diretores, colaboradores e organizações do Brasil e do exterior se encontraram no dia 16 de maio para discutir o futuro da organização. A idéia que foi proferida em uníssono por todos os diretores da organização é a busca por um novo modelo de desenvolvimento. “Hoje a idéia é renovar as propostas sobre democracia, pensando sobre que tipo de desenvolvimento é necessário, sempre tendo como centro os direitos humanos”, explica Grzybowski.

A idéia do encontro, que reuniu em Petrópolis (RJ)dirigentes e organizações do Brasil e do exterior, chamado de Plataforma Ibase, não é só avaliar os 25 anos passados, mas traçar estratégias para o futuro. De acordo com o diretor geral, muito foi feito, mas vários problemas persistem, tais como desigualdade social e segurança. Para João Sucupira, também diretor do Ibase, há um esgotamento das práticas atuais e por isso o Ibase é um importante espaço de debate sobre esse novo modelo de desenvolvimento que o país deve adotar daqui para a frente.

“Temos de radicalizar a democracia. Aproveitamos o aniversário da organização para pensarmos no futuro, no desenvolvimento. Não se trata apenas de crescer economicamente, mas de respeitar os direitos. O que sabemos é que esse modelo vigente não nos interessa mais”, sentencia Sucupira. O que os dois diretores concordam é que o momento é de olhar para o futuro. “Em 25 anos muita coisa mudou para as organizações sociais. Na época, a sociedade estava massacrada pela ditadura. Hoje, temos instituições, mas isso não é o suficiente”, analisa Sucupira.

O importante para os dirigentes da organização é que alguns temas ficaram mais claros com os anos. A idéia de desenvolvimento ligada ao passado, à Era Vargas ou a Juscelino Kubitschek, deve ser renovada. A agenda agora, segundo Grzybowski, deve incorporar temas como meio ambiente e direitos humanos. “Estamos fazendo emergir esse novo. Estamos pensando mais na integração regional da América Latina. Não precisamos adotar uma agenda social truculenta, mas podemos dialogar e nos associar a outros povos”, acredita.

A crença num futuro diferente parte da constatação de que o presente é preocupante. Para Sucupira, o estágio atual é tão grave, que muitas vezes tem-se dificuldade de encontrar soluções para os problemas. “Estamos no fundo do poço”, ressalta. Ainda sim, o diretor acredita que é possível encontrar uma saída participativa, através do controle social. “Agora é a hora de construirmos um país mais justo”, diz.

Nessa busca, o Ibase tem papel definido: “uma pequena instituição como o Ibase pode mover as coisas, se souber mover direito”, diz Grzybowski.


Luísa Gockel

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