Autor original: Maria Eduarda Mattar
Seção original: Notícias exclusivas para a Rets
O tema principal da conferência realizada em Brasília na semana passada foi como evitar as conseqüências do “mal holandês”. A expressão é utilizada por economistas para descrever o processo que uma entrada abrupta de divisas pode ter em uma economia.
Criado inicialmente para mostrar o que acontece quando uma riqueza natural (como ocorreu com o petróleo na Holanda, no início dos anos 60) é descoberta e explorada, o termo foi adaptado para ser utilizado também em relação à cooperação internacional. De acordo com Terry McKinley, diretor do Centro Internacional de Pobreza, em alguns países a ajuda para o combate à aids supera o orçamento governamental da área de Saúde. Essa entrada de recursos poderia gerar desequilíbrio fiscal - com o aumento dos gastos públicos - e cambial, pois haveria mais moeda estrangeira à disposição, acarretando valorização do dinheiro local. Além disso, com mais dinheiro circulando, a inflação tenderia a crescer. Assim, outras áreas da economia podem ser atingidas e até mesmo entrar em crise, piorando, no fim das contas, a situação geral de um país.
Dessa forma, alguns governos preferem não utilizar todas as doações e empréstimos em ações de prevenção à aids, guardando uma parte para gerar caixa a ser usada mais tarde no pagamento de dívidas e na melhoria das avaliações do país por instituições internacionais como o FMI e o Banco Mundial. No artigo “Por que o ‘mal holandês’ é sempre um ‘mal’?”, McKinley afirma que nem sempre o “mal holandês” atinge países em desenvolvimento. “O impacto da ajuda internacional não precisa ser negativo”, diz. Citando números do FMI, mostra que em nenhum dos cinco países africanos (Etiópia, Gana, Moçambique, Tanzânia e Uganda) analisados pelo fundo houve valorização da moeda local em relação ao dólar. Segundo o autor, é preciso mobilizar a capacidade produtiva local para atender a demanda que pode surgir com uma possível valorização e assim controlá-la. Para ele, se o setor privado não for capaz de resolver esse problema, o Estado deve intervir e aumentar os gastos públicos, seja em obras de infra-estrutura, para estimular as empresas, seja em setores antes reservados à iniciativa privada.
McKinley acredita que o comportamento ideal de um governo que recebe muita ajuda internacional deva ser ambíguo: guardando e gastando os recursos recebidos com cuidado e em setores estratégicos. Isso, aliado ao fortalecimento de um sistema bancário que permita poupança interna de grande volume, pode não só ajudar a conter a expansão da aids como também estimular o desenvolvimento econômico e social do país.
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