Generosidade intelectual em três tempos

Autor original: Mariana Hansen

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor

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Em novembro, acontece a quinta edição do Festival da Diversidade Cultural Tangolomango, no Rio de Janeiro (RJ). O evento, que ocorre anualmente, reúne parte da produção de diversos projetos culturais e comunidades do país. Na agenda do Tangolomango tem cinema, artes plásticas, dança, teatro e música, tudo produzido por novos atores sociais que ganham espaço para mostrar seu trabalho no festival.

Durante esses cinco anos de Tangolomango, mais de 80 grupos e ONGs de diferentes regiões do Brasil participaram de debates, oficinas, workshops, exposições e apresentações culturais. Neste ano, o evento agregou o nome de Festival da Diversidade Cultural. “O nosso objetivo é promover a reunião, a troca de experiências e a difusão de ações culturais, e achamos que teríamos uma comunicação mais direta e eficaz ao chamar nosso evento anual dessa forma”, explica a idealizadora e diretora do festival, Marina Vieira.

O tema escolhido para este ano foi “Generosidade intelectual” e é resultado de algumas observações feitas na edição 2005 do evento, que girava em torno da questão do software livre e dos novos rumos para a cultura e a comunicação. Marina Vieira conta que começou a compreender os conceitos, as novas formas de comportamento e a interação que estavam por trás do software livre. “O programa do nosso seminário [realizado na edição de 2005] foi produzido a partir de uma combinação de conhecimentos e idéias diversas. E isso só foi possível por causa da generosidade intelectual”, conta.

Mas o que significaria essa tal generosidade? Marina explica que o conceito inclui confiança, reciprocidade, cooperação, coesão social, compartilhamento e liberdade criativa. “Essas são as forças que impulsionam o movimento de reapropriação tecnológica, criação colaborativa, diversidade cultural e generosidade intelectual. E nos deixam otimistas com as mudanças profundas que estão trazendo para a cultura e a comunicação, ao interferir na realidade e trazer novas soluções para problemas tão difíceis, como a pobreza e a desigualdade”, esclarece.

Embalada pelo tema, esta edição contará com três eventos simultâneos: a exposição “Integração Urbana”, a exibição do curta-metragem “Eleições 2000 e sempre!” e um show no Dia da Cultura, 5 de novembro. De acordo com Marina, “os três eventos são ações complementares à proposta de reunir, valorizar e integrar as diferenças”.

A exposição “Integração Urbana” será realizada de 13 de novembro a 8 de dezembro, em sete estações do metrô no município do Rio – Pavuna, Irajá, Estácio, Central, Carioca, Botafogo e Siqueira Campos –, cobrindo da zona norte à zona sul da cidade. “Serão 15 grupos de comunidades expondo seus trabalhos para os milhares de passageiros que circulam pelas estações do metrô, com a proposta de valorizar e integrar as diferenças existentes na cidade”, explica Marina Vieira.

Ética em discussão

Sobre o tema Eleições na Comunidade, os grupos Nós do Cinema e Nós do Morro e a Central Única das Favelas (Cufa) produziram o curta-metragem “Eleições 2000 e sempre!” para esta edição do Tangolomango. Trazendo as percepções das comunidades no dia da eleição, o curta será apresentado, a princípio, nas lonas culturais do Vidigal, do Complexo do Alemão e da Cidade de Deus, onde foi gravado. Depois, a idéia é que ele seja exibido em praças públicas, na Lapa e em cineclubes de outras comunidades, mas as datas ainda não foram acertadas.

“Acho que o mais importante desse projeto é que o momento de criação dos roteiros contou com muitas conversas e trocas de experiências muito particulares. Mas o sentimento que fica é que está cada dia mais difícil a discussão da ética, em todos os sentidos”, conta Luciana Bezerra, do grupo Nós do Morro e coordenadora do projeto. Ela ainda ressalta o desejo de que o filme seja visto por um grande número de pessoas. “Espero que seja um curta de vida longa”, conclui.

O último braço do evento, o show do Dia da Cultura, que acontece no dia 5 de novembro, no Circo Voador, reunirá seis projetos culturais de diferentes regiões do país e é considerado um marco comemorativo do Tangolomango. Os participantes foram selecionados entre cerca de 60 projetos, que passaram por uma seleção formal - outra inovação desta edição.

De acordo com Marina Vieira, a maioria das iniciativas inscritas está ligada ao resgate do patrimônio imaterial do seu local de origem. Sobre a seleção, ela explica que o foco foi “apontar projetos inovadores que promovessem o fortalecimento da identidade e da diversidade sócio-cultural de crianças e jovens e que estivessem trabalhando na perspectiva da produção compartilhada ou manifestassem o desejo de trocar experiências”.

Com a coordenação artística de João Artigos, do Teatro do Anônimo, o espetáculo foi pensado com uma integração maior dos grupos, reforçando o conceito de generosidade intelectual que permeia a edição. “O show reúne grupos com propostas contemporâneas e tradicionais, que trabalham em comunidades rurais, com resgate da cultura popular, integração de pessoas com deficiência física, carnaval, música popular e com a relação entre cidadania e comunicação”, conta Marina Vieira.

Segundo Ana Silvana Cavaliere, coordenadora da Cia. Ilimitada da Universidade Federal Fluminense (UFF), um dos grupos selecionados, “o festival é importante para divulgar o nosso trabalho, além de sensibilizar e dar visibilidade a iniciativas como a nossa”. A companhia, que existe há seis anos em Niterói (RJ), trabalha com crianças e jovens com deficiência física, que compõem um grupo de dança, e ainda conta com um grupo de teatro formado por pessoas com Síndrome de Down. “Queremos que mais pessoas vejam o nosso espetáculo, vejam que ele está se multiplicando e dando uma oportunidade de cidadania e sociabilização para essas crianças e esses jovens. Não queremos que eles se isolem”, conclui.

Ainda participam do espetáculo o Balé Popular de Alcantil, de Alcantil (PB); o Madureira Toca, Canta e Dança, do Rio de Janeiro (RJ); o Maracatu Leão Dourado, de Olinda (PE); e o Mediasana, de Recife (PE). Junto com os selecionados também se apresentam o Grupo de Choro da AMC e a Cia. do Aplauso, ambos do Rio.

Para além destas três atividades principais - a serem realizadas durante o mês de novembro -, a organização do Tangolomango também está desenvolvendo outras ações ligadas à democratização da cultura. De 4 a 14 de dezembro, será realizado, por intermédio do programa Cultura e Pensamento, do Ministério da Cultura, o seminário “A cultura além do digital”. Serão promovidos debates sobre os processos de transformação desencadeados pela difusão das novas tecnologias digitais de comunicação no plano das relações políticas, econômicas e sociais e o seu impacto no contexto da cultura. O evento acontecerá no Rio e em Recife.

As informações completas sobre o Tangolomango e sua agenda estão disponíveis em www.tangolomango.com.br.

Mariana Hansen