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Somos parte do meio ambiente

Autor original: Fausto Rêgo

Seção original: Artigos de opinião






Somos parte do meio ambiente
Ilustração: Yukiyoshi

José Carlos García Fajardo*


Se a ecologia é o estudo do meio ambiente, o professor Raimon Panikkar prefere o termo "ecosofia", pois compreende a realidade de que todos nos compreendemos como parte do meio ambiente. E não é a mesma coisa estudá-lo como objeto ou integrá-lo como sujeito responsável. Uma vez mais, "a Terra não pertence ao ser humano, é o ser humano que pertence à Terra", como afirmou o Chefe Seattle* em sua carta ao Chefe Blanco** de Washington, em 1854.


A mudança climática não é apenas um tema ambiental, como muitos crêem: destroçará plantações, porá em perigo as populações costeiras, destruirá ecossistemas, disseminará doenças como malária e febre amarela e acirrará conflitos, afirmou Kofi Annan, secretário-geral das Nações Unidas, na Cúpula de Nairóbi, no Quênia.


Por isso é necessário ativar possíveis cenários baseados em modelos científicos. Porque se os céticos continuam negando as mudanças climáticas, atuam contra as evidências da ciência, que hoje são as mais completas e alarmantes, pois sugerem que estamos próximos de um caminho sem volta. O impacto da mudança climática recairá de forma desproporcional sobre os mais pobres, especialmente na África. Há ainda, no entanto, muita coisa que podemos fazer. Kofi Annan mencionou o uso mais eficiente de combustíveis e energias renováveis e destacou que o desafio de lutar contra a mudança climática oferece oportunidades para a economia, uma vez que está comprovado que emissões baixas não significam menor crescimento econômico.


A continuar o atual ritmo de crescimento do consumo de petróleo, especialmente em países como China e Índia, haverá um crescimento insustentável das emissões de dióxido de carbono na atmosfera.


O Procolo de Quioto é um passo, mas demasiado pequeno. Os países industrializados não podem continuar aumentando suas emissões de forma descontrolada. É uma falácia sustentar que "quem contamina é que deve pagar", como tem sido feito nos últimos anos. Para muitas empresas, é mais barato cumprir uma sanção administrativa do que introduzir os elementos necessários para corrigir e evitar os elementos poluentes que procedem de suas fábricas. Não basta pagar, é preciso que existam leis que previnam as contaminações e empregar todos os meios coercitivos para que se cumprar, incluindo a possibilidade de fechar as empresas que contaminem. "Que ninguém diga que não podíamos agir", afirmou o secretário-geral das Nações Unidas. Sabemos que é mais barato reduzir emissões agora do que enfrentar as conseqüências depois. Sabemos que uma economia baseada em altas emissões é uma experiência fora de controle com o clima global.


Porque a questão não é se a mudança climática está ocorrendo, mas saber se nós somos capazes de mudar nosso comportamento de forma suficientemente rápida para evitar que os danos sejam irreparáveis para a atmosfera, os oceanos, as margens de rios, as florestas e a cadeia alimentar, que transporta, transforma e transmite efeitos indesejáveis, às vezes mortais, a espécies vegetais, animais e humana, até mesmo antes do nascimento.


Por isso é imprescindível uma estratégia para prolongar os acordos de Quioto para além de 2012, com objetivos mais ambiciosos e com a participação dos países que não se sentem obrigados a cumprir esse acordo. Assim se deduz dos dados apresentados pelo informe da Agência Internacional de Energia (AIE), que sustenta que somente com uma firme intervenção dos poderes públicos nos países que mais consomem energia se poderá obter uma alternativa energética de futuro que seja "limpa, inteligente e competitiva" frente ao mero prolongamento das tendências atuais, que nos conduzem a um cenário "sujo, inseguro e caro".


Neste sentido, a primeira linha de atuação consiste em impulsionar políticas públicas de eficiência e economia energética que permitam inverter, a partir de 2015, a tendência de aumento da contaminação. Os cálculos do informe demonstram a rentabilidade dessas políticas, já que por cada dólar investido no aumento da eficiência energética são economizados dois dólares em geração, transformação e distribuição de energia. Mas a economia energética só pode ser significativa nos países mais ricos, ao passo que o consumo continuará crescendo nos países de economia emergente, o que implica que essas políticas sejam complementadas por mecanismos de geração de energia limpa. Por isso o incentivo às formas renováveis de energia é uma necessidade inadiável, tanto na geração de eletricidade quanto no caso dos combustíveis líquidos para transporte.


O informe também mostra a energia nuclear como uma alternativa viável para esse cenário mais seguro e menos poluente. Os números que apresenta são de um crescimento de até 40% da potência nuclear instalada em 2030. A energia nuclear continuará tendo um papel a desempenhar, mas, para que seja aceitável, deverá avançar bastante em seu ponto fraco: a gestão, o tratamento e a eliminação de resíduos.


* José Carlos García Fajardo (fajardo@ccinf.ucm.es) é professor de Pensamento Político e Social da Universidad Complutense de Madrid e diretor do Centro de Contribuições Solidárias (www.ucm.es/info/solidarios/ccs/inicio.htm), de onde este artigo foi transcrito e traduzido. Tradução: Fausto Rêgo.


* Nascido em 1786, Chefe Seattle ("Jefe Seattle") foi um líder indígena das tribos Suquamish e Duwamish, originárias da região onde atualmente está a cidade de Washington, capital norte-americana. Ele ficou conhecido por defender o estabelecimento de acordos com o homem branco a respeito de terras em disputa. Morreu em 7 de junho de 1866.


** Chefe Blanco ("Jefe Blanco") foi um líder indígena atuante na década de 1850, época da disputa de terras des nativos norte-americanos com o homem branco. Era conhecido por sua beligerância.






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