Autor original: Mariana Hansen
Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor
![]() Programa Brasileirinho | ![]() |
O programa nasceu em 2001. Entre as inúmeras demandas por voluntários identificadas pela ONG, muitas eram feitas por creches comunitárias. Dessa forma, decidiu-se pelo foco na educação infantil como base para a avaliação do trabalho dos voluntários e seu impacto. “Com o foco determinado, temos como controlar e perceber a importância dos voluntários para disseminar a educação”, explica Lícia.
Dividido em três núcleos – Reformas e Equipamentos, Pedagógico e Família e Gestores –, o programa providencia desde a reforma do espaço físico, geralmente precário e inadequado, até a qualificação das pessoas que ali trabalham, embora sem formação ou preparo específico para suas funções. As creches atendidas são constituídas e gerenciadas pelos moradores da comunidade, devido à inconveniência e à dificuldade que a população local encontra para matricular seus filhos em estabelecimentos da prefeitura.
A primeira intervenção do Brasileirinho é a reforma do espaço, com a aquisição dos equipamentos necessários para melhor atender as crianças. Para isso acontecer, o programa capta recursos para a obra, contando com arquitetos e engenheiros do seu quadro de voluntários e mão-de-obra (pedreiros, eletricistas, bombeiros etc) remunerada, contratada preferencialmente dentro da comunidade, visando à geração de renda familiar. Lícia conta que o que acontece é a transformação de um “depósito de crianças” em uma creche educacional.
Na segunda etapa, entra em cena o Núcleo Pedagógico, que vai acompanhar a instituição por cinco anos, providenciando visitas e orientação regular nas creches. As educadoras são capacitadas e acompanhadas para que possam promover o desenvolvimento integral da criança. Elas recebem noções básicas de pedagogia e psicologia, são conscientizados sobre a importância de atividades lúdicas e brinquedos educativos e estimuladas a continuar com a sua educação formal, o que agrada a maioria.
De acordo com a coordenadora do programa, “estudos já comprovaram que 80% da formação cerebral do ser humano acontece até os 4 anos de idade, por isso é tão importante a qualificação da educação infantil”.
Paralelo ao trabalho com as educadoras, vem a qualificação dos gestores e o apoio as famílias, o que é feito pelo Núcleo Família e Gestores. Os gestores participam de capacitações mensais, nas quais aprendem aspectos da gestão comunitária educacional, ou seja, planejamento, captação de recursos, elaboração de projetos sociais, contabilidade, administração e desenvolvimento infantil, entre outros temas. Lícia destaca a importância da sustentabilidade das creches. Para isso, estão sendo organizados bazares em cada espaço, para gerar renda e manter as atividades.
Outro objetivo do programa, e também com participação dos gestores, é a mobilização de uma rede de proteção social às crianças, através de parcerias com a comunidade, órgãos e empresas públicas e privadas, outras organizações da sociedade civil e o voluntariado.
O apoio às famílias se dá, de forma geral, por meio de ações sócio-educativas. Psicólogas, psicopedagogas, educadoras e especialistas observam, escutam, depois debatem e conversam com as famílias. “Damos aos pais uma orientação, valorizando a relação entre mãe e filho, que deve ser equilibrada e prazerosa”, esclarece Lícia.
Nas “situações atípicas”, ela explica, é feito um trabalho mais direcionado com a família. Ela cita problemas como pais envolvidos com o narcotráfico, mães que se prostituem, crianças molestadas sexualmente ou que sofrem agressões físicas. Nesses casos, o problema é analisado e as famílias são encaminhadas para grupos e instituições de apoio. O acompanhamento é feito dentro e fora das creches. Segundo Lícia, o importante é ir até onde as crianças estão e proporcionar a possibilidade de um mundo novo para elas e suas famílias.
Atualmente, 13 creches são assistidas pelo Programa, mas duas ainda estão em obras. Na lista de espera, cerca de 250 instituições aguardam sua oportunidade. A coordenadora destaca a importância da captação de recursos e fala que, em alguns casos, as empresas têm o dinheiro, mas não um projeto no qual investir. “A busca de financiamento é a pior parte”, desabafa.
Em cinco anos de existência, o Brasileirinho já atendeu quase três mil crianças. Hoje são assistidas 872 crianças e 72 educadoras, em comunidades como Mangueira, Cantagalo, Rocinha, Copacabana, Santa Cruz e Penha, entre outras.
A torcida é para que o Programa continue crescendo e possa atender boa parte da lista de espera. O reconhecimento veio através do Prêmio Criança 2006, da Fundação Abrinq, o que enche Lícia de orgulho. “É um projeto transformador, que não tem fim. Ele começa pela creche e completa a criança em todas as suas demandas. Ele mexe nos conceitos, nas condutas e nos valores, trabalhando sempre a relação entre pais e filhos. Nós cuidamos de brasileirinhos ”, conclui.
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