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Crianças na linha

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Crianças na linha

Presente em mais de 70 países, a Child Helpline está prestes a estabelecer uma linha de atendimento telefônico específico para crianças e adolescentes no Brasil. Dar voz aos direitos das crianças, ouvir seus problemas e orientá-las quando necessário são os principais objetivos do projeto, que será desenvolvido pelo Instituto Noos, organização brasileira que atua com pesquisas e desenvolvimento de redes sociais.

A Child Helpline, ou Childline, é uma rede internacional de serviços telefônicos de assistência que recebe mais de 11 milhões de ligações de crianças e adolescentes ao redor do mundo. As razões pelas quais as crianças ligam estão relacionadas a problemas familiares, abuso sexual, HIV/aids, drogas, suicídio e maus tratos, entre outras. Segundo Carole Easton, ex-diretora executiva da Child Helpline do Reino Unido, os motivos que levam as crianças a entrarem em contato variam de acordo com cada país. Easton registra, porém, que os principais problemas são familiares ou relacionados ao ambiente escolar, como queixas de bullying [expressão em inglês que designa assédio moral e práticas humilhantes na escola]. "Mas isso depende de como a promoção da Childline é feita", observa. "No Reino Unido, por exemplo, a Childline sempre teve uma atuação muito forte no tema do abuso sexual, então o número de ligações sobre esse crime é alto. Mas as crianças podem ligar por causa de qualquer problema que tenham”, explica.

Childline no Brasil

No Brasil, até janeiro deste ano, existia uma linha para denúncias da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia). Por falta de recursos, porém, ela teve de ser desativada. “Funcionamos durante dois anos com o patrocínio da Telemar, mas a parceria não foi renovada. Por falta de recursos, tivemos de encerrar o projeto, infelizmente”, explicou o então coordenador do projeto e presidente da Abrapia, Lauro Monteiro .

Mesmo se ainda estivesse em funcionamento, esse não seria um obstáculo para a construção de um centro de atendimento da Childline no Brasil. “Na Índia, por exemplo, existem mais de 60 linhas telefônicas trabalhando para garantir os direitos de crianças e adolescentes. O Instituto Noos pretende instalar a partir de janeiro de 2007 apenas uma central de atendimento no Rio de Janeiro. Para isso, está buscando parcerias com organizações civis, governamentais, comunidades, secretarias estaduais e nacionais. O objetivo é criar no estado um atendimento de qualidade e, a partir daí, desenvolver um guia, uma metodologia e identificar outras cidades, estados e parceiros para que possamos expandir nacionalmente, atentando para as possibilidades e necessidades”, contou Vânia Izzo, uma das coordenadoras do projeto no Brasil.

A idéia é trabalhar com o maior número possível de parceiros para que a Childline no Brasil possa atender melhor as necessidades das crianças. Atualmente, o projeto ainda está captando recursos e em busca de um espaço para a instalação do centro de atendimento, mas o trabalho de capacitação dos atendentes já teve início.

Carole Easton e Peter Eldrid, representantes da Child Helpline, vieram ao Brasil para transmitir seus conhecimentos à equipe brasileira que promove o projeto. “Um dos objetivos da vinda deles foi realizar o treinamento das pessoas que vão repassar as técnicas aos conselheiros, aqueles que irão atender as crianças. Esses conselheiros devem estar aptos para ouvir, informar, orientar e encaminhar a criança para os serviços de que precise”, contou Izzo.


Peter Eldrid, ex-conselheiro da Childline do Reino Unido, explicou que os conselheiros são voluntários que passam por uma capacitação que aborda os diversos problemas e preocupações que crianças e adolescentes apresentam. “Os conselheiros não são treinados para dizer à criança o que fazer, mas para orientá-la a tomar a decisão que for melhor para ela, sem pressioná-la a fazer o que não quiser”, contou Eldrid.


A proposta é tratar dos temas que as crianças trouxerem nas ligações. “A idéia é que a criança ligue livremente. A existência de um canal de comunicação aberto para as crianças se expressarem é fundamental para assegurar os seus direitos”, acredita Izzo.


O direito à livre expressão

Como afirma Carole Easton, um dos direitos básicos de toda criança é o de se expressar de forma livre e direta. “Uma linha de telefone específica para crianças e adolescentes oferece a eles um serviço no qual eles mesmos possam dizer quais seus problemas e pedir ajuda, sem necessidade de nenhuma intermediação de um adulto”, defendeu Easton.

Para ela, um grande desafio para a garantia dos direitos das crianças é fazer com que eles saiam do papel e façam parte de suas vidas. “A Child Helpline pode ajudar crianças individualmente, mas os relatos de centenas de crianças que ligam para as centrais de atendimento em todo o mundo podem também ser usados por governos e autoridades para implementar políticas em prol do bem-estar de crianças e adolescentes”.

Segundo Valéria Oliveira, também coordenadora do projeto no Brasil, outra intenção do projeto é justamente oferecer subsídios para políticas públicas que busquem garantir os direitos das crianças e adolescentes.

Izzo contou que já estão sendo realizadas diversas reuniões com possíveis parceiros, inclusive com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “A idéia é fazer os links necessários e ampliar a atuação para proteger os direitos das crianças no Brasil. Estamos buscando parceiros para estabelecer um plano estratégico, a fim de impulsionar o projeto, pensando nas várias vertentes que ele deve ter. Atualmente, ainda precisamos estabelecer parcerias com os conselhos de direitos e tutelares, instituições de retaguarda e apoio à criança em situação de risco, por exemplo”, explicou Izzo.

Além do telefone, o atendimento às crianças também poderá ser feito pela internet. Para Easton, porém, o envolvimento não seria o mesmo, embora esse possa ser um canal para um primeiro contato. “Algumas crianças ficam muito ansiosas para falar no telefone e preferem permanecer anônimas. Acho que as crianças podem iniciar seu contato na internet e depois passar para o telefone. Juntos, internet e telefone funcionam melhor”, afirmou.

Easton destaca que a Childline Brasil, em fase de desenvolvimento, está de portas abertas para voluntários e parcerias que possam contribuir com o projeto, informando que quem quiser ajudar pode procurar as coordenadoras do projeto no Instituto Noos, que fica em Botafogo, no Rio de Janeiro. O telefone é (21) 2579-2357.

Joana Moscatelli


* Atualizada em 28 de agosto de 2006, às 10h36

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