Autor original: Joana Moscatelli
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
![]() Divulgação | Circo do Mundo Brasil | ![]() |
Em cartaz em São Paulo desde o dia 3 de agosto, o espetáculo “Saltimbanco”, do Cirque du Soleil, não é a primeira ação da companhia canadense no país. Apesar de só agora se apresentar no Brasil, o grupo realiza desde 1995, através do programa social Cirque du Monde, atividades que buscam a cidadania e o desenvolvimento integral de jovens e crianças de comunidades pobres brasileiras. A fim de fortalecer ainda mais essas iniciativas, 22 organizações sociais brasileiras se articularam em 1998 e formaram a Rede Circo do Mundo Brasil, que usa a linguagem artística como instrumento de ensino e aprendizagem para crianças e jovens.
A utilização da arte, em especial do circo, como método educacional alternativo é uma tentativa de construir canais de expressão, socialização e promoção da cidadania de crianças e adolescentes de comunidades pobres. Para Junior Perim, articulador internacional da rede e coordenador do Programa Social Crescer e Viver, a escola pública brasileira falha em oferecer instrumentos para a formação de cidadãos críticos e conscientes, por isso são tão importantes ações sociais como as implementadas pela rede. O objetivo não é revelar talentos, mas oferecer oportunidade de escolha para esses jovens, por meio de atividades artísticas, culturais, físicas e esportivas – espaços onde possam conhecer suas potencialidades e limitações, permitindo o seu desenvolvimento integral como sujeitos e cidadãos. “Para nós da Rede Circo do Mundo Brasil, a arte-educação tem papel fundamental na construção do sujeito. Não queremos formar profissionais de circo, sequer o mercado de cultura, lazer e entretenimento seria capaz de absorver toda essa "mão-de-obra", afirmou Perim.
Transformação social
Uma das principais atividades da rede é a formação de educadores com base no conceito de “circo social”, que busca utilizar as artes circenses para estimular o desenvolvimento integral de crianças e jovens, oferecendo instrumentos para que se tornem pessoas mais independentes e conscientes. Trata-se de uma nova vertente das artes circenses que reúne técnicas do circo, elementos da cultura popular e do folclore brasileiro e promove o diálogo entre essas diversas linguagens no processo de ensino e aprendizagem.
A rede tem trabalhado para difundir esse conceito no Brasil e influenciar na elaboração de políticas públicas que visam à garantia dos direitos humanos, econômicos, sociais e culturais, em especial para crianças e jovens de comunidades pobres. Perim afirmou que a rede assumiu o desafio de consolidar esse conceito como um meio eficaz para o fortalecimento da cidadania ativa. A intenção é construir um espaço em que seja possível descobrir valores como solidariedade, cooperação e cuidado com o próximo – valores que, segundo ele, são intrínsecos às artes circenses.
Com o objetivo de interferir nos espaços públicos nacionais e internacionais, a rede participa de Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, de Conselhos de Cultura e de redes sociais de educação, cultura e assistência. Integra também a Câmara Setorial do Circo, criada pelo Ministério da Cultura para debater e formular políticas públicas para o circo no Brasil. Além disso, foi uma das fundadoras da Associação Latino-Americana de Escolas de Circo e, tem um assento permanente no Encontro Internacional de Formação de Instrutores em Circo Social, que é coordenado pela Diretoria de Circo Social do Cirque du Soleil. Este ano, o encontro acontece em setembro, na cidade de Montreal, no Canadá.
As atividades da rede também pretendem democratizar e difundir as oportunidades de fortalecimento e desenvolvimento institucional das organizações que a compõem. “Estes movimentos da Rede Circo do Mundo Brasil são o que eu classifico de ‘solidariedade institucional’. Nestes tempos em que cresce o número de organizações da sociedade civil competindo entre si, colocando-se à frente de sua natureza, que é compreender seu papel como um ator de transformação inserido em um processo mais amplo, que envolve outros atores, as organizações da Rede Circo do Mundo Brasil vêm, ao longo destes anos, amadurecendo a idéia de que seus objetivos institucionais só serão alcançados quando o conjunto da sociedade civil organizada estiver fortalecido”, defendeu Perim.
Durante a temporada do Cirque du Soleil em São Paulo e no Rio de Janeiro – o espetáculo "Saltimbanco" fica em São Paulo até outubro e estréia em novembro no Rio –, serão organizados dois eventos para venda de convites doados pela empresa que está produzindo o espetáculo. Os recursos arrecadados vão possibilitar a criação de um Fundo Autônomo de Recursos, antiga meta da rede.
Cerca de 10 mil jovens já foram atendidos em 19 cidades de todo o país. Entre elas destacam-se: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE), Salvador (BA), Maceió (AL), Terezina (PI), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) , Juazeiro do Norte (CE), Campinas (SP), Assis (SP), Mogi Mirim (SP), Londrina (PR), Niterói (RJ), São Gonçalo (RJ) e Belford Roxo (RJ).
Para Junior Perim, a rede encontrou na milenar arte circense um jeito novo de fomentar e desenvolver processos que auxiliam na construção da cidadania de jovens e crianças. Ao longo de sua atuação, ele destaca, tem aproximado diversos atores sociais que buscam melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes oriundos de comunidades pobres. “Esta é a nossa utopia: o sonho de um Brasil justo e democrático. E quem descobre a beleza e o encantamento das artes circenses descobre que não é tão difícil realizar esse sonho” .
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