Autor original: Luísa Gockel
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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Com o objetivo de produzir e disseminar conteúdo relevante sobre a realidade latino-americana a partir de um olhar da sociedade civil, a Rits, em parceria com outras oito organizações da América do Sul, está lançando o portal informativo Mosaico Social. A iniciativa faz parte do projeto RitsLAC, que pretende formar uma rede regional de entidades que trabalhem para a integração e o fortalecimento da sociedade civil na região. O site foi lançado oficialmente no dia 5 de julho.
De acordo com o diretor executivo da Rits, Paulo Henrique Lima, o projeto RitsLAC nasceu a partir do contato com entidades latino-americanas e da avaliação internacional do trabalho realizado pela Rits com a Revista do Terceiro Setor (Rets). “Vimos que a experiência da Rits no tratamento da informação era bem avaliada por representantes da sociedade civil de outros países. Começamos então a participar de redes não só latino-americanas, mas internacionais, como a APC [Associação para o Progresso das Comunicações], e passamos a socializar a experiência feita aqui no Brasil com outros países da América Latina”, conta.
No Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre, a idéia foi apresentada à Fundação Kellogg, que apoiou a iniciativa. A formação de uma rede de entidades sul-americanas e a produção conjunta de um site com conteúdo voltado para a sociedade civil representam a consolidação da primeira fase do projeto. “Para a segunda fase, estamos buscando apoio junto a entidades que tenham a integração regional da América Latina como objetivo para podermos integrar ao projeto América Central, Caribe e México”, afirma Paulo Lima.
Além disso, a conquista de novos apoiadores, segundo o diretor da Rits, garantiria a realização de eventos como seminários que poderiam enriquecer a formação de jovens jornalistas desses países. “Estamos apresentando o projeto para outros parceiros, para que mais adiante possamos realizar encontros que reforcem a tradição latino-americana do 'periodismo [jornalismo] social'" planeja Lima.
A tradição de jornalismo crítico ou social remete, segundo a editora do site, Beatriz Bissio, à revista Cadernos do Terceiro Mundo. A jornalista foi uma das fundadoras da publicação, que circulou por três décadas em dezenas de países e contou histórias negligenciadas pela grande imprensa. Beatriz ressalta a necessidade e a expectativa de que o portal adquira personalidade e vire referência para a sociedade civil. Na essência, os dois projetos – Cadernos e Mosaico – apresentam semelhanças, mas, segundo ela, há muitas diferenças. “A internet pede que trabalhemos com critérios próprios, com recursos de áudio e vídeo. Claro que a nossa prioridade será sempre a qualidade do conteúdo escrito, mas vamos procurar enriquecer ao máximo o site com ferramentas multimídia”, diz.
Todos os representantes sul-americanos têm jornalistas que se dedicam ao projeto e produzem o conteúdo semanal, que é decidido em reuniões de pauta online. A multiplicidade de olhares – que estão perto espacialmente, mas muitas vezes enfrentam diferenças culturais marcantes – não é um problema, segundo Lima. “Seria uma dificuldade reunir toda essa diversidade se não tivéssemos uma pessoa como a Beatriz, que, pela sua experiência, nos ajuda a fazer com que o conteúdo faça sentido para todos os países”, avalia.
Integração e identidade
Segundo Lima, é uma nova forma de abordagem da integração regional. “A América Latina vive um momento de estabilidade e não podemos perder a oportunidade para discutirmos a integração regional a partir do olhar da sociedade civil”, analisa. Para Beatriz, dois aspectos importantes devem ser observados: o fato de o conteúdo relevante para a sociedade civil não ter o espaço que merece na grande imprensa e que a produção desse material venha de uma parcela da sociedade civil inserida em diferentes contextos e que, na sua maioria, tem como bandeira a luta pela democratização das ferramentas tecnológicas.
A busca por uma identidade regional que dê respostas aos inúmeros contextos político-sociais na região pode ajudar essas entidades a analisar melhor suas realidades locais. “O Mosaico pode ajudar estas instituições a enxergarem sua problemática nacional sob um olhar mais amplo. Como temos representantes de toda a América do Sul, e em breve teremos de toda a América Latina, estamos trabalhando para formar cidadãos latino-americanos que pensem num âmbito maior do interesse comum”, analisa Beatriz, ressaltando a importância desta perspectiva de pensar o local e o regional sob a ótica de bloco, como é a tendência mundial.
De acordo com a editora, o objetivo não é propor uma pauta que responda aos temas trabalhados pela grande mídia. “Vamos criar a nossa própria agenda de debate, ficando sempre atentos aos temas importantes que podem estar sendo deixados de lado pela mídia ou pela agenda política dos países”, acrescenta.
Além de minimizar o desequilíbrio existente entre a quantidade de conteúdo produzido em inglês e o produzido em português e espanhol, a iniciativa fortalece a integração regional e ajuda a enfraquecer a idéia de que o Brasil é um país deslocado dentro da América Latina. “A idéia veio preencher um vazio que existia, de trabalhar essa ferramenta a partir de um encontro latino-americano. O fato de ter sido o Brasil a propor já é interessante e nos mostra essa nova maneira de olhar a identidade latino-americana”, diz a jornalista. Para Paulo Lima, de fato, o Brasil passou muito tempo de costas para a América Latina, mas essa era a postura de todos os países.
Segundo Beatriz, os 30 anos de trabalho na revista Cadernos do Terceiro Mundo ajudaram a apurar o olhar para essas questões regionais. “Há uma identidade latino-americana. Senti isso no passado e hoje sinto com mais solidez. No Brasil, houve um avanço positivo nesse caminho, pois ele está se abrindo para a América Latina em todos os níveis. E, por sua vez, os países de língua espanhola começam a procurar entender mais desse país que tem outra língua e uma história que muitas vezes caminhava diferente da deles”, analisa Beatriz.
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