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Som da periferia

Autor original: Joana Moscatelli

Seção original: Os mais interessantes e ativos projetos do Terceiro Setor






Som da periferia
Divulgação

Desde 1994, a música clássica vem fazendo parte da vida de muitos jovens moradores da Grota do Surucucu, comunidade de baixa renda de São Francisco, em Niterói (RJ). Através da iniciativa do músico e professor Márcio Paes Selles, foi formada neste ano a Orquestra de Cordas da Grota (OCG), composta por crianças e jovens que tocam instrumentos como violino, viola, violoncelo e flauta.

“Nosso objetivo principal é poder oferecer aulas gratuitas de música clássica para crianças e jovens que jamais teriam acesso a esse tipo de aprendizado. Aqueles que se interessarem podem se profissionalizar, tornando-se professores de música e multiplicando em outras comunidades o que aprenderam na Grota”, contou Lenora Pinto Mendes, uma das professoras do projeto e esposa de Selles.

O primeiro contato com a música erudita se dá através da chamada flauta doce, que é utilizada desde o início do século passado em países como Alemanha, França e Inglaterra para musicalização de crianças e jovens. Após as primeiras aulas de flauta, os jovens podem se iniciar no aprendizado do violino, passando a integrar então a Orquestra. Depois disso, começam a ter aulas particulares de violino e a receber aulas de teoria musical.

Ao todo, cerca de 180 crianças e jovens participam do projeto que acaba de ser um dos cinco selecionados no Prêmio Cultural Nota 10, promovido pela Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, pelo Instituto Cultural Cidade Viva e pela Embratel. O prêmio valoriza iniciativas que utilizam a cultura como meio de inclusão social.

Está entre as metas do projeto fazer da arte um meio de expressão, informação e geração de renda para jovens da região da Grota. O sonho é formar jovens comprometidos com a música erudita e "preparados para serem agentes de sua própria transformação". Lenora conta que esse contato com a música tem possibilitado muitas mudanças na vida dos jovens da Grota. "As mentes se abriram, os jovens se tornaram respeitados pelo seu talento e capacidade. Viajaram, conheceram outras cidades, estados e países. Passaram a sonhar com a universidade e com uma vida melhor para eles e suas famílias".

Muitos jovens são preparados para serem professores de música, com aulas de teoria musical no Conservatório de Música do Estado do Rio de Janeiro, reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC). Cursos de percussão, violão, canto coral e cavaquinho são outros itens incluídos no ensino oferecido pelo projeto. Além dos meninos e meninas que moram na Grota, participam jovens de outras comunidades carentes de Niterói.

Essa formação conta com o apoio do Instituto Cooperforte e da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB-Niterói), através do projeto Passaporte do Futuro, que oferece ajuda de custo a esses jovens durante dois anos. Além disso, voluntários na área de psicologia, psicopedagogia e fisioterapia também têm ajudado na formação profissional dos participantes.

O aprendizado já propiciou que os músicos da Orquestra se integrem a outros grupos, até como forma de buscar cada vez mais o reconhecimento de seu talento. É o caso do Negros e Vozes, conjunto vocal formado em 1999, e do Grupo de Flautas da Grota.

Os jovens já são convidados para se apresentarem em casamentos, congressos, recepções e festas. Também tocam em escolas, salas de concerto, teatros e igrejas do Rio e de Niterói. Para o mês de dezembro, estão agendadas apresentações em espaços como o Teatro Carlos Gomes, tradicional teatro do centro do Rio de Janeiro (RJ), e o Sesc de Niterói (RJ).

Joana Moscatelli

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