Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Artigos de opinião
![]() Ilustração: Ricardo Soares | ![]() |
A urgência de voltar a debater que desenvolvimento queremos para o nosso país vem ganhando corpo a cada dia entre vários setores da sociedade. Não dá mais para esperarmos pacientemente (e passivamente) por um projeto que estabeleça o vínculo efetivo entre as políticas de desenvolvimento e a justiça social. Diante da constatação de que não basta eleger representantes e esperar que as coisas mudem, uma frase de Guimarães Rosa sinaliza a porta de saída desse perigoso estado de inércia: “Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas de carne e sangue, de mil e tantas misérias”. Dessa sábia advertência, emerge a compreensão de quanto é fundamental, para que o Brasil de fato tome o rumo da superação de suas trágicas desigualdades, a ampliação da participação da sociedade nos espaços de discussão, formulação e decisão, trazendo suas experiências, demandas e urgências, influenciando na escolha dos projetos e na alocação dos recursos públicos.
Por isso, um grupo de organizações da sociedade civil (entre elas o Ibase e a Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais) vem reivindicando, já há mais de um ano, uma maior interlocução com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cujo desembolso em 2005 foi de 47 bilhões de reais, o que o coloca no topo da lista das instituições que contamos para alavancar o almejado desenvolvimento inclusivo. Essa aproximação [leia mais informações ao final do artigo**] não visa ter acesso a recursos para a realização de projetos. Trata-se de algo mais ousado e que tem como princípio a idéia de que o diálogo sistemático só pode contribuir para incrementar a construção de estratégias de um desenvolvimento socialmente mais justo.
Pelo lado da sociedade, a convivência com um corpo funcional preparado para levar em consideração as inúmeras variáveis que envolvem a formulação de programas de fomento, seria muito importante para uma compreensão menos fragmentada da realidade. Já o BNDES teria em troca o acesso a experiências e informações de entidades que estão muito próximas do público que vem sendo afetado diretamente, para o bem ou para o mal, por projetos financiados pelo Banco. Essas organizações, também podem apontar inúmeras oportunidades de investimento que, por falta de apoio, não saem do terreno do “alternativo”. Enfim, são grupos que têm contato direto com esse Brasil de “pessoas de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias” - e também muita criatividade! - e que querem compartilhar seus conhecimentos, contribuindo para o melhor direcionamento dos recursos públicos.
Não se trata de criar mais entraves para a liberação dos empréstimos, mas de contribuir para que, na definição dos critérios de aprovação de projetos, nas linhas e programas de financiamento, entre outras coisas, as empresas sejam incentivadas a praticarem uma postura socioambiental mais responsável. Trata-se, na verdade, de estabelecer um compromisso ético político que coloque o interesse social como prioritário em qualquer projeto de investimento e de afirmar que desenvolvimento com democracia só se faz dialogando com amplos setores da sociedade civil.
* Luciana Badin é economista e pesquisadora do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
**O ponto de maior visibilidade nessa aproximação entre sociedade civil e BNDES que Luciana Badin reivindica acontecerá na próxima quinta-feira, 13 de julho, no Rio, quando se realiza o seminário "O BNDES que temos e o que queremos: o papel do banco no financiamento do desenvolvimento nacional democrático". Participarão ONGs, movimentos sociais, diretores do banco e representantes governamentais. Outras informações em www.ibase.br.
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