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Saúde em estado de alerta

Autor original: Luísa Gockel

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Saúde em estado de alerta
Foto: birdfludefense.com

Especialistas vêm monitorando o vírus H5N1, o causador da gripe aviária, desde 1997, quando infectou humanos pela primeira vez. Em 2003, o vírus se espalhou por países da Ásia, deixando o planeta em alerta para uma possível pandemia. Levantamento publicado no fim de junho pela Organização Mundial de Saúde (OMS) traz os resultados da primeira análise de dados epidemiológicos de todos os 205 casos de vírus H5N1 oficialmente relatados à OMS e confirmados em laboratório de dezembro de 2003 a abril de 2006.

De acordo com a publicação, a incidência de casos humanos aumenta durante o período que corresponde ao inverno e à primavera no hemisfério norte. Se este padrão continuar, segundo a OMS, é possível prever um aumento de casos no fim deste ano e no início de 2007. Atualmente, a organização mantém um nível de alerta na categoria 3 numa escala que vai até 6 (estágio em que é feito o alerta para o risco de pandemia). Ainda não há, porém, transmissão entre humanos. Até hoje, apesar de algumas especulações e alarmes falsos, a contaminação só se deu entre pessoas e aves.

Na história, três pandemias ocorreram no planeta: a gripe espanhola, a asiática e a gripe de Hong Kong. Todas no século XX. Uma pandemia ocorre quando um novo vírus se espalha e é transmitido entre humanos como uma gripe comum. Por ser um novo tipo de vírus, o sistema imunológico humano não consegue reagir a tempo. Neste estágio, a pandemia é inevitável, de acordo com informações da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Especialistas lembram que, no começo do século XX, a gripe espanhola matou cerca de 50 milhões. E era uma época em que os fluxos de pessoas se davam essencialmente por navios. Hoje uma pandemia se espalharia de forma rápida e implacável. Segundo Cristiana Toscano, consultora da Opas, o vírus influenza H5N1 não foi isolado no continente americano até o momento. Ela explica que estratégias de prevenção estão sendo implementadas e incluem fortalecimento de sistemas de vigilância da presença do vírus em humanos e aves. Para ela, este ainda é um momento de prevenção na América Latina.

De acordo com o Ministério da Saúde, apesar de o vírus ter se espalhado para Europa e Ásia – ele já foi detectado em aves na Alemanha, na França, na Suécia, na Dinamarca, na Espanha e na Itália –, o risco de o Brasil apresentar casos da doença é relativamente baixo. Segundo informações do site do ministério, o motivo é que não há focos em nações vizinhas e o país não importa aves para o consumo. Pelo contrário, o Brasil é um dos maiores exportadores do mundo. Além disso, ainda segundo o governo, as rotas fundamentais de aves migratórias para o país originam-se em regiões até aqui livres de contaminação.

A OMS, no entanto, é enfática ao dizer que o aparecimento do vírus em aves selvagens em novas áreas aumenta a possibilidade de que mais casos em humanos ocorram. Embora ainda não seja possível prever com precisão a severidade e o momento da possível pandemia, a possibilidade de que isso ocorra aumentou consideravelmente nos últimos meses. A consultora da Opas, no entanto, é otimista. Para ela, a pandemia não seria tão desastrosa. “Se espera que um vírus com capacidade de transmissão entre humanos não seja tão letal e não cause doença tão grave em humanos quanto o vírus influenza H5N1”, diz Toscano.

Rets - No fim de junho, a OMS divulgou um relatório no qual alerta para o risco de a gripe aviária evoluir a ponto de contaminar mais pessoas até o fim do ano, principalmente no inverno do hemisfério norte. Que cuidados são necessários?

Cristiana Toscano - Períodos de inverno são aqueles nos quais normalmente há circulação mais intensa de vírus da influenza humana. Neste período, costuma haver maior aglomeração de pessoas. A transmissão por via respiratória se dá mais facilmente por esse motivo. A influenza aviária subtipo H5N1, atualmente circulando em aves em vários países no mundo, se transmite para humanos através da exposição direta e próxima destas aves infectadas ou mortas pelo vírus influenza H5N1, ou ainda por ingestão de carne ou sangue de aves crus ou mal-cozidos. O vírus da influenza aviária é morto com o cozimento.

Há várias recomendações de prevenção que podem minimizar o risco de infecção de humanos, que inclui o uso de equipamento de proteção adequado ao manipular aves infectadas, o cozimento de carne, sangue e ovos de aves e evitar exposição às aves em mercados ou criatórios em países onde o vírus está circulando. O vírus influenza H5N1 não foi isolado no continente americano, até o momento. As estratégias de prevenção de uma introdução do vírus estão sendo implementadas e incluem fortalecimento de sistemas de vigilância de influenza em humanos, de influenza aviária em aves e vigilância de aves migratórias.

Rets - Um dos médicos que elaboraram o relatório afirmou que é importante que as autoridades nacionais compartilhem mais informações sobre a gripe aviária com as Nações Unidas. Há casos de desinformação ou omissão de notícias na América Latina?

Cristiana Toscano - No Brasil, há intensa interlocução entre a Opas e as autoridades nacionais e grande cooperação nas atividades de prevenção sendo desenvolvidas. As informações são intercambiadas em tempo real entre autoridades nacionais e a Opas no Brasil e nos outros países da América Latina.

Rets - O mesmo médico, Fred Hayden, disse que, apesar de o relatório ser bastante vasto, muitas informações ficaram de fora. Ainda há dados desconhecidos sobre a gripe?

Cristiana Toscano - A gripe aviária pode ser causada por vários subtipos virais, e cada um deles tem características distintas. O H5N1 é um desses subtipos e é da natureza do vírus influenza sofrer pequenas alterações genéticas progressivamente. Assim, algumas características do vírus podem variar. Por esse motivo, não sabemos com exatidão como o vírus vai se comportar caso passe a ser transmitido entre humanos. Várias informações novas são decorrentes do estudo e do acompanhamento detalhado dos casos humanos que vêm ocorrendo desde 2003.

Rets - A internação por contaminação se dá, em geral, em quatro dias. Dada a precariedade dos sistemas de saúde latino-americanos, o risco de a gripe se tornar ainda mais letal é grande?

Cristiana Toscano - A maioria dos casos humanos que ocorreram até o momento foi de pessoas com doença grave que tiveram de ser internadas no período de até uma semana após o início dos sintomas. À medida que o vírus sofre alterações genéticas, a gravidade dos casos humanos pode ser alterada. Se espera que um vírus com capacidade de transmissão entre humanos não seja tão letal e não cause doença tão grave em humanos quanto o vírus influenza H5N1, que atualmente circula entre aves e pode causar doença em humanos. No entanto não se pode prever qual será o comportamente de uma cepa pandêmica do vírus, caso ela venha a surgir. Os sistemas de saúde em todo o mundo estão se preparando para uma potencial pandemia, considerando as recomendações da Organização Mundial da Saúde.

Rets - Muito se comenta sobre os perigos da gripe aviária, mas há pouca orientação por parte dos governos. Há mesmo motivo para alarde?

Cristiana Toscano - Os governos têm seguido todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde, que inclui o desenvolvimento de planos detalhados de preparação contra uma pandemia, organização dos serviços de saúde, pesquisa e desenvolvimento de vacinas contra a influenza pandêmica, fortalecimento de sistema de vigilância de influenza em humanos e em animais, capacitação e treinamento de profissionais de saúde humana, veterinária e outros profissionais, entre outros. Informações sobre várias destas atividades e orientações podem ser acessadas nas páginas eletrônicas do Ministério da Saúde [www.saude.gov.br] e da Opas [www.opas.org.br/influenza].

Rets - O Brasil é um dos maiores exportadores de frango do mundo. Como a Opas qualifica as medidas tomadas pelo Brasil para evitar a contaminação das aves pela gripe aviária?

Critiana Toscano - A Panaftosa, instituição da Opas que trabalha com a área de saúde animal, tem colaborado com o Ministério da Agricultura, que já implementou um plano específico de prevenção da influenza aviária em aves no Brasil. Essas atividades seguem recomendações internacionais de prevenção.

Luísa Gockel

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