Autor original: Luísa Gockel
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
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A lenda do menino de cabelos cor de fogo e de pés invertidos que habita as florestas inspirou o nome da ONG Novos Curupiras. A entidade, que luta pelo desenvolvimento sustentável do arquipélago de Marajó (PA), foi fundada há 16 anos e tem como foco a comunidade extrativista da região. A organização faz um trabalho de capacitação e educação ambiental e vai abrir em breve uma rádio comunitária em Tucumanduba, no município de Soure. A idéia é capacitar jovens para criação, produção e edição de programas para a comunidade, de modo a ampliar o acesso à informação.
O projeto Tucumanduba no Ar pretende proporcionar à comunidade local, carente de infra-estrutura básica, o direito de se comunicar. De acordo com Carlos Gondim, diretor e fundador da ONG, o embrião da rádio comunitária foi plantado muito antes de a organização ser selecionada para receber recursos do Instituto Telemar, através do programa Novos Brasis. "Uma vez fizemos uma árvore de natal com garrafas PET. Da árvore, restou um poste de bambu de uns nove metros de altura. Resolvemos instalar alto-falantes, um microfone e um radinho", conta.
Para o padre começar a anunciar o horário da missa e as mães passarem a dedicar músicas para os filhos foi um pulo. "A iniciativa teve um grande impacto na comunidade. Aquela rádio do poste, que tinha um alcance mínimo que variava com a velocidade do vento, começou a interferir no dia-a-dia das pessoas", lembra Gondim. Agora, com a nova rádio, com uma infra-estrutura melhor e pessoas capacitadas para operar a aparelhagem e produzir programas, a expectativa é que o veículo de comunicação possa ser usado como instrumento de valorização da cultura local.
Ir a Tucumanduba, que fica distante cerca de três quilômetros do centro da cidade de Soure, era como fazer uma viagem no tempo, explica Gondim. “Quando nos distanciávamos da rede de rodovias principal, íamos nos deparando com uma realidade triste. Eles não tinham energia elétrica, telefone, nem fornecimento de água”, conta. A necessidade de ações como a instalação da rádio, que trabalhem a auto-estima da comunidade, são fundamentais. Ele explica que as pessoas que trabalham com o extrativismo, principalmente os catadores de caranguejos, são fortemente excluídas. "Muitos não tinham documento de identidade nem CPF quando chegamos lá. Insistimos que era preciso ter documentos", diz.
Gondim enfatiza, no entanto, que o trabalho da Novos Curupiras está longe de ser assistencialista. "Existe essa cultura do paternalismo, e muitas vezes somos cobrados quando não damos alguma coisa de graça à comunidade. Os cursos de capacitação já são de graça. Queremos que eles tenham noção de que o nosso trabalho é provisório ali e eles têm de aprender a correr atrás sozinhos. É aquela velha história de ensinar a pescar".
O trabalho já surtiu efeito. Um grupo de mulheres decidiu criar a sua própria associação. Elas produzem artesanato e medicamentos caseiros e sobrevivem do comércio desses produtos.
Além da implantação da rádio comunitária, a Novos Curupiras está desenvolvendo vários projetos. Todos ligados à preservação do meio ambiente e à capacitação de comunidades do município de Soure. Um exemplo é o projeto Povos dos Manguezais, financiado pelo programa Petrobras Ambiental. "Fomos os únicos selecionados pelo programa no estado do Pará", orgulha-se Gondim. Segundo ele, a diversificação das fontes de financiamento foi fundamental para a sobrevivência da organização. "Foram 16 anos de muita luta. Mas tentamos nos profissionalizar e ir em busca de recursos através de editais", conta, lembrando que o primeiro computador adquirido pela ONG, em 1998, foi através de um edital do Ministério de Ciência e Tecnologia, do qual tomou conhecimento através da Rets.
Apesar de o foco da organização sempre ter sido a preservação ambiental, a ONG tem priorizado os trabalhos com mulheres. “Temos concentrado os esforços nas comunidades extrativistas, que são a principal fonte de renda da localidade. Mas desde 2001 temos dado atenção especial às mulheres, porque percebemos que elas são mais participativas. São as verdadeiras transformadoras”, acredita Gondim.
Além disso, a Novos Curupiras abriu uma outra frente de ação: a inclusão digital. O espaço multimídia foi criado graças à doação de 20 máquinas usadas do Banco do Brasil. No espaço, aberto à comunidade, é realizado um projeto de alfabetização digital, com utilização de software livre.
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