Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original:
![]() Foto do relatório | Daniel Beltrá | ![]() |
Sumário executivo*
O governo brasileiro tem dito nas negociações internacionais que o país faz a sua parte em relação ao problema das mudanças climáticas e o aquecimento global. Na verdade, fazemos muito pouco para reduzir de forma efetiva o desmatamento da maior floresta tropical do planeta, investimos pouco em fontes de energia renováveis ou na promoção de estudos de vulnerabilidade e planos de adaptação às mudanças climáticas.
O mesmo país que tem uma posição privilegiada em relação a seu potencial de fontes renováveis de energia, quando desmata e queima a Amazônia, libera tanto carbono na atmosfera que assume o constrangedor quarto lugar no ranking dos países que mais emitem gases de efeito estufa no mundo.
No último século, a temperatura do planeta já subiu 0,7º C e, nos próximos cem anos, o aumento pode chegar entre 1,4º C e 5,8º C, dependendo do que for feito para “descarbonizar” a atmosfera. Limites mais rígidos às emissões terão que ser negociados e cumpridos já no segundo período do Protocolo de Kyoto, após 2012.
Se as emissões fossem estabilizadas nos níveis de hoje, a temperatura continuaria subindo por dezenas de anos. Um enorme esforço terá que ser feito pelos
países industrializados, os principais poluidores, mas também pelos países em desenvolvimento como o Brasil, que precisa assumir a sua responsabilidade. Países como o Brasil têm que crescer seguindo a “Trilha da Descarbonização”, proposta pela Rede de Ação do Clima, com redução e não aumento de suas emissões.
Se o Brasil realmente quisesse fazer a sua parte, ao invés de incentivar tanto o avanço do agronegócio, que vem destruindo de forma assustadora a Amazônia, deveria começar por adotar como prioridade nacional a conservação da maior floresta tropical do mundo. Além disso, precisaria realmente se esforçar no desenvolvimento de uma matriz energética limpa e renovável, e realizar um levantamento das vulnerabilidades regionais e setoriais. É necessário apresentar planos de adaptação aos riscos e de mitigação das causas das mudanças climáticas. O Brasil precisa da elaboração urgente de uma Política Nacional de Mudanças Climáticas, que contemple todos esses itens.
No Brasil, o aquecimento global ainda é visto mais como uma oportunidade de negócios do que como um risco real e presente às comunidades pobres mais vulneráveis no campo, nas áreas urbanas, na caatinga e no interior da Amazônia. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, instrumento previsto pelo Protocolo de Kyoto, é importante para incentivar projetos ambientais que retirem gases como o CO2 e o metano da atmosfera, mas é insuficiente, por si só, para reverter o problema.
Precisamos atingir essas metas antes que o temível marco dos 2º C de aquecimento se transforme em realidade. Depois desse marco, os cientistas prevêem cenários catastróficos, com efeitos devastadores para várias regiões do globo, inclusive para a Amazônia e outros pontos do Brasil. Temos pouco tempo e muito a fazer. Apenas com a conscientização de todos, governos, indústrias, cidadãos, conseguiremos vencer o que já se caracteriza como o maior desafio de nossa era.
Para mostrar ao governo brasileiro e a toda a sociedade a gravidade da situação, o Greenpeace percorreu o Brasil – de norte a sul – para documentar os impactos do aquecimento global e as principais vulnerabilidades regionais. Dezenas de entrevistas foram realizadas com vítimas dos fenômenos climáticos extremos e com cientistas que estudam as causas e conseqüências do aumento da temperatura na Terra. Esses depoimentos e uma extensa pesquisa em artigos científicos publicados recentemente são a base deste relatório. O objetivo desta publicação é mobilizar a sociedade brasileira para reverter o principal problema ambiental do século 21 com ações imediatas e eficientes dentro e fora do território brasileiro.
No capítulo um, as mudanças climáticas que ocorrem no planeta e as suas evidências são descritas. Os eventos extremos que já vêm ocorrendo no Brasil são relatados no capítulo dois. Esta expedição climática se inicia na Amazônia, vulnerável ao desmatamento e ao aquecimento global. Depois vai descendo pelo semi-árido nordestino, que sofre com um intenso processo de desertificação. Segue pela zona costeira, vulnerável a tempestades severas e à elevação do nível do mar. E chega à região Sul, onde as estiagens vêm trazendo graves prejuízos no campo e foi documentada a ocorrência inédita de um furacão no Atlântico Sul. Também são mostrados os potenciais impactos na saúde, nos recursos hídricos, nas grandes cidades e na agricultura.
No capítulo três, tratamos de cenários futuros, explicitando a gravidade da situação. No capítulo quatro, o Greenpeace apresenta as demandas e as soluções possíveis que podem ser adotadas por governos, por empresas, pela sociedade civil e por cada um de nós, cidadãos, para que consigamos superar o maior desafio da nossa era.
EVIDÊNCIAS DO AQUECIMENTO GLOBAL
*O ano de 2005 foi o mais quente desde 1880, quando se iniciaram os registros de temperatura. A última década também foi a mais quente. A concentração de carbono na atmosfera chegou a 378,9 partes por milhão (ppm). Antes da era industrial, a concentração era de 280 ppm. No mesmo ano, a Amazônia enfrentou uma seca sem precedentes.
*Ocorreram 28 tempestades tropicais no Oceano Atlântico em 2005, 15 delas furacões, entre os quais três na categoria 5; estudo divulgado em 2006 por dois cientistas do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos forneceu evidências de que o furacão Katrina, que devastou Nova Orleans em agosto de 2005, e outros eventos climáticos intensos estão ligados ao aquecimento global.
*As geleiras que já derreteram ao longo dos últimos anos vão aumentar o nível médio do mar entre 30 cm e 80 cm nos próximos 50 a 80 anos. Nos Andes, as geleiras já perderam entre 20% e 30% de sua área nos últimos 40 anos. Na Antártica, em 12 anos, já foram perdidos 14 mil km2 de gelo.
*Entre 1950 e 1993, as temperaturas diárias mínimas do ar à noite sobre o solo aumentaram em média 0,2º C por década no planeta. No Sul do Brasil, houve um aumento de 1,4º C na temperatura mínima anual entre 1913 e 1998, e também um incremento nas ondas de calor, das chuvas mais intensas e da precipitação pluvial anual, que cresceu nos últimos 50 anos a uma taxa média de 6,2 mm por ano.
*Nas últimas duas décadas, o aumento da temperatura dos oceanos vem causando o branqueamento de corais em escala global, colocando em risco os recifes. A temperatura nos trópicos aumentou cerca de 1º C nos últimos cem anos levando os corais a viver próximo do seu limite térmico.
* Este é o sumário executivo do relatório "Mudança de cilma, mudança de vidas". A íntegra esta disponível na área de dowloads desta página, no alto, à direita, ou pode ser obtida em www.greenpeace.org.br.
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