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Idéias e práticas para o fim da violência

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Novidades do Terceiro Setor

Uma das principais preocupações da sociedade brasileira nos dias de hoje, a segurança pública passou a contar com um espaço virtual para troca de informações e conhecimentos.  Lançado oficialmente no dia 9 de agosto, o portal Comunidade Segura, iniciativa da organização não-governamental Viva Rio, pretende discutir e analisar o tema da violência em todo o mundo, mas com especial foco na América Latina e no Caribe. A idéia é envolver não só policiais e profissionais do setor, mas também pesquisadores, jornalistas, educadores, políticos, ONGs, movimentos sociais, vítimas e agressores, homens, mulheres e jovens.

A proposta do portal é ser um ambiente totalmente interativo em que as pessoas possam participar de redes e grupos de discussão sobre as diversas questões que envolvem a violência. “A idéia é formar comunidades virtuais, fóruns de debates e chats onde se possa discutir questões pontuais relacionadas à segurança pública. Em um dos primeiros debates desse tipo, tivemos a participação do ministro dos Direitos Humanos, por exemplo”, contou a coordenadora do portal, Mayra Jucá. Além disso, todo o conteúdo jornalístico também é aberto a comentários e críticas por parte dos leitores.

Segurança Pública, Controle de Armas e Juventude e Violência Armada são os três eixos principais do portal, que contém reportagens, entrevistas, artigos, estatísticas, dossiês e informações sobre a legislação de diversos países. Também são apresentados exemplos de boas práticas em cada área, estimulando a troca de experiências e a disseminação de iniciativas bem-sucedidas.

O tema Segurança Pública busca abordar o que está sendo feito e discutido no que se refere ao controle da violência e da criminalidade. Mayra Jucá afirma que o objetivo é estimular a relação entre a sociedade e os profissionais e instituições de segurança, tradicionalmente fechados ao diálogo. “Esse é um desafio para nosso trabalho, pois percebemos que há uma carência de espaços onde os policiais também possam dar opiniões e propor idéias. Mas tivemos uma recepção muito boa por parte desses profissionais quando fizemos um teste de divulgação do portal durante o seminário “A polícia que queremos”, promovido pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. Vários policiais se cadastraram no portal e fizeram comentários sobre os temas discutidos, e pudemos observar que existe, sim, um interesse em trocar idéias e opinar sobre temas como o Caveirão [veículo blindado utilizado pela PM do Rio de Janeiro em incursões em favelas] e a corrupção na corporação, entre outros”, conta a coordenadora do portal, acrescentando que a tendência é aprofundar ainda mais a participação desses profissionais.

O controle das armas de fogo é outra questão que preocupa não só o Brasil, mas toda a América Latina e, segundo Mayra Jucá, tem sido, nos últimos anos, alvo de ações e discussões não só por parte de governos e instituições públicas, mas também de organizações civis. “Existe na América Latina um interesse muito grande sobre esse assunto, sobre a necessidade de controlar o uso das armas, que funcionam como um vetor da violência. O conteúdo do site Desarme.org [www.desarme.org], também do Viva Rio, que produzia material específico sobre esse tema, foi todo incorporado ao portal Comunidade Segura”.

O tema Juventude e Violência Armada, por sua vez, aborda as questões que tratam da relação de crianças e jovens com o crime organizado, confronto de gangues e ações da polícia. Assim como no tema das armas, parte do conteúdo jornalístico de outro projeto do VivaRio, o Coav, sigla em inglês para Crianças em Violência Armada Organizada [www.coav.org.br], foi incorporada ao portal. A idéia é discutir temas como criminalização do jovem, maioridade penal e equilíbrio entre medidas de prevenção e repressão.

Além desses temas, o portal dá espaço para outras questões importantes, como a relação entre gênero e violência, a mediação de conflitos e a relação entre violência e saúde. Segundo Jucá, outros temas podem ser acrescentados de acordo com o material que seja produzido. Neste momento, a questão do tráfico ilegal de drogas, que guarda uma relação estreita com a violência, hoje, no Brasil só não foi incluída por ausência de reportagens e estudos mais aprofundados sobre o tema.

O portal conta também com uma biblioteca virtual que funcionará como uma base de dados científicos e acadêmicos sobre os diversos assuntos que perpassam a segurança pública e os direitos humanos. Atualmente, a biblioteca já possui diversos documentos de instituições e centros de pesquisa do estado do Rio de Janeiro. A intenção é ampliar cada vez mais o conteúdo, incluindo estudos de todo o Brasil e da América Latina. Mayra Jucá explica que a idéia é facilitar o acesso a documentos e pesquisas sobre a violência e compartilhar o conhecimento produzido com toda a sociedade. Qualquer um – estudantes, pesquisadores, movimentos sociais, gestores e operadores do Sistema de Segurança Pública e Justiça Criminal – que tenha interesse e conhecimento sobre o tema pode acessar e cadastrar conteúdos na biblioteca.

O clima de insegurança e medo em que vive hoje a sociedade brasileira e latino-americana exige uma abordagem urgente das suas causas e conseqüências. Mas, como ressalta a coordenadora, esse é um tema com múltiplos fatores, que envolvem questões sociais, culturais, históricas e econômicas, e não será resolvido de uma hora para outra. “É necessária muita discussão e reflexão sobre o que já foi pensado e feito, para que toda a sociedade possa participar e cooperar para gerar as transformações que queremos”. Para ela, ampliar espaços de discussão, como o portal, é importante para unir esforços entre as pessoas que lutam e almejam o mesmo objetivo: viver em uma comunidade segura.

Joana Moscatelli

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