Autor original: Mariana Hansen
Seção original: Novidades do Terceiro Setor
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Ana Nery, técnica em orçamento público do CCLF, identifica as ações da entidade como um tripé – mobilização, formação e definição de estratégias. “É necessário que haja um diálogo com o poder público, para que se incluam as propostas da sociedade civil e para que se tenha acesso às informações orçamentárias. As organizações não podem dar sua contribuição sem o diálogo”, explica.
As questões tratadas nesse primeiro caderno foram escolhidas de acordo com o que foi trabalhado junto às entidades sensibilizadas e que pretendem fazer alguma intervenção no planejamento do orçamento. Ana explica que, desde a Constituição de 1988, está previsto em lei o orçamento participativo e que alguns municípios já garantem esse aspecto da lei. Mas “há lugares onde a peça orçamentária é quase ficção, não tem nada a ver com a realidade local e não há participação da população. O nosso movimento é para que a sociedade organizada provoque a inversão dessa lógica”, ressalta.
Outro ponto observado por Ana e que vem destacado na cartilha é que “o orçamento público no Brasil é autorizativo e não obrigatório, pois a gestão pública não é obrigada a executar tudo o que está previsto nas leis orçamentárias. O que não é permitido é que se façam gastos que não estejam previstos – autorizados – nas leis”. Segundo Ana, a Lei de Responsabilidade Fiscal reforçou a participação e a transparência nos orçamentos públicos e a Lei de Diretrizes Orçamentárias assegura a realização de audiências públicas. “Ou seja, do ponto de vista legal, existe um artigo que estabelece a participação no instrumento orçamentário e o acesso a suas informações, mas na prática isso não acontece. A população, em geral, continua ausente do processo”, observa.
Mas não é só da elaboração do orçamento público que a sociedade deve participar. Ela também deve acompanhar a sua execução. “A perspectiva de um segundo caderno de estudos tem a ver com a lógica da atuação, para que as organizações fiquem mais preparadas para a execução orçamentária. A segunda cartilha vem para abordar isso mais detalhadamente”, conta Ana. Por mais que haja participação no planejamento, o orçamento, quando é executado, segue prioridades, e as ações da sociedade civil podem não estar incluídas.
A publicação busca contribuir para a argumentação daqueles que, através do controle social, lutam pela implementação de políticas públicas que de fato efetivem direitos da população. Ana identifica na importância da iniciativa a possibilidade de “mudar esse senso comum de que a gente não tem nada a ver com isso [o orçamento público]. Observamos que com o dinheiro público as pessoas não têm o mesmo zelo que têm com o próprio dinheiro”, observa.
O conceito de “rouba, mas faz” também é destacado por Ana. “Temos que desmistificar essa idéia. Mostrar que desvio de verba e má aplicação de recursos têm conseqüências diretas na vida de cada um. Queremos modificar essa cultura para uma em que o orçamento tem efeito direto na sua vida”, diz.
A cartilha tem uma tiragem de mil exemplares impressos. Parte será distribuída entre as entidades parceiras do CCLF e outras que já trabalham com o tema. O restante será utilizado como material didático nas capacitações feitas pelo Centro. De qualquer maneira, a entidade oferece uma versão para download em www.ombudspe.org.br/cclf/camp/cartilha.pdf. De acordo com Ana, a demanda foi maior do que a esperada. Por isso, antes de sair o segundo caderno, estão estudando a possibilidade de imprimir mais mil exemplares. “Queremos que o maior número possível de organizações inclua a questão do orçamento público em suas ações políticas, potencializando as iniciativas”, conclui.
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