Autor original: Mariana Hansen
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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Em 1999, por iniciativa de Wanda Engel, então titular da Secretaria de Estado de Assistência Social do governo Fernando Henrique Cardoso, o antigo prédio da extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA) foi cedido para que organizações não-governamentais ali montassem suas sedes. Segundo a presidente da Associação Palácio das ONGs (Palong), Heloisa Coelho, o número 275 da avenida General Justo estava subutilizado e servia como uma espécie de depósito. “Um prédio enorme em completo estado de abandono”, lembra.
Na época, muitas entidades não quiseram ocupar o espaço, pois precisava de reformas e elas não possuíam recursos para isso. Aquelas que aceitaram o desafio precisaram cumprir algumas exigências como ter um trabalho de relevância comprovada, situação jurídica definida e formalizada, além de capacidade para assumir as reformas da sala a ser ocupada. Muitas das instituições que foram para o Palácio não se conheciam, por isso decidiu-se criar a Associação, que hoje é responsável pela manutenção das áreas comuns do prédio, possível com o pagamento de uma taxa mensal de R$ 2,50 por metro quadrado. Ou seja, as entidades pagam o equivalente pelo espaço que utilizam.
Contar essa história de revitalização do prédio, assim como outras sobre as ONGs do Palácio, é a idéia do livro. Seu objetivo, de acordo com Heloisa Coelho, é “registrar e divulgar o trabalho das organizações”. A publicação foi produzida de modo a contemplar todas as organizações de forma igual, independente do trabalho de cada uma. A cada entidade são dedicadas duas páginas – uma contando uma história peculiar de sua origem e outra descrevendo seu perfil, com informações relevantes do trabalho de cada uma. A publicação ainda traz um glossário com 27 verbetes comuns ao universo das entidades. “Muitas terminologias não eram de conhecimento geral, o glossário foi quase uma conseqüência do trabalho”, como explica Marco Teobaldo.
Outra contribuição esperada da obra é o reconhecimento das ações das entidades, que “terão mais apoio de forma geral, especialmente do poder público para manterem seus espaços”, como torce Heloisa Coelho. “Toda vez que um novo ministro assume, ficamos inseguros em relação à manutenção da política”, revela. Por isso a publicação, que foi enviada para várias instâncias do governo, também tem por objetivo buscar apoio político e evitar um futuro despejo. “A partir do momento que você mostra esses trabalhos tão variados, que beneficiam tanta gente, vai ser mais difícil tirar a gente daqui”, completa.
Para Marco Teobaldo, “a experiência do Palácio das ONGs chama a atenção pela diversidade que existe entre os trabalhos realizados lá dentro. Mesmo na diferença, as ONGs se comunicam entre si, reúnem-se em assembléias, trocam idéias e fazem parcerias umas com as outras”. Segundo o coordenador do Centro de Educação Sexual (Cedus), Roberto Pereira, “o processo de revitalização por que passou o edifício Darcy Vargas é um exemplo de sensatez”. O Cedus é uma das ONGs que têm sede lá.
Além de inovadora, como muitos classificam a iniciativa, a criação do Palácio influenciou a trajetória das entidades lá sediadas. Questões como sustentabilidade, importância de ter um escritório para desenvolver as ações e possibilidades de parcerias são algumas das reflexões experimentadas por muitas das organizações que moram no Darcy Vargas. Segundo Roberto Pereira, “além do impacto financeiro por conta da diminuição dos custos com aluguel, que minavam os poucos recursos institucionais, fazer parte da Associação trouxe uma nova e rica experiência de convivência mais próxima e interativa com instituições de diferentes perfis e objeto de trabalho. Deu a todos uma nova dimensão de mobilização social”.
A gerente de desenvolvimento institucional da Associação Brasileira Terra dos Homens, Valeria Nogueira, reitera a questão da sustentabilidade explicando que, como as instituições não têm fins lucrativos e vivem através dos recursos de projetos sazonais, não possuem manutenção garantida. “Ter uma sede própria, com custos baixos, especialmente em momentos de transição de projetos, é muito importante”, lembra. Na visão de Rosangela Castro, coordenadora geral do Grupo de Mulheres Felipa de Sousa, “o que acontece é uma troca. Temos o espaço, mas desenvolvemos um trabalho em conjunto com o governo, trabalhando onde o governo não consegue atuar. Esse espaço ainda garante um atendimento de melhor qualidade”.
Já tendo atingido cerca de 1,5 milhão de pessoas nesses cinco anos de atividades, a experiência serve de exemplo, e os inquilinos da Palong esperam sua reprodução em outros imóveis inutilizados pelo governo. Heloisa Coelho acredita que a idéia é uma excelente alternativa para organizações de pequeno e médio porte, que não têm dinheiro para sede própria. “Pode ser uma grande solução e uma forma do governo colaborar com terceiro setor, ao mesmo tempo em que a ONG mantém o patrimônio bem cuidado”, aponta. Valeria Nogueira, da Terra dos Homens, vê a experiência como a “materialização da importância efetiva que o terceiro setor tem para a economia nacional, para o governo e para solução de problemas sociais”.
O lançamento do livro, assim como do site da Palong – www.palong.org.br – são o começo de uma série de ações articuladas pensadas para manter o espaço. Como apontou Rosangela Castro, as organizações se sentem em uma corda bamba. Os associados ainda pensam na realização de um grande seminário anual, que envolveria tanto as ONGs como órgãos do Estado, dando destaque para as causas sociais. “A proposta é fortalecer cada vez mais a proposta”, conta Roberto Pereira.
A publicação pode ser solicitada pelo site da Palong, na seção “Fale Conosco”. A distribuição é gratuita.
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