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De baixo para cima, de dentro para fora

Autor original: Mariana Hansen

Seção original: Serviços de interesse para o terceiro setor






De baixo para cima, de dentro para fora
A quinta edição da Expo Brasil Desenvolvimento Local será realizada de 6 a 8 de dezembro, em Salvador (BA). O evento reúne iniciativas de desenvolvimento de vários pontos do país e mesmo de outros lugares do mundo, sempre apoiadas na mobilização local. Em busca de uma transformação na cultura política nacional, o evento vem crescendo a cada ano e aumentando sua visibilidade.

Ao longo desses cinco anos, a Expo Brasil vem contribuindo para que se lance um novo olhar sobre a questão do desenvolvimento. Um olhar que valorize o protagonismo local e da sociedade. Caio Silveira, coordenador do evento, ressalta a importância de manter o tema vivo e com força na agenda. “Há uma pulsação social independente das conjunturas e dos governos”, completa.

O protagonismo da sociedade é, segundo Caio, a essência do desenvolvimento local, “que deve ser de baixo para cima, de dentro para fora”. Os objetivos da Expo são dar visibilidade a essas iniciativas de desenvolvimento e incentivar a aprendizagem compartilhada, em que todos são professores e alunos. “É juntar diferentes saberes, tanto de pessoas ligadas às universidades como ao governo em todos os seus níveis, com os saberes dos agentes do desenvolvimento: educadores e líderes comunitários, entre outros”, destaca.

Os debates desta edição estão estruturados em torno de dois eixos estratégicos. O primeiro é “Democracia participativa e cultura política: o desafio da consolidação de novas institucionalidades para o desenvolvimento local”. Para Caio, é necessário pensar em estratégias para uma mudança social mais profunda. “Um caminho estratégico que não seja o dirigismo do mercado e nem do Estado”, sugere.

Ainda sobre a questão da democracia com bases locais, Caio observa a importância de reforçar fóruns, conselhos, consórcios e “outras institucionalidades”, ou seja, as novas formas de participação política e social na vida local.

O segundo eixo a ser trabalhado é “Articulação produtiva com bases territoriais", focalizando questões como territórios produtivos, economia solidária, arranjos produtivos locais, comércio justo e solidário. Dentro desse tema, serão debatidas novas formas de inclusão produtiva e social nas localidades, pensadas como espaços de articulação econômica.

Um ponto que também ganhará destaque durante esta quinta edição é a cultura como fator de desenvolvimento local. “Cultura não só como artes, mas como direito, forma de vida e trabalho, presente nas manifestações”, acrescenta Caio. Ele afirma que já não é mais possível separar cultura, economia e política. “Temos de pensar a sustentabilidade como algo sistêmico e integrado, o que é uma idéia sempre presente nas Expos”, lembra.

Além de painéis, rodas de conversas e circuitos temáticos, a Expo Brasil traz ainda oficinas e minicursos. Segundo Caio, há uma inovação da dinâmica do evento para esta edição, com ações mais interativas, fora do modelo segundo o qual alguns falam e muitos ouvem. "Os principais participantes são aqueles que estão promovendo o desenvolvimento em seu próprio ambiente, e nós daremos mais voz a essas pessoas”, explica.

Durante o evento, serão produzidos vídeos e entrevistas para serem exibidos em telões dentro dos auditórios e em outros espaços da Expo Brasil. A intenção, diz Caio, é “multiplicar as vozes dentro desse evento. Mais vozes sendo ouvidas para que apareça mais a diversidade”.

A Expo Brasil terá também uma área externa de exposição de estandes de instituições, programas e projetos, agindo com um espaço de visibilidade e troca de experiências durante o encontro. Nessa mesma área, haverá uma exposição permanente de pôsteres relativos a projetos e experiências concretas e lugares que poderão ser reservados para sessões específicas, nas quais os protagonistas terão condições de estabelecer diálogos e contatos.

Desenvolvimento local não tem dono

Na edição anterior da Expo Brasil, realizada em Fortaleza (CE), muito foi discutido sobre o projeto de uma política nacional para desenvolvimento local. O objetivo principal era gerar propostas que contribuíssem para dinamizar as potencialidades e diminuir os entraves para o avanço das iniciativas de desenvolvimento local. Durante o evento, porém, o projeto foi criticado, especialmente pelo caráter centralizador e dirigista que poderia estar embutido na proposta.

Um ano depois, Caio explica que para a elaboração do projeto foi ouvido um contingente considerável de experientes atores do desenvolvimento de todo o país, o que gerou um documento-síntese, apresentado em 2005. Agora, em 2006, serão divulgadas as propostas e medidas que podem desobstruir os caminhos para o desenvolvimento local.

Caio alerta que é importante não caminhar para uma política de desenvolvimento a partir do Estado central, mesmo ele tendo um papel importante de apoio. “O fundamental é não cair na idéia de que desenvolvimento local tem dono. Ele não pode ser apropriado por nenhum governo ou instituição”. O coordenador da Expo acrescenta que é necessária uma mudança da cultura política, com novas práticas e participação democrática. “Precisamos ampliar a esfera pública e a participação social”, ressalta.

A expectativa é de que esta quinta edição tenha um impacto mais forte, sem deixar de reconhecer a importância das edições anteriores. “Estamos saturados da política e da economia tradicionais, que ainda são dominantes”, desabafa Caio. Ele espera que o evento não se esgote em si mesmo e que o movimento continue com as ações de todos que estiverem lá.

As inscrições para a Expo Brasil 2006, assim como a reserva de estandes, já podem ser feitas no site do evento, em http://expo.rededlis.org.br.


Mariana Hansen

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