José Antonio Moroni - membro do colegiado de gestão do Inesc e integrante da coordenação da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político - afirma, em entrevista para o Inesc Notícia, que o julgamento é importante, mas ressalta que não enxerga o fato como um momento histórico, como coloca a mídia, e nem tampouco como um episódio que se insere na luta política. “Falo isso porque o julgamento político, o povo já o fez no processo eleitoral, punindo alguns e absolvendo outros.” Como solução para escândalos como o do Mensalão, Moroni aponta a reforma do sistema político. “Precisamos ter eleições com a proibição do financiamento privado e que comprometam mais os partidos . Sem isso, vamos continuar com esses escândalos”. Confira a entrevista completa Para você o que significa o julgamento do caso “Mensalão” para a sociedade brasileira?Devemos separar as questões. Não acho que seja um julgamento histórico, como procura vender a grande imprensa, nem tampouco que ele se insira na luta política. Falo isso porque o julgamento político, o povo já o fez no processo eleitoral, punindo alguns e absolvendo outros. No entanto, penso que é um julgamento importante, primeiro porque demonstra que as instituições funcionam minimamente no Brasil. Segundo, por ser um direito da sociedade saber como os membros do poder judiciário se posicionam em relação ao Mensalão. De acordo com as provas do processo, o que se teve foi caixa dois de campanha e pagamento mensal de parlamentares para votar a favor das proposições do governo. São coisas diferentes. Mas uma questão acho que infelizmente o judiciário não vai apontar é: de onde saíram os recursos. Isso é uma questão importante. Outro ponto é: por que o STF não julga os diversos parlamentares que têm processos, inclusive por tráfico, pedofilia, etc,e julga o Mensalão? Precisamos cobrar agilidade de todos os processos e não só de alguns.Você acredita que o esquema, para além das denúncias, tinha como um dos objetivos fragilizar o governo Lula? Por quê?Acho que o escândalo foi usado para enfraquecer o governo, mas a oposição estava no papel dela para fazer isso. O problema que vejo é que só ficou nisso. Ambas as partes não tiveram vontade política de ir a fundo. O PSDB, com a origem do esquema em Minas; e o DEM, com o problema que depois foi revelado com o governo Arruda em Brasília, perderam a credibilidade também. O que queremos é que as denúncias sejam esclarecidas.E agora, você acha que o fato do julgamento ser próximo ao processo eleitoral, pode influenciar de alguma forma as eleições?Como falei, politicamente já houve este julgamento em 2006, 2008 e 2010. Já passamos por três eleições. Não acho que vai interferir agora.Qual seria a solução para denúncias como essas, que envolvem o desvio de recursos para financiamento de campanha?Primeiramente, a proibição de financiamento privado para os processos eleitorais e para os partidos. O interesse privado não pode financiar a atividade pública. É incompatível. Mas o financiamento público exclusivo precisa vir acompanhado de uma autêntica reforma política que mude a lógica da política e dos partidos e que puna com rigor quem desrespeitar as regras (tanto os partidos, quanto candidatos e empresas). Essa reforma política também deve resgatar o poder para o povo, isto é, precisamos fortalecer a democracia direta e os canais de fiscalização e controle sobre a democracia representativa. Sem isso vamos viver de escândalos atrás de escândalos.Para você, qual a diferença entre as denúncias de corrupção deste caso emblemático, para outros casos que o país tem vivenciado?Sinceramente, acho que a origem é a mesma: financiamento das eleições e dos partidos com recursos públicos via corrupção. Nisso há também o enriquecimento de quem opera este sistema. A diferença é o alarde que é feito pela imprensa. Só isso.De forma geral, qual seria o caminho para mudar o cenário de corrupção, no qual os principais envolvidos são os políticos brasileiros?Primeiramente, o povo tem que ter mais instrumentos de controle sobre os políticos e a atividade pública de forma geral. Hoje praticamente não temos estes instrumentos. Por exemplo, não podemos revogar mandatos. Outra questão é ter mais transparência nos processos decisórios e ter mais participação popular no poder. É necessário ampliar a participação e a abertura para os processos decisórios. Outro fator é que precisamos mudar a forma como é a eleição e o seu financiamento. Precisamos ter eleições com a proibição do financiamento privado e que comprometam mais os partidos. Sem isso, vamos continuar com esses escândalos. A proposta de iniciativa popular da reforma política, nos moldes do ficha limpa, vai nesta direção. Para assinar basta acessarSTF inicia julgamento da AP 470 (Mensalão)O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou há pouco a primeira sessão destinada ao julgamento da Ação Penal (AP) 470. Neste primeiro dia de análise da AP, o ministro relator Joaquim Barbosa fará a leitura resumida de seu relatório de 122 páginas, cuja íntegra foi tornada pública em dezembro do ano passado. Em seguida, terá início a sustentação oral da acusação, a cargo do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ele terá até cinco horas para isso e poderá contar com o auxílio da vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat.A acusação envolve crimes como formação de quadrilha, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, gestão fraudulenta de instituição financeira e evasão de divisas. O Ministério Público Federal dividiu a acusação em três núcleos (central ou político, operacional ou publicitário e financeiro) além dos supostos beneficiários.A partir de amanhã (3), começará a sustentação oral dos 38 réus. Serão apresentadas cinco defesas por dia, de no máximo uma hora cada. No próximo dia 15 começará a segunda fase do julgamento, quando os ministros proferirão seus votos. Estão previstas três sessões plenárias por semana (às segundas, quartas e quintas), a partir das 14h. O primeiro a votar será o relator, ministro Joaquim Barbosa, seguido pelo revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski. Em seguida, votam os demais ministros em ordem inversa de antiguidade (do mais novo para o mais antigo na Corte), sendo o presidente o último a votar. (Nota divulgada pelo site do STF)Fonte: INESC
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